O Estado de São Paulo (2020-05-28)

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A4 QUINTA-FEIRA, 28 DE MAIO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


COLUNA DO


ESTADÃO


Política


»SINAIS


PARTICULARES.
Paulo Marinho,
empresário

»Ops. Assim como o pro-
curador-geral da República,
Augusto Aras, mudou de
opinião sobre o inquérito
do STF que investiga fake
news contra a Corte, sena-
dores temem que o mesmo
aconteça com Davi.

»Vai que vai. Autor do pro-
jeto, o senador Alessandro
Vieira (Cidadania-SE) está
confiante de que será anali-
sado na próxima semana.
Ele, aliás, foi alvo de ata-
ques de Olavo de Carvalho
por causa do texto.

»Como será? Na Câmara,
o projeto é visto como um
teste para o Centrão de-
monstrar o grau de fidelida-
de ao governo. Integrantes
do grupo, no entanto, afir-
mam ainda não haver uma
posição majoritária sobre o
tema. O Planalto tampouco
elaborou posição.

»Mais um... Os seis deputa-
dos do PSL alvos do inquéri-
to de fake news na Corte te-
rão mais um processo para
se preocupar: ao menos uma
representação foi apresenta-
da contra eles no partido.

»...pra conta. Uma filiada
de SP pede à Comissão de
Ética a expulsão dos parla-
mentares por supostamente
serem “disseminadores de
fake news”. Eles já enfren-
tam outras ações similares.

»Daria... O empresário
Paulo Marinho apareceu na
Polícia Federal para depor
com a frase bíblica favorita
do presidente estampada
num envelope: “Conhece-
reis a verdade, e a verdade
vos libertará”.

»...um filme. Quem conhe-
ce Marinho explica o gesto:
trata-se de um jogo de si-
nais na linha “eu sei o que
você fez no verão passado”.
Bolsonaro, na semana passa-
da, deu uma coletiva usan-
do um casaco que o empre-
sário deu de presente a ele.

»Ficha... A Polícia Civil de
SP identificou o suspeito
de ameaçar de morte a João
Doria e de extorsão à pri-
meira-dama Bia Doria.

»...corrida. Em uma rede
social, o criminoso disse
que o assassinato do gover-
nador teria sido encomen-
dado pelo PCC por uma
quantia de R$ 3 milhões.
Ele pediu a Bia R$ 5 mi-
lhões para que não houves-
se o crime anunciado.

»Quem é. Investigações
apontam Hércules Cordeiro
Torres como autor das men-
sagens. Ele foi preso no in-
terior de Pernambuco por
ter extorquido dinheiro de
ex-governador da Paraíba.

»Novas... Foi acertado, em
reunião entre Bruno Covas
(PSDB) e o presidente da
Câmara de São Paulo,
Eduardo Tuma (PSDB),
que a Câmara Municipal
será a interlocutora da so-
ciedade civil para a defini-
ção dos protocolos sanitá-
rios que nortearão a retoma-
da das atividades na capital.

»...regras. O prefeito de
SP já afirmou que a reaber-
tura da cidade durante a
pandemia dependerá desse
novo protocolo. Vereadores
farão o meio de campo.

COM MARIANNA HOLANDA.

C


om os trabalhos da CPI mista de Fake News suspen-
sos por causa da pandemia, parlamentares apos-
tam em um projeto de lei que, entre outros pontos,
também responsabiliza as plataformas digitais pela disse-
minação de informações falsas, para avançar com o tema
no Congresso. Líderes acertaram votá-lo na próxima ter-
ça, mas alguns temem que o governo pressione Davi Alco-
lumbre (DEM-AP) a segurar a análise. Na cúpula da Câma-
ra, a avaliação é de que há votos suficientes para aprovar o
projeto, porém, a atuação do Centrão será determinante.

Sem CPI, projeto vira


resposta a fake news


MARIANA HAUBERT (INTERINA*)
TWITTER: @COLUNADOESTADAO
[email protected]
POLITICA.ESTADAO.COM.BR/BLOGS/COLUNA-DO-ESTADAO/

KLEBER SALES/ESTADÃO

STF determina operação


contra alvos bolsonaristas


Investigação. Em ação ordenada pelo ministro Alexandre de Moraes no inquérito das fake


news, PF faz buscas e apreensões e convoca para depor deputados aliados do presidente


