O Estado de São Paulo (2020-05-22)

(Antfer) #1

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B6 Economia SEXTA-FEIRA, 22 DE MAIO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


l]
BASILIO
JAFET

Marlla Sabino / BRASÍLIA

Deputados federais aprova-
ram ontem, durante sessão do
Congresso Nacional, projeto
de lei que autoriza o governo
federal a contornar a chamada
“regra de ouro” – que impede o
poder público de contrair dívi-
das para pagar salários e cus-
teio dos órgãos.
O placar foi de 451 votos a 1, e
o tema ainda será analisado pe-
los senadores. A sessão do
Congresso é tradicionalmente
feita em conjunto pelos parla-
mentares, mas durante a pan-
demia, as votações vêm sendo
realizadas a distância e em
dois momentos: um para a Câ-
mara e outro para o Senado.
O texto, enviado pelo gover-

no, abre crédito de R$ 343,6 bi-
lhões para a União pagar despe-
sas correntes, como salários e
contas de custeio da máquina
pública. Esse gasto deve ser in-
cluído ainda no Orçamento de
2020.
A regra de ouro é prevista na
Constituição Federal. Quan-
do descumprida sem a autori-
zação do Congresso, os gesto-
res e o presidente da Repúbli-
ca podem ser enquadrados em
crime de responsabilidade.
O relator da matéria, sena-
dor Marcos Rogério (DEM-
RO), alterou o texto enviado
pelo governo ao Legislativo,
mas não mexeu no valor total.

Ele promoveu transferências
de recursos que antes seriam
aplicados em outras ações.
A pedido do Ministério do
Desenvolvimento Regional, o
senador reduziu os recursos
destinados a projetos de inte-
resse social em áreas urbanas
e rurais e destinou os recursos
para ações habitacionais.
“Conforme apontado pelo
Ministério do Desenvolvimen-
to Regional, esse ajuste vai per-
mitir a retomada de cerca de
10 mil obras paralisadas, com
consequente geração de apro-
ximadamente 20 mil empre-
gos. Se não ocorrer essa mu-
dança, haverá interrupção na
cadeia produtiva habitacio-
nal, até que se realize o ajuste
operacional necessário”, escla-
receu o relator da matéria em
seu parecer.
O senador também mudou a
destinação de dinheiro que,
originalmente, seria contribui-
ção voluntária para conven-
ção sobre o controle do uso do
tabaco. O encontro internacio-
nal, programado para este
ano, foi adiado para novembro
de 2021.
Diante da pandemia do no-
vo coronavírus, o relator deci-
diu enviar os recursos para a
Fundação Oswaldo Cruz (Fio-
cruz) aplicar em pesquisas, de-
senvolvimento tecnológico e
inovação em saúde.

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


E


ra janeiro de 2013, quando co-
meçamos a nos familiarizar
com a expressão “novo nor-
mal”. Foi assim que Mohamed A. El-
Erian, conselheiro econômico-chefe
da seguradora Allianz, uma das vozes
mais respeitadas do mercado finan-
ceiro global, diferenciou o ambiente
econômico mundial antes e depois
da crise de 2008/2009.
No “velho normal”, houve forte ex-
pansão do crédito, menor interven-
ção estatal na economia, altas taxas
de retorno e o consumo como pilar
do crescimento. Depois ocorreu o
oposto, com maior presença do Esta-
do na economia, crescimento basea-

do na produtividade e no investimento.
No “novo normal”, o Brasil teria de ex-
pandir sua economia por meio de maior
competitividade, menores gastos de
custeio, mais foco em parcerias públi-
co-privadas, menos juros e melhores
condições de financiamento.
E hoje, com a pandemia, o que será
normal? Segundo El-Erian, o maior ris-
co econômico atual não é a recessão que
será causada pela covid-19, mas a repeti-
ção de antigos erros na organização de
políticas globais após a crise de 2008. A
batalha contra a depressão global foi
vencida, mas não se garantiu um ritmo
de crescimento rápido, sustentável e,
principalmente, inclusivo.
Faltou, como continua faltando, uma
resposta globalmente coordenada, o
que aprofundou o sentimento antigloba-
lização, que já vinha aumentando nos
últimos anos. Um antagonismo que tam-

