O Estado de São Paulo (2020-05-25)

(Antfer) #1

%HermesFileInfo:B-7:20200525:
O ESTADO DE S. PAULO SEGUNDA-FEIRA, 25 DE MAIO DE 2020 Economia B7


I


magine um enorme navio carregado com milhares de
toneladas de minério de ferro ou um superpetroleiro
naufragando no litoral brasileiro, próximo de praias
com intensa dependência do turismo e variada flora e fau-
na marinha.
É claro, o naufrágio aconteceria em capítulos, como uma
novela, com a emoção subindo na medida que as tentati-
vas de resgate da embarcação e da contenção do vazamen-
to da carga para o mar vão se sucedendo e dando errado.
O navio faz que vai, mas não vai, se estabiliza, aderna, esta-
biliza de novo, o mar engrossa e ele volta a adernar, a proa
afunda, conseguem estabilizar, até que, afinal, depois de
vários dias de luta, os encarregados encerram a missão,
enquanto a enorme embarcação quebra no meio e afunda,
liberando milhares de toneladas de material poluidor, que
se espalhará por centenas de milhas em volta, atingindo a
vida marinha, destruindo delicados ecossistemas, toman-
do as praias na maré alta, para ficar depois depositado na
areia, como as manchas no pelo de um cachorro dálmata.
A carga pertence a uma determinada companhia, foi ex-
portada por outra e uma terceira é a proprietária do navio.
Se o acidente envolvesse uma relação de consumo, as três,
em conjunto ou separadamente, poderiam ser acionadas
para indenizar os prejuízos. E é aqui que surge a primeira
dificuldade para tipificar os fatos: a operação inteira e o
acidente poderiam ser entendidos como uma relação de
consumo? Se sim, com que base? Se não, quais as outras
consequências e responsabilizações?
O acidente tem data e hora, as causas estão identifica-
das, os danos são indiscutíveis, sua origem é clara e insofis-
mável e os envolvidos têm endereço certo e sabido. E ago-
ra, qual o próximo passo?
Com certeza haveria um longo processo para a identifi-
cação exata dos danos e dimensionamento dos prejuízos
ambientais. O que foi atingido, em que área, quais as amea-
ças à flora e à fauna? Quais os danos ao fundo do mar, ao
litoral, às praias e costeiras? Quais os prejuízos, separada-
mente, ao meio ambiente e à atividade econômica? Qual o
prejuízo total?
Se tomarmos os exemplos do naufrágio do petroleiro Ex-
xon Valdez e da plataforma de petróleo da BP no Golfo do
México, estaremos falando de dezenas de bilhões de dóla-
res entre salvamento, limpeza, prejuízos ambientais e mul-
tas. Além deles, temos os prejuízos decorrentes da interrup-
ção ou redução das atividades humanas em função do aci-
dente, que também devem atingir valores significativos.
O fato direto causador do dano é o naufrágio e, em prin-
cípio, com base nisto, a responsabilidade pelos danos seria
da operadora do navio. Mas será que o naufrágio é o ponto
zero, de onde se originam as demais responsabilidades en-
volvidas? Será que o começo de tudo não seria o interesse
da proprietária da carga (minério ou petróleo) exportar
seu produto?
Não foi ela que iniciou a operação, contratando empresa
de sua confiança para fazer a exportação? Não foi essa rela-
ção que resultou na contratação do navio para transportar
a carga até o porto de destino?
Sob esta ótica, não há como se pretender transferir a res-
ponsabilidade integral pelos danos ao operador do navio
porque eles são decorrentes do naufrágio. Antes disto, os
danos aconteceram porque o proprietário da carga embar-
cada decidiu exportá-la. Se não houvesse a exportação não
haveria a contratação da firma exportadora, nem a contra-
tação da firma de navegação, nem o transporte e, conse-
quentemente, o navio não naufragaria e não haveria a po-
luição gerada pelo derrame da carga, com todos os prejuí-
zos daí resultantes.
Se aplicássemos as regras do seguro para cargas perigo-
sas, a responsabilidade do dono da carga seria automatica-
mente reconhecida. Afinal, é ele quem contrata este tipo
de apólice. E ele só o faz porque, legalmente, ele é o res-
ponsável pelos prejuízos decorrentes de um acidente en-
volvendo os produtos de sua propriedade.
No caso do naufrágio, não seria muito diferente. O pro-
prietário da carga seria certamente responsabilizado pelos
prejuízos causados pelo acidente e sua apólice de respon-
sabilidade civil poderia ser acionada para que sua segura-
dora assumisse as perdas, nos limites do contrato.

