O Estado de São Paulo (2020-06-02)

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O ESTADO DE S. PAULO TERÇA-FEIRA, 2 DE JUNHO DE 2020 Economia B3


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ENTREVISTA


Adriana Fernandes
Lorenna Rodrigues / BRASÍLIA


À frente da interlocução da
equipe econômica com o meio
empresarial, o secretário espe-
cial de Produtividade, Empre-
go e Competitividade do Minis-
tério da Economia, Carlos da
Costa, informa que 90% dos se-
tores econômicos no País já
têm protocolos prontos para o
retorno ao trabalho com a
abertura da economia depois
do isolamento social da pande-
mia da covid-19.
O mapeamento foi feito pe-
lo Ministério da Economia por
meio das entidades representa-
tivas. Os protocolos são orien-
tações sobre como trabalhar
para reduzir a possibilidade de
contato. “O Brasil não parou,
está todo mundo planejando
há algum tempo. Temos de pla-
nejar a retomada para, quando
tivermos o retorno seguro, ter-
mos recomendações. A deci-
são é local, mas vamos defen-
der o que acreditamos, como
atividades essenciais que não
devem parar”, diz.
Em entrevista ao Esta-
dão/Broadcast, o secretário diz
que há chance de o governo
lançar um auxílio de R$ 10 mil
para microempresários como
um bônus para adimplência fu-
tura do pagamento de tribu-
tos. “Seria em situações muito
específicas, para os peque-
nos”, informa.


lComo o governo planeja a reto-
mada das atividades? Haverá um
cronograma por setor?
Vai partir de uma metodologia
liderada pelo Ministério da
Saúde, não é uma decisão eco-
nômica. Como disse o general
Braga Neto (ministro da Casa
Civil), em breve anunciaremos
nossa estratégia de retorno se-
guro às atividades econômi-
cas. Outra coisa é agenda da re-
tomada do crescimento, que
tem os mesmos princípios e
projetos que já vínhamos im-
plementando, só que agora
com mais senso de urgência. É
como se fosse um grande pac-
to pela retomada do cresci-
mento. Envolve outros Pode-
res, o Legislativo, governos
subnacionais.


lO impacto econômico de uma
abertura errada da economia não
pode ser maior? Como isso está
sendo tratado dentro do Ministé-
rio da Economia?
Cito o exemplo da Abrainc (as-


sociação das grandes empresas
de incorporação e construção).
Eles têm 55 mil trabalhadores
diretos, 93% continuaram tra-
balhando. Dez faleceram de co-
vid-19. Cada morte vale, claro,
mas o vírus está aí. O porcen-
tual de mortos entre os que tra-
balharam foi menor do que
aqueles que estão em isola-
mento. Como eles consegui-
ram fazer essa mágica? Eles fo-
ram a primeira associação a en-
viar vídeos sobre protocolos
de trabalho. Protocolos de dis-
tanciamento, de uso de másca-
ra, equipamentos de proteção
individual, álcool em gel. Nos-
sa interpretação é que essas
pessoas, que iam ao trabalho,
eram instruídas e treinadas so-
bre ferramentas e tinham todo
o suporte para ter o melhor
comportamento, inclusive em
suas interações sociais, para
evitar o contágio. O trabalho
nesse caso ajudou a reduzir o

contágio. Já mapeamos que
90% dos setores econômicos
têm, por meio de suas entida-
des representativas, protoco-
los prontos.

lO que significa na prática ter
protocolo pronto?
Os protocolos são orientações
sobre como trabalhar para re-
duzir a possibilidade de conta-

to. Shopping centers, indústria
eletroeletrônica, setor agrope-
cuário, 90% da nossa economia
já têm. Estamos planejando a
retomada há algum tempo, jun-

to com o setor privado. O Bra-
sil não parou, está todo mundo
planejando há algum tempo.
Temos de planejar a retomada
para, quando tivermos o retor-
no seguro, termos recomenda-
ções. A decisão é local, mas va-
mos defender o que acredita-
mos, como atividades essen-
ciais que não devem parar.

lO financiamento da folha de
pagamentos não saiu como espe-
rado na crise. Como isso será
revisto e como serão outros pro-
gramas para fazer o crédito che-
gar às empresas?
O crédito é um problema no
mundo. Nos EUA, dos R$ 2,6
trilhões anunciados, só 4% che-
garam na ponta. O financia-
mento da folha de pagamentos
foi o primeiro grande progra-
ma. O problema é que exigia
que a empresa tivesse a folha
no banco, muitas não tinham.
Segundo problema é que exi-
gia que a empresa não demitis-
se depois, e muitas empresas
não estavam dispostas. Esta-
mos trabalhando no Congres-
so agora para ampliar escopo e
retirar restrições. Acreditamos
muito que os fundos garantido-
res vão desempoçar o crédito.

