O Estado de São Paulo (2020-05-31)

(Antfer) #1

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A2 Espaçoaberto DOMINGO, 31 DE MAIO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO






Leonardo Silveira, dono de


uma livraria de Montevidéu,


está otimista com o futuro ago-


ra que o Uruguai inicia uma


reabertura gradual dos negó-


cios, depois que o país mante-


ve um dos níveis mais baixos


da covid-19 na América Lati-


na, no momento em que a re-


gião se torna um epicentro da


pandemia do coronavírus.
A nação sul-americana regis-
trou 789 casos confirmados e
22 mortes, cerca de 23 casos
para cada 100 mil pessoas — o
Brasil tem quase 200 casos pa-
ra cada 100 mil pessoas. Agora,
está reativando a economia.

http://www.estadao.com.br/e/coviduruguai

O


s bacharéis em Direi-
to, no curso da nossa
História, sempre se
destacaram na vanguarda das
lutas cívicas e nativistas, em
prol dos anseios de liberdade
e de democracia do nosso po-
vo. Os estudantes, por seu tur-
no, jamais se ocultaram em sa-
las de aula.
Os acadêmicos das Arcadas
transformaram o pátio e o
púlpito em frente à faculdade,
no território livre do Largo de
São Francisco. Também nas
ruas, nas praças, em todo e
qualquer lugar onde houvesse
pessoas, suas vozes eram ouvi-
das e acatadas.
No final dos anos 30 até
1945, os estudantes pugna-
ram com ardor e denodo pela
queda de Getúlio Vargas, o
que aconteceu nesse mesmo
ano. Primorosos oradores
pregavam a construção de
uma sociedade livre e solidá-
ria com respeito aos direitos
da pessoa humana, à liberda-
de de opinião e às garantias
democráticas. Entre muitos
se destacaram Waldir Tronco-
so Peres, Germinal Feijó e Ar-
robas Martins.
Proclamavam eles, dentre
outras questões, a chocante
contradição da convocação
dos jovens para lutar na Itália
em prol da liberdade, enquan-
to no Brasil ela nos faltava. Fa-
lava-se que a convocação de
estudantes era uma retaliação
contra aqueles que tantos em-
baraços criavam ao governo.
Anualmente, uma festa mo-
bilizava todos os estudantes
da Faculdade de Direito, com
intensa repercussão na socie-
dade paulistana. Era o Baile
das Américas. Em 1943 ele foi
realizado no Hotel Esplanada.
Durante o baile, entre uma
música e outra, eram ouvidos
sonoros “abaixo a ditadura!”.
Oradores de tempo em tem-
po interrompiam as danças e
davam contundentes recados
contra o governo. Em deter-
minado momento houve abso-
luto silêncio, para que uma
quadra fosse recitada: “Oh!
Valente legionário do Corpo Ex-
pedicionário,/ por que vais lutar
a esmo,/ se a luta cruenta e fria

é pela democracia?/ Vamos tra-
vá-la aqui mesmo”.
Tais manifestações provoca-
ram a prisão de vários estu-
dantes, incluída a de Hélio
Mota, presidente do Centro
Acadêmico XI de Agosto.
Nos dias seguintes São Pau-
lo assistiu a uma chocante de-
monstração de truculência po-
licial, comandada pelo secre-
tário de Segurança, Coriolano
de Gois, e executada pelo ma-
jor Anísio Miranda, contra os
acadêmicos de Direito. Três
professores, Luiz Soares de
Melo, Waldemar Ferreira e Er-
nesto Leme, tiveram decreta-
da a sua prisão domiciliar.
A repressão policial conti-
nuou com maior intensida-
de. Na madrugada de 2 de no-
vembro a faculdade foi inva-
dida e numerosos acadêmi-
cos foram presos, literalmen-
te debaixo de cacetadas e de