bém verificamos em âmbito nacional,
com União e Estados adotando atitudes
divergentes para conter a velocidade da
contaminação. Isso está colocando o
Brasil contra o mundo e deverá dificul-
tar o investimento externo em parce-
rias, concessões, privatizações, etc.
A análise desta e demais circunstân-
cias nos leva a concluir que não teremos
um “novo normal”, mas sim um novo
anormal. A vida que conhecemos não
voltará. As relações humanas se acomo-
darão ao maior distanciamento, mesmo
superada a pandemia. A reativação da
economia será gradual, com idas e vin-
das adiando a organização da cadeia pro-
dutiva. O desemprego aumentará sobre-
maneira, a mão de obra contratada será
para um mundo muito mais digital e
uma crise social vai mostrar suas garras.
Veremos o consumo diminuir, as em-
presas e os investimentos se retraírem,

os serviços perderem vigor, o mercado
financeiro sofrer oscilações perigosas e
a carga de impostos (e de casuísmos)
aumentar com intensidade cada vez
maior.
Na indústria imobiliária, o segmento
residencial deverá ser menos afetado, já
que as pessoas valorizarão mais sua mo-
radia. Já o segmento de imóveis corpora-
tivos e varejo terá o impacto do home
office e das compras virtuais.
É nesse ambiente anormal que conti-
nuaremos lutando para manter nossas
atividades em pleno funcionamento. O
bom e velho preservar o caixa, agora à
custa de mais sacrifícios, deve se aliar a
inéditos modelos de empreendimento,
venda e construção. E quem não se pla-
nejar para esta nova realidade não vai
sobreviver. Simples assim.
Para que a economia volte a crescer, o
governo está sendo obrigado a prestar
socorro das mais diversas formas, apro-
fundando o endividamento. O precioso
colchão de reservas em moeda forte do
Brasil, que impediu uma crise cambial

em 2014, será depauperado.
Evidencia-se que o governo só po-
derá cumprir suas obrigações se co-
meçar a fazer agora o que já deveria
ter feito: uma reforma administrati-
va para reduzir o tamanho do Estado
e poupar alguns dos muitos bilhões
consumidos pela máquina pública.
Não há mais como adiar. É o futuro
de nosso país e de nossas famílias que
está em jogo. É a opção de uma econo-
mia mais liberal e menos estatal que
está em jogo. É a preservação da de-
mocracia que está em jogo. E é o risco
do retorno de um rosário de mazelas
que não queremos voltar a rezar.
Como sempre, o resiliente setor
produtivo nacional está determina-
do a administrar o novo anormal e
apoiar a recuperação econômica pós-
pandemia. Mas, sem a contrapartida
da reforma administrativa, nenhum
esforço será suficiente.

]
PRESIDENTE DO SECOVI-SP

lMudanças

Texto libera crédito de
R$ 343,6 bi para União
pagar despesas correntes
o que, em situações
normais, não é permitido

Aprovado na Câmara


projeto que dribla


‘regra de ouro’


Votação. Foram 451 votos a favor e 1 contra; texto agora terá de passar pelo Senado

Lorenna Rodrigues / BRASÍLIA


A arrecadação de impostos,
contribuições e demais recei-
tas federais registrou queda
real (descontada a inflação)
de 28,95% em abril, ante o
mesmo mês do ano passado,
e somou R$ 101,154 bilhões, in-
formou ontem a Secretaria
da Receita Federal.
Em abril de 2019, a arrecada-
ção havia somado R$ 142,365 bi-
lhões. De acordo com dados da
Receita Federal, o resultado de


abril deste ano também foi o
pior para o mês desde 2006,
quando somou R$ 94,505 bi-
lhões – ou seja, em 14 anos. Os
valores foram corrigidos pela in-
flação.
O resultado da arrecadação,
em abril, já reflete os efeitos da
crise do coronavírus na econo-
mia. Com o nível de atividade
em queda, recua também o reco-
lhimento de tributos. Além dis-
so, o governo federal fez altera-
ções no prazo de recolhimento
de impostos e ainda reduziu al-