]
SÓCIO DE PENTEADO MENDONÇA E CHAR ADVOCACIA E
SECRETÁRIO-GERAL DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS

l]
LEANDRO
MIRANDA

C


ada vez mais países
abrem ou preparam-
se para abrir a sua eco-
nomia paulatinamente. O
mundo quer voltar a girar,
ser produtivo, ser livre. Mas
o mundo não é mais o mes-
mo de alguns meses atrás e
deverá transformar-se ainda
mais nos próximos meses até
estar pleno novamente.
Naturalmente, questiona-
mentos fundamentais sur-
gem. Como já foram e serão
ainda mais afetados os hábi-
tos sociais, de consumo e de
investimento? Como foram
e serão ainda mais afetados a
renda e até mesmo o empre-

go? Como está e estará a saúde
financeira e os negócios das em-
presas? Algumas empresas se
fortaleceram, outras se enfra-
queceram, outras morreram e
outras novas surgiram e essa di-
nâmica deverá acentuar-se um
pouco mais antes de começar o
processo de recuperação. Pro-
cesso evolutivo típico.
Mas quem serão os vencedo-
res, aqueles que sairão mais for-
tes e melhor adaptados? Quem
serão os novos líderes políticos,
empresariais, banqueiros e so-
ciais? Quem serão aqueles que
terão a visão, trarão aspiração,
inspiração, transpiração e lide-
rarão nossos países, empresas,
bancos, seus colaboradores e co-
munidades? Muito provavel-
mente, não serão aqueles
cheios de certezas, convicções
porque o que estamos vivendo é

inédito e repleto de incertezas e
novas tendências. Também não
serão os egocêntricos porque os
novos líderes trabalharão para
os que precisam dele, serão fer-
ramentais para aqueles que pre-
cisam deles. Também não serão
os hierárquicos, centralizado-
res porque são lentos e a dança
das cadeiras já começou numa
velocidade estonteante. E não
serão aqueles individualistas
que tendem a resolver tudo sozi-
nho porque ninguém sozinho te-
rá todas as respostas.
Os novos líderes serão agrega-
dores, terão a habilidade de esco-
lher times complementares
com pontos de vista diferentes
porque o ponto de vista é a vista
a partir de um ponto e todos se-
rão necessários para interpretar
os novos tempos, serão humil-
des para escutar atentamente
muitas opiniões díspares, serão
serenos para avaliar e tomar as
melhores decisões e horizontais
para serem rápidos na execução.
Os novos líderes precisarão
ser empáticos para conseguir se
colocar na posição dos diversos
tipos de colaboradores e de
clientes e fazer com que se enga-
jem pelo propósito e pela identi-

ficação de princípios e va-
lores, pelo mesmo DNA
de alguém que se importa.
Essa nova liderança será
exercida através do que
chamo de Gestão Partici-
pativa onde todos os stake-
holders são não só o fim,
mas o meio e também a ori-
gem das decisões. As rela-
ções serão esféricas. Já
que não sabemos o que
nos espera, como diria
Bruce Lee, sejamos como
água. “Não se coloque den-
tro de uma forma, se adap-
te e construa a sua pró-
pria, e deixe-a expandir,
como água. Se colocar-
mos a água num copo, ela
se torna o copo; se a colo-
car numa garrafa, ela se
torna a garrafa. A água po-
de fluir ou colidir. Seja
água, meu amigo”.

]
RESPONSÁVEL PELA ÁGORA
INVESTIMENTOS E DIRETOR
EXECUTIVO E DE RELAÇÕES
COM INVESTIDORES DO BRA-
DESCO MIRAN-
DA.LEANDRO@BRADES-
CO.COM.BR

Responsabilidade


civil e seguro


ENTREVISTA

Como se moldar


à nova economia


após a covid-19?


Artigo


l]
ANTONIO PENTEADO
MENDONÇA

Valéria Bretas

Para Walter Maciel, presiden-
te da gestora AZ Quest, uma jo-
int venture entre a brasileira
Quest Investimentos e o italia-
no Grupo Azimut, o mercado
de capitais será o maior benefi-
ciado pelo cenário pós-pande-
mia de coronavírus. Ainda que
os planos de crescimento eco-
nômico tenham sido frustra-
dos, ele diz que o investidor
tem reagido bem ao ambiente
de juros baixos e já entende
que agora é necessário tomar
mais risco pensando em um
horizonte de longo prazo. “Já
enfrentamos mensalão, crise fi-
nanceira internacional, protes-
tos populares e impeachment.
Bons gestores conseguem en-
tregar retornos de longo pra-
zo, independente de o ambien-
te ser bom ou ruim”, diz Ma-
ciel, que está à frente da gesto-
ra que detém R$ 16 bilhões em
ativos sob gestão em 27 fun-
dos abertos de investimentos.