coronhadas.
Entre os primeiros detidos
estavam Haroldo Santos
Abreu e Waldemar Mariz de
Oliveira Júnior, meu pai. Am-
bos foram agredidos nas cos-
tas e na cabeça. Haroldo, ao
ver a viatura descendo a Rua
do Riachuelo, onde eles fo-
ram detidos, pensou tratar-se
do entregador de pão. Foi
contestado por meu pai, que
disse: “É a polícia, melhor
não correr”. Não tiveram tem-
po sequer de se abrigar na se-
de do Centro Acadêmico.
Talvez como efeito da pan-
cada que levou, Haroldo teve
uma crise não de choro, mas
de riso. Ria sem parar, deixan-
do meu pai em pânico. Os po-
liciais poderiam estar se sen-
tindo alvo de gozação. Sua rea-
ção era imprevisível. Estavam
armados com metralhadoras.
No entanto, nada fizeram. Di-
vertiam-se com a inusitada
conduta do detido.
Nessa madrugada a faculda-
de foi vítima de vandalismo
policial. Quadros, estátuas, li-

vros, móveis e outros bens fo-
ram danificados. Uma pintura
de dom Pedro II foi danifica-
da por um golpe de baioneta.
No dia 9 de novembro os es-
tudantes organizaram uma
grande passeata para verbe-
rar as violências praticadas.
Saíram todos pelo centro da
cidade de São Paulo com uma
mordaça negra a cobrir-lhes a
boca, como símbolo do silên-
cio imposto pelas armas. O
povo nas ruas ia aderindo à
passeata.
O luto que se abateu sobre
toda a academia foi evidencia-
do pelas tarjas negras coloca-
das em vários dos seus espa-
ços externos e internos.
Nas imediações do Largo
de São Francisco a polícia dis-
parou contra os estudantes.
Uma senhora que estava na
porta da igreja e o jovem Jai-
me da Silva Teles, que não
era estudante de Direito, fo-
ram mortos.
Vários estudantes tiveram
ferimentos graves. Dentre
eles, João Brasil Vita carre-
gou durante os seus quase 70
anos seguintes de vida uma
bala alojada no tórax. Ali foi
deixada porque a extração po-
ria sua vida em risco.
Na História do País, essa
não foi a única nem a última
mobilização de estudantes e
da sociedade como um todo
em prol de valores superiores
que informam uma sociedade
que se pretende democrática
e justa.
Os fatos narrados acima e
outros semelhantes, anterio-
res e posteriores a 1943, retra-
tam a reação histórica dos es-
tudantes e da própria socieda-
de sempre que se tornou ne-
cessária, em face do autorita-
rismo instalado ou prestes a
sê-lo e em face do desgover-
no que deixa o povo desnor-
teado, intranquilo, sem rumo
e à beira do caos.
Reagir é preciso, inadmissí-
vel é a inércia, pois ela nos
torna cúmplices. Reação pa-
cífica, na hora precisa. E pare-
ce ser esta a hora.

]
ADVOGADO CRIMINALISTA

Americanos ou residentes
vivendo no país vizinho vol-
tam para tratar doença.

http://www.estadao.com.br/e/fronteira

AMÉRICA DO SUL


Uruguai dá exemplo ao conter covid-


Lista do site inglês Football
365 traz ainda Neymar e Ro-
berto Carlos entre atletas
com fama pouco condizente
com nível de futebol.

http://www.estadao.com.br/e/pele

l“Nunca, na história do Brasil, tivemos um vereador que usa do cargo
do pai para disseminar ‘fake news’ e ainda recebendo dinheiro público.”
MARLON PARANHOS

l“Dinheiro do povo sendo usado para beneficiar políticos. E ainda por
cima para colocar a população contra as instituições democráticas.”
DETINHO DETIN

l“O tal ‘gabinete do ódio’ não existe. Inventaram isso na tentativa de
silenciar vozes conservadoras.”
WALDECI GREG NOGUEIRA

l“Com tantas opções, como elegeram essa gente? Pesquisem sobre
os candidatos antes de votar. Estava na cara que não valiam nada!”
CATARINA CANO

INTERAÇÕES


CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
PRESIDENTE: ROBERTO CRISSIUMA MESQUITA
MEMBROS
FERNANDO C. MESQUITA
FERNÃO LARA MESQUITA
FRANCISCO MESQUITA NETO
GETULIO LUIZ DE ALENCAR
JÚLIO CÉSAR MESQUITA