BRASÍLIA
SÃO PAULO

O Supremo Tribunal Federal
(STF) fechou o cerco contra o
chamado “gabinete do ódio”,
grupo de assessores do Palá-
cio do Planalto comandado
pelo vereador Carlos Bolsona-
ro (Republicanos-PR), filho
do presidente Jair Bolsonaro.
Em uma operação determina-
da pelo ministro Alexandre
de Moraes, relator do polêmi-
co inquérito das fake news, a
Polícia Federal apreendeu on-
tem documentos, computado-
res e celulares em endereços
de 17 pessoas suspeitas de in-
tegrar uma rede de ataques a
integrantes da Corte e convo-
cou oito deputados bolsona-
ristas a depor. Considerada
“abusiva” pelo Palácio do Pla-
nalto, a ação da PF estreme-
ceu ainda mais a relação en-
tre magistrados e o Palácio do
Planalto, que avalia um con-
tra-ataque.
No despacho que ordenou a
operação, Moraes definiu o gabi-
nete do ódio como “associação
criminosa”, mas não incluiu Car-
los ou seus fiéis aliados do Palá-
cio do Planalto como alvo da
operação de ontem, apenas alia-
dos próximos, como o blogueiro
Allan dos Santos, do site bolso-
narista Terça Livre. As referên-
cias ao grupo, no entanto, indi-
cam que eles podem ser alvo nu-
ma fase futura da investigação.
O ministro apontou ainda in-
dícios de que empresários finan-
ciam de forma velada a dissemi-
nação de fake news e conteúdo
de ódio contra integrantes do

STF e outras instituições, como
revelou o Estadão em março
deste ano. Segundo Moraes, há
“fortes indícios” de que os in-
vestigados cometeram crimes
de calúnia (6 meses a 2 anos de
prisão), difamação (3 meses a 1
ano), injúria (1 a 6 meses), além
de violações previstas na Lei de
Segurança Nacional.
Entre os financiadores do gru-
po criminoso citados pelo minis-
tro do STF estão os empresários
Luciano Hang, da rede de lojas de
departamento Havan, Edgard
Gomes Corona, dono da rede de
academias Smart Fit, Otavio Fak-
houry, sócio do site Crítica Nacio-
nal, o humorista Reynaldo Bian-
chi Júnior e o coordenador do
Bloco Movimento Brasil, Wins-
ton Rodrigues Lima. Eles foram
alvo da operação de ontem (mais
informações na pág. A12).
“Há informações de que os
empresários aqui investigados
integrariam um grupo autode-
nominado de ‘Brasil 200 Empre-
sarial’, em que os participantes
colaboram entre si para impul-
sionar vídeos e materiais con-
tendo ofensas e notícias falsas
com o objetivo de desestabili-
zar as instituições democráti-
cas e a independência dos pode-
res”, escreveu Moraes.
O ministro incluiu na decisão
uma mensagem de Corona em
um grupo do WhatsApp em que
o empresário pede dinheiro para
disseminar publicações nas re-
des sociais. “Temos de impulsio-
nar estes vídeos. Precisamos de
dinheiro pra incestir (sic) em
mkt”, diz o texto da postagem no
grupo ‘Brasil 200 Empresarial’.
O comentário faz referência a ví-

deos contra o presidente da Câ-
mara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Os empresários tiveram seus si-
gilos bancários quebrados (mais
informações nesta página).
O Estadão apurou que al-
guns dos mandados de busca e
apreensão, como o que teve co-
mo alvo o dono da Havan, já es-
tavam programados há dois me-
ses, mas foram adiados por cau-

sa de “vazamentos”. As recen-
tes manifestações pedindo o fe-
chamento do Congresso e do
Supremo, além de intervenção
militar, deram mais combustí-
vel para o inquérito, embora es-
tejam sendo apuradas em outro
procedimento de investigação.
O despacho cita ainda trechos
de depoimentos dos deputados
Joice Hasselmann (PSL-SP) e
Alexandre Frota (PSDB-SP) na
Comissão Parlamentar de In-
quérito das Fake News. Os dois
são ex-aliados de Bolsonaro e es-
miuçaram a atuação do gabine-
te do ódio em reuniões no cole-
giado. “Recaem sobre os indiví-
duos aqui identificados sérias
suspeitas de que integrariam es-
se complexo esquema de disse-
minação de notícias falsas por
intermédio de publicações em
redes sociais, atingindo um pú-
blico diário de milhões de pes-
soas, expondo a perigo de lesão,
com suas notícias ofensivas e
fraudulentas, a independência
dos poderes e o Estado de Direi-
to”, escreveu Moraes.