Quem deve se sair melhor da
pandemia?
Os Estados Unidos. Já ficou
provado que apesar de toda a
disputa geopolítica, o governo
americano controla a máquina
de imprimir o dólar. Se você
tem a moeda mais forte do
mundo, a dívida nova que você
emite é dívida de todos que
querem comprá-la para se pro-
teger. Além disso, vale lembrar
que todas as reformas que o
Brasil quer fazer por aqui, os
americanos já fizeram. A Chi-

na tem como se sair bem no
ano que vem porque não fez
grandes estímulos econômi-
cos, não se endividou e as ativi-
dades já foram retomadas.

E onde o sr. coloca o Brasil nes-
sa história?
Estamos atrás porque ainda
não há clareza sobre o desen-
volvimento da doença por
aqui. Além disso, a confusão
política traz o fator de incerte-
za que atrasa esse processo.
Então a política deve ditar o rit-
mo de recuperação?
É evidente que qualquer redu-
ção de incerteza é positiva pa-
ra o mercado. O Brasil precisa
usar esse momento para unir
esforços entre as esferas do
Executivo, Legislativo e Judi-

ciário e promover uma conti-
nuidade no processo de refor-
mas. Com uma entrega ousa-
da, o ambiente certamente seria
mais atraente para investimento
estrangeiro no País.

Quando a aversão ao risco dimi-
nuir, o ambiente de juro baixo
ajudará a aumentar o número
de investidores na bolsa de va-
lores?
Sem dúvida. Juros a 3% no Brasil
são muito mais traumáticos do
que 0% no exterior. Como o pa-
tamar dos últimos anos foi alto,
o juro atual vai trazer uma mu-
dança radical no planejamento
dos investimentos. Já é uma ten-
dência ver as pessoas tomando
um pouco mais de risco para ter
um retorno maior.

Quais setores se beneficiam
na hora da retomada?
O fato é que as barreiras sani-
tárias vão se elevar, os peque-
nos produtores de proteínas
devem sofrer, podem fechar
as portas e haverá um choque
positivo para o setor. Gosta-
mos dos papéis de JBS, Mar-
frig e outros players desse seg-
mento no Brasil. Como as
compras estão migrando para
a internet, também haverá
uma tendência forte no e-
commerce. Magazine Luiza,
por exemplo, salta aos olhos
como uma das vencedoras da-
qui para frente.

Qual é o cenário que o sr. vis-
lumbra para o pós-crise?
O mercado de capitais vai ser
o grande ganhador disso tu-
do. Primeiro porque houve to-
do o processo de digitalização
e as empresas perceberam
que é possível trabalhar e in-
vestir mesmo à distância.
Além disso, a situação mos-
trou a importância de pensar
em um horizonte de longo
prazo. O investidor já está
olhando para frente e sabe
que precisa ter uma carteira
equilibrada e com diversos ati-
vos. Esse vai ser um trabalho
cada vez mais difícil, porém
necessário.

E como dar acesso para es-
se investidor?
O desafio é disponibilizar os
produtos para todos e em dife-
rentes plataformas. Tanto pa-
ra os bancos, como para as pla-
taformas digitais e os gestores
independentes, essa crise ace-
lerou o processo de colocar
mais dinheiro em ativos de ris-
co. Da nossa parte, já temos
27 fundos aberto ao público
geral.

Mesmo em um momento de
crise, a AZ Quest planeja lan-
çar um novo fundo?
Sim, temos um fundo de crédi-
to privado saindo do forno.
Ainda não posso dar os deta-
lhes, mas a ideia é ter um pro-
duto de alta volatilidade, com
prazo mais longo de resgate e
que traga um retorno alto pa-
ra o investidor.

Artigo


LEONARDO RODRIGUES

Ativos. Maciele stá à frente da gestora que detém R$ 16 bi

‘O mercado de capitais vai


ser o grande ganhador’


Executivo acredita que
o brasileiro passou a
refletir sobre a formação
de sua poupança de lon-
go prazo na pandemia

Walter Maciel, presidente executivo da AZ Quest

mercados


US$ 1/NY1 Euro/EuropaLondres1 Libra/ BrasilR$ 1/
Dólar americano 1,000 1,0901 1,2169 0,1807
Euro 0,917 1,0000 1,1164 0,1657
Franco suíço 0,971 1,0590 1,1821 0,1755
Libra esterlina 0,822 0,8957 1,0000 0,1484
Iene 107,611 117,3020130,9520 19,4410

Venc. Aju. C. Abe. Min. Máx.Var.%
Açúcar NY*JUL/20 10,93 306.608 10,66 11,00 -0,46
Café NY* SET/20 105,20 50.358 104,05 106,70 -1,03
Soja CBOT**JUL/20 8,333 315.642 8,2858,395 -0,21
Milho CBOT**SET/203,23263.182 3,2083,238-0,08