Nutricionista dá dicas de
como escolher um cardápio
mais saudável durante o pe-
ríodo de isolamento so-
cial.

http://www.estadao.com.br/e/alimentacao

Espaço Aberto


O


s momentos que esta-
mos a viver cá no Bra-
sil, a Terra da Santa

Cruz, levam-me a breve refle-


xão em torno do tema da sepa-


ração entre Legislativo, Execu-


tivo e Judiciário. Separação re-


sultante de tripartição de um


todo. Todo que, no entanto,


não pode ser despedaçado,


pois o Estado é um só, a cha-


mada separação dos Poderes


prestando-se unicamente a


permitir que atue em plena


coerência com os princípios e


regras da democracia.


A pequena frase de Charles


de Gaulle tudo diz: a autorida-


de do Estado é indivisível! Antes


dele, Hegel, ao afirmar que o


Estado distribui sua atividade


entre vários Poderes, porém


de modo que cada um deles


seja, em si mesmo, uma por-


ção da totalidade, de um todo


único. O Estado é uma totali-


dade. Quando se fala da diver-


sidade de eficácia dos Pode-


res, de sua ação e sua eficiên-


cia – diz ele –, é necessário


não incorrermos no erro de


considerar as coisas como se


cada Poder estivesse lá abstra-


tamente, por si próprio. Os


três são momentos do concei-


to de Estado. É primorosa a li-


ção de Carlos Maximiliano ao


afirmar que – como no corpo


do homem – no Estado não


há isolamento de órgãos, mas


especialização de funções.


Permito-me ir além, recor-


rendo ao que Kelsen ensina:


o que se refere sob o nome


de “poder estatal” é a validez


de uma ordem jurídica. Daí


que a ideia de uma partição


dessa validez é absurda, a su-


posição do funcionamento


isolado de três Poderes sen-


do insustentável. Não é possí-


vel supormos que essa trinda-


de – Legislativo, Executivo e


Judiciário – não constitua


uma unidade.


A organização estatal em


funções torna viável, aprimo-


rando-o, seu funcionamento.


O Legislativo produz as leis, o


Executivo as aplica e o Judiciá-


rio decide. Todos como que


vestem um manto de autori-


dade não porque detenham


poderes. Autoridade é o saber


o que se deve fazer, serena-
mente. Os romanos chama-
vam-na de auctoritas. Por isso
todos nós a eles devemos res-
peito e acatamento. Uma das
tarefas primordiais do Estado
moderno é a produção de
uma ordem jurídica que garan-
ta certeza e segurança jurídi-
cas. Sem elas não haverá co-
mo vivermos em liberdade.
Ontem interrompi o que
até este ponto vinha escreven-
do e agora, 24 de maio, leio
no Estadão das minhas ma-
nhãs a primeira das Notas &
Informações, O Estado paralelo
de Bolsonaro. Lá estão afirma-
dos pontos que tenho como
extremamente relevantes, in-
cluído o de que, em reunião
no mês de abril, ministros de-
fenderam a prisão de magis-
trados que, em obediência à
Constituição, tomaram deci-
sões contra o governo. Mais,

investiram contra atos de pre-
feitos e governadores que, se-
guindo recomendações de au-
toridades de saúde, impuse-
ram quarentena contra a pan-
demia de covid-19. Delinquen-
tes seriam os que respeitam a
lei e o bom senso, o que resul-
ta da concepção de que este
ou aquele dos três Poderes
não seria de todo conforma-
do pela Constituição. Um de-
les, o Executivo – pasmem! –
estaria acima de tudo e de to-
dos! O que, na ponta de tudo,
conduz à criação de um Esta-
do paralelo ao Brasil que cá
está onde estamos. Estado pa-
ralelo que investe contra isso
e aquilo, até mesmo contra
governadores que impõem
quarentena em defesa da vida
e ministros do Supremo Tri-
bunal Federal.
Ainda que tudo o que dese-
java afirmar em defesa do Es-
tado Democrático de Direito
lá esteja, na primeira das No-
tas & Informações da edição de
24 de maio do Estadão, en-
quanto e como membro apo-