Parlamentares. A decisão de
Moraes também atingiu seis de-
putados federais e dois estaduais,
incluindo Carla Zambelli (PSL-
SP) e Bia Kicis (PSL-DF), duas
das parlamentares mais próxi-
mas de Bolsonaro. Eles não fo-
ram alvo de mandados de busca e
apreensão, mas o ministro deter-
minou que sejam ouvidos em dez
dias e que suas postagens em re-
des sociais sejam preservadas. /
RAFAEL MORAES MOURA, PATRIK
CAMPOREZ, FAUSTO MACEDO,
PEPITA ORTEGA, PAULO ROBERTO
NETTO, RAYSSA MOTTA E VERA ROSA

A quebra do sigilo bancário e fis-
cal de empresários que apoiam o
presidente Jair Bolsonaro, em de-
cisão do ministro Alexandre de
Moraes, do Supremo Tribunal
Federal, abrange o período entre
julho de 2018 e abril de 2020.

Com essa determinação, as
provas que serão coletadas pe-
los investigadores levam em con-
ta a campanha eleitoral de 2018.
Na avaliação de advogados
eleitorais ouvidos pelo Esta-
dão, as apreensões e apurações
do inquérito das fake news –
que tramita no Supremo – po-
dem influenciar as ações do Tri-
bunal Superior Eleitoral (TSE)
que investigam denúncias de ir-
regularidades na campanha pre-
sidencial de Bolsonaro.
Sob reserva, um ministro do

TSE disse não ter dúvidas de
que o caso vai provocar impac-
to nesses processos.
Ao todo, foram ajuizadas no
TSE 15 ações contra a chapa for-
mada por Bolsonaro e Hamil-
ton Mourão, das quais sete já
foram arquivadas definitiva-
mente. Ainda tramitam outras
oito ações contra a campanha
do presidente, das quais quatro
tratam de disparo de mensa-
gens em massa pelo WhatsApp.
Moraes deve assumir nos próxi-
mos dias uma cadeira de minis-
tro titular do TSE.
O advogado Eugênio Aragão,
ex-ministro de Dilma Rousseff,
disse que vai pedir ao TSE o com-
partilhamento das provas colhi-
das no inquérito das fake news.

O objetivo é usar a documenta-
ção colhida pelo Supremo para
“turbinar” as ações contra a
campanha de Bolsonaro que tra-
mitam na Corte Eleitoral. “É evi-
dente a pertinência entre as ma-
térias tratadas no inquérito e
nas Aijes (ações do TSE que mi-
ram a campanha de Bolsonaro).”
O compartilhamento de pro-
vas do Supremo com o TSE não
seria um movimento inédito. As
ações do TSE que investigaram
suposto abuso de poder político
e econômico na chapa de Dilma
e Michel Temer foram incremen-
tadas com depoimentos de dela-
tores da Odebrecht e do casal de
marqueteiros Mônica Moura e
João Santana. O TSE negou a cas-
sação da chapa. / R.M.M., F.M. e P.O.

Marco Aurélio de Carvalho

Quebra de sigilos inclui


período da eleição de 2018


PRONTO, FALEI!

Aras pede que Corte


suspenda inquérito


sobre fake news


ALBERTO BOMBIG
*O colunista está em férias.

Moraes manda abrir
dados fiscais e bancários
de investigados até abril
deste ano; caso pode
influenciar ações no TSE

GABRIELA BILO/ ESTADAO

Buscas. Policiais federais cumprem mandado de apreensão em residência do blogueiro Allan dos Santos, do site Terça Livre

“É mais que ofender o STF, é ofender uma institui-
ção que tem papel importante na manutenção da de-
mocracia”, sobre ataques de bolsonaristas à Corte.

Advogado

lO procurador-geral da Repúbli-
ca, Augusto Aras, mudou de posi-
ção e pediu ao ministro Edson
Fachin, do Supremo Tribunal Fe-
deral (STF), a suspensão do in-
quérito da fake news. O pedido
veio após apoiadores bolsonaris-
tas terem celulares e computado-
res recolhidos em uma operação
da Polícia Federal ontem.
Desde o início, a investigação
sofreu oposição do Ministério
Público Federal por ter ter sido
iniciada de ofício (sem provoca-
ção de outro órgão) pelo presi-
dente do STF, ministro Dias Toffo-
li. Aras disse que Toffoli, ao deter-
minar a abertura da apuração,
“exerceu regularmente as atribui-
ções que lhe foram concedidas”
pelo Regimento Interno do Su-
premo. Agora, o PGR mudou de
ideia e pediu a suspensão do in-
quérito. No documento, Aras afir-
ma que a PGR foi “surpreendida”
com a operação de ontem.

»CLICK. Arthur Virgílio e
outros prefeitos brasilei-
ros se reuniram virtual-
mente com gestores mu-
nicipais dos EUA para
trocar experiências no
combate à covid-19.

REPRODUÇÃO/INSTAGRAM
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