guns tributos. As mudanças vi-
sam a justamente combater os
efeitos da pandemia na econo-
mia brasileira.
No início do mês, o governo
zerou a alíquota do Imposto so-
bre Operações Financeiras
(IOF), o que representou uma
renúncia de R$ 1,567 bilhão, de
acordo com a Receita Federal.
O governo também desonerou
a cobrança de Imposto sobre
Produtos Industrializados (I-
PI) para bens relacionados ao
combate à covid-19, o que repre-

sentou uma perda de arrecada-
ção de R$ 104 milhões.
No total, as desonerações
concedidas pelo governo resul-
taram em renúncia fiscal de R$
34,995 bilhões entre janeiro e
abril deste ano, valor maior do
que em igual período do ano pas-
sado, quando ficou em R$
32,159 bilhões. Apenas no mês
de abril, as desonerações totali-
zaram R$ 9,963 bilhões, tam-
bém acima do mesmo período
de 2019 (R$ 8,079 bilhões).
“O resultado tanto do mês

quanto do período acumulado
(quatro primeiros meses do ano)
foi bastante influenciado pelos
diversos diferimentos decorren-
tes da pandemia de coronaví-
rus. Os diferimentos somaram,
aproximadamente, R$ 35 bi-
lhões”, informou a Receita.
No acumulado dos quatro pri-
meiros meses deste ano, ainda
de acordo com a Receita Fede-
ral, a arrecadação somou R$
502,293 bilhões, com queda real
de 7,45% ante o mesmo período
do ano passado. Segundo o ór-

gão, esse foi o pior resultado,
para o período, desde 2017,
quando somou R$ 495,024 bi-
lhões. Os valores foram corrigi-
dos pela inflação.
O comportamento da arreca-
dação, normalmente, é um indi-
cador importante porque mos-
tra se o governo está no cami-
nho do cumprimento da meta
fiscal anual. Antes da pande-
mia, este ano, o governo tinha
de atingir uma meta de déficit
primário de até R$ 124,1 bi-
lhões.

Coronavírus fará setor de veículos retroceder 15 anos no País, diz presidente da FCA. Pág. B8}


LEILÕES

LEILÃO DE ARTE
O Leiloeiro Oficial Aloisio Cravo,
Jucesp 387, comunica que reali-
zará Leilão de Arte em 28/5/
2020, às 20 horas, R: Groenlân-
dia, 1897 SP-SP (11)3088-


COMUNICADOS
COMUNICADO
Conforme artigo 482 letra I da CLT,
convocamos Talita Raflezia Felix,
portadora da CTPS 086087, Série
00403-SP, a retornar ao trabalho
imediatamente ou apresentar jus-
tificativa para faltas continuadas,
desde 06/03/18. Caso não com-
pareça, será caracterizado Aban-
dono de Emprego. (ACADEMIA SP
ATIVIDADE FITNESS LTDA)


JAZIGO

JAZIGO PQ. MORUMBI
C/ 3 gavetas, Área privilegiada do
cemitério, próximo ao estaciona-
mento. R$25mil. Aceito proposta.
41)3068-6910/41)99989-


Classificados.


JornaldoCarro Imóveis Oportunidades&Leilões Carreiras&Empregos

CLASSIFICADOS ESTADÃO
OPORTUNIDADES E LEILÕES.

VOCÊ SEMPRE ACHA
O QUE PROCURA.

VOCÊ SEMPRE VENDE
O QUE ANUNCIA.

LIGUE E ANUNCIE:

SÃO PAULO CAPITAL

3855 2001


OUTRAS CIDADES

0800 055 2001


ICQC 2020-

Prepare-se para o ‘novo anormal’


Opinião


MARYANNA OLIVEIRA/AGENCIA CAMARA –21/5/

“Esse ajuste (em projetos em
áreas urbanas e rurais) vai
permitir a retomada de
cerca de 10 mil obras
paralisadas.”
Marcos Rogério(DEM-GO)
SENADOR RELATOR DO DA MATÉRIA

Arrecadação tem pior abril desde 2006


Queda de 28,95% em relação ao mesmo período do ano passado já reflete os efeitos da pandemia do novo coronavírus na economia

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