AS MOEDAS NA VERTICAL:VALOR DE COMPRA SOBRE AS DEMAIS FONTE: IDC

Trabalhador assalariado e doméstica*
SALÁRIO DE CONTRIBUIÇÃO ALÍQUOTA
Até R$ 1.045,00 7,5%
De 1.045,01 até R$ 2.089,60 9%
De R$ 2.089,61 até R$ 3.134,40 12%
De R$ 3.134,41 até R$ 6.101,061 14%

Maiores altas do Ibovespa INSS - Competência (Maio)
R$ Var. % Neg.
ELETROBRAS ON N1 25,41 7,67 24.692
ELETROBRAS PNB N1 27,82 5,14 24.346
SABESP ON NM 44,17 4,22 22.566


Maiores baixas do Ibovespa
CIA HERING ON NM 12,90 -9,09 21.090
COGNA ON ON NM 4,30 -8,51 68.589
LOJAS RENNERON 37,37 -8,34 54.159


No mundo Pontos Dia%Mês% Ano%

(^1) Nova York DJIA 24.465,16 -0,040,49-14,27
(^1) Frankfurt - DAX 11.073,87 0,07 1,95-16,42
(^1) Londres - FTSE 5.993,28 -0,37 1,56-20,54
(^1) Tóquio - NIKKEI 20.388,16 -0,80 0,96-13,82
IBOVESPA: 82.173,21 PONTOS 1 DIA -1,03 (%) MÊS 2,07 (%) ANO -28,94 (%)
Tesouro Direto ()
Venda Dia % Mês % Ano %
Dólar Comercial 5,5797 -0,04 2,59 39,08
Dólar Turismo 5,7270 -0,05 2,58 37,67
Euro 6,0830 -0,46 2,12 35,36
Ouro 315,000 -0,63 6,64 55,44
WTI US$/barril 33,4600 -1,30 75,64 -45,46
IBrentUS$/barril 35,2600 -0,63 32,51 -46,58
IGP-M (FGV) 1,0668 IPCA (IBGE)1,0240
IGP-DI (FGV) 1,0610 INPC (IBGE)1,0246
IPC-FIPE 1,0261 ICV-DIEESE -
FATORES VÁLIDOS PARA CONTRATOS CUJO ÚLTIMO REAJUSTE OCOR-
REU HÁ UM ANO. MULTIPLIQUE O VALOR PELO FATOR
DATA TAXA ANOTAXA DIA MÊS% ANO%
CDB (20/31) 2,73 -0,36 -13,61 -38,10
CDI 2,90 0,00 -20,55 -34,09
TR/TBF/Poupança/Poupança Selic (%) CDB - CDI
19/5 a 19/6 0,0000 0,2253 0,5000 0,1733
20/5 a 20/6 0,0000 0,2251 0,5000 0,1733
21/5 a 21/6 0,0000 0,2135 0,5000 0,1733
Índice Março Abril No ano12 Meses
INPC (IBGE) 0,18 -0,23 0,31 2,46
IGPM (FGV) 1,24 0,80 2,50 6,68
IGP-DI (FGV) 1,64 0,05 1,80 6,10
IPC (FIPE) 0,10 -0,30 0,19 2,61
IPCA (IBGE) 0,07 -0,31 0,22 2,40
CUB (Sinduscon) 0,09 -0,41 0,02 3,07
FIPEZAP-SP (FIPE) 0,29 0,21 0,99 2,26
Inflação (%) Moedas e Commodities
AUTÔNOMO (BASE EM R$) ALÍQUOTA A PAGAR (R$)
De 1.039,00 a 6.101,06 20% De 207,80 a 1.220,21
Vencimento 7/6. O porcentual de multa a ser aplicado fica
limitado a 20%, mais taxa Selic.
Agrícolas - Mercado Futuro
VENCIMENTO (
)ANO (%) R$
Tesouro IPCA 15/8/2026 3,08 2.731,31
15/5/2035 4,31 1.757,05
Com Juros Semestrais 15/8/2030 3,72 3.976,04
Tesouro Prefixado 1º/1/2023 4,56 890,40
1º/1/2026 6,94 686,62
Tesouro Selic 1º/3/2025 0,0310.609,63
()TÍTULOS A VENDA
VALORES DE MERCADO REFERENTES AO PREGÃO DE 22/05/2020
Agrícolas - Mercado Físico
Índices de reajuste do aluguel (Maio)
(
) Em cents por libra-peso (**) Em US$ por bushel
Ult. Var. (%)Var. 1 ano(%)
SojaCEPEA/ESALQ, R$/sc 60 kg 109,84 -1,64 37,42
BoiCEPEA/ESALQ, R$/@ 203,55 0,76 34,76
MilhoCEPEA/ESALQ, R$/sc 60 kg 50,49 -0,03 41,47
CaféCEPEA/ESALQ, R$/sc 60 kg 568,90 -1,09 46,45

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