sentado do Poder Judiciário
insisto em que, se pretender-
mos viver honestamente, con-
tribuindo para o bem de to-
dos, será indispensável acatar-
mos, com dignidade, suas de-
cisões. Não porque elas façam
justiça. Pois é certo que, como
dizia Kelsen e tenho reiterada-
mente repetido, a justiça abso-
luta só pode emanar de uma
autoridade transcendente, só
pode emanar de Deus. Temos
de nos contentar, na Terra,
com alguma justiça simples-
mente relativa, que deve ser
vislumbrada em cada ordem
jurídica positiva e na situação
de paz e segurança por esta
mais ou menos assegurada.
Os juízes são servos da Cons-
tituição e das leis, servos de
um sistema de normas jurídi-
cas que se presta a assegurar
um mínimo de calculabilida-
de e previsibilidade na prática
das relações sociais.
Qualquer insurgência con-
tra essa face do Estado que o
Supremo Tribunal Federal é
afronta a ordem e a paz so-
cial, prenuncia vocação de au-
toritarismo, questiona a de-
mocracia, desmente-a, preten-
de golpeá-la. Por isso é neces-
sário afirmarmos, em alto e
bom som, o quanto de respei-
to e acatamento devemos ao
Poder Judiciário e em espe-
cial, hoje e sempre, ao Supre-
mo Tribunal Federal. Sobretu-
do porque – repito – ele não
surpreende por sua indepen-
dência. O Estado é indivisível.
A soberania popular, força
que o constitui, permite ape-
nas que ele distribua dentro
de si as suas funções. Por
conta disso quaisquer ações
deste ou daquele dos três Po-
deres, avançando sobre ou-
tro, afronta não apenas sua
tripartição, mas a democra-
cia. Ao fim de tudo, se chega-
rem aonde pretendem, sere-
mos vistos como pobres, tris-
tes, coitados habitantes da
Terra da Cruz!

]
ADVOGADO, PROFESSOR TITULAR
APOSENTADO DA FACULDADE
DE DIREITO DA USP, FOI MINISTRO
DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

PUBLICADO DESDE 1875

LUIZ CARLOS MESQUITA (1952-1970)
JOSÉ VIEIRA DE CARVALHO MESQUITA (1947-1988)
JULIO DE MESQUITA NETO (1948-1996)
LUIZ VIEIRA DE CARVALHO MESQUITA (1947-1997)
RUY MESQUITA (1947-2013)

FRANCISCO MESQUITA NETO / DIRETOR PRESIDENTE
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Pelé é o jogador mais


superestimado?


Planejamento ajuda a


melhorar alimentação


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Nova ferramenta do YouTu-
be permite cortar as transmis-
sões em segmentos.

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A tripartição dos Poderes


e a democracia


Qualquer insurgência


contra o STF é afronta à


ordem e à paz social,


prenuncia autoritarismo


Inércia é


cumplicidade


Reagir ao desgoverno é


preciso. Reação pacífica,


na hora precisa. E


parece ser esta a hora


AMÉRICO DE CAMPOS (1875-1884)
FRANCISCO RANGEL PESTANA (1875-1890)
JULIO MESQUITA (1885-1927)
JULIO DE MESQUITA FILHO (1915-1969)
FRANCISCO MESQUITA (1915-1969)

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PREÇOS ASSINATURAS: DE SEGUNDA A DOMINGO


  • SP E GRANDE SÃO PAULO – R$ 134,90/MÊS. DEMAIS
    LOCALIDADES E CONDIÇÕES SOB CONSULTA.
    CARGA TRIBUTÁRIA FEDERAL: 3,65%.


Inquérito das ‘fake


news’ deve chegar ao


‘gabinete do ódio’


Próxima etapa da investigação poderá
mirar grupo de assessores do Planalto
comandado por Carlos Bolsonaro

]
Antônio Cláudio Mariz de Oliveira

QUARENTENA
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