lUma das mudanças que po-
dem ser feitas é flexibilizar a
questão de não poder demitir.
Isso será aceito pelo governo?
Isso está no meio de uma nego-
ciação. Vai depender do impac-
to. Se a exigência de não demi-
tir gerar mais demissões, te-
mos de rever. Só faria sentido
relaxar a exigência de não de-
mitir se isso contribuir para re-
duzir as demissões. Não está
na mesa liberar total.

lE o programa para médias em-
presas com recursos do Fundo
Garantidor de Investimentos (F-
GI)? Quando sai?
Está para sair. O texto da medi-
da provisória está pronto na
Casa Civil. Estamos muito con-
fiantes. As medidas para pre-
servação de emprego até agora
deram muito certo, mas nos-
sos empresários estão sofren-
do demais. Muito pequeno em-
presário quer reabrir, quer tra-
balhar e não consegue.

lO ministro Paulo Guedes falou
em dar R$ 10 mil para os peque-
nos empresários. Essa ideia tem
chance de prosperar?
Estamos estudando com serie-
dade. Temos de apoiar os pe-
quenos. A retomada provavel-
mente virá dos pequenos. Em-
presas que pagam impostos e
que vão conseguir pagar em
dia seus créditos, estamos pen-
sando em uma maneira de
apoiá-las com esse bônus. Se-
ria em situações muito espe-
cíficas, para os pequenos.

Aline Bronzati


Depois de os programas lança-
dos se sobreporem e não alcan-
çarem o objetivo esperado, o go-
verno Bolsonaro aprimora me-
didas para destravar o crédito
às pequenas e médias empresas
em meio à crise causada pela
pandemia do novo coronaví-
rus. Além de ampliar o escopo
do financiamento de salários,
cuja oferta de recursos ficou
bem abaixo do esperado, avan-
ça na regulamentação da linha
que terá garantia do fundo de
aval do Banco Nacional de De-
senvolvimento Econômico e So-


cial (BNDES).
Desde o início da turbulência
econômica deflagrada pela pan-
demia, os bancos já empresta-
ram mais de R$ 900 bilhões em
recursos novos, renovações e
suspensão de parcelas de em-
préstimos, conforme balanço
da Federação Brasileira de Ban-
cos (Febraban) publicado on-
tem. Apesar de o volume beirar
R$ 1 trilhão, os recursos às pe-
quenas e médias empresas ain-
da enfrentam dificuldades para

chegar na ponta, seja por proble-
mas na oferta ou até mesmo bai-
xo apetite por endividamento
frente às restrições impostas pa-
ra cessão aos empréstimos.
O presidente do Banco Cen-
tral, Roberto Campos Neto, ad-
mitiu ontem que as políticas pa-
ra pequenas e médias empresas
têm de ser intensificadas e o go-
verno discutiu no fim de sema-
na medidas para que a ajuda che-
gue de forma mais rápida à pon-
ta. “Esse é nosso principal pro-
blema hoje. O Banco Central de-
ve anunciar medidas em breve
com esse direcionamento”, dis-
se, durante audiência pública
virtual na comissão mista que
acompanha medidas de comba-
te à pandemia no País.
Uma das modalidades espe-
radas é a linha que terá como
garantia o fundo de aval do BN-
DES. A medida provisória que
permitirá a injeção de cerca de

R$ 20 bilhões no Fundo Garan-
tidor de Investimentos (FGI) e
mudará suas regras está pronta
e sua publicação é esperada pa-
ra hoje. A expectativa era que a
mesma fosse divulgada no fim
de semana, mas questões ope-
racionais atrasaram o crono-

grama.
A linha que contará com ga-
rantia do FGI deve contemplar
empresas com faturamento
anual entre R$ 360 mil e R$ 300
milhões. Após a publicação da
MP, a modalidade ainda deve le-
var algumas semanas até ficar

pronta, apurou o Estadão/Broad-
cast. Isso porque há todo um trâ-
mite de aprovação necessário e
questões operacionais. O orça-
mento de R$ 20 bilhões a ser in-
jetado no FGI já está aprovado,
mas a ideia é liberar os recursos
em tranches de R$ 5 bilhões ou
R$ 10 bilhões.

Folha. Já o programa criado pa-
ra financiar a folha de pagamen-
tos de pequenas e médias em-
presas durante a crise está sen-
do ampliado, depois de seu de-
sempenho ter ficado bem abai-
xo do previsto. Dos R$ 40 bi-
lhões em recursos, só foram con-
sumidos cerca de R$ 2 bilhões,
conforme dados do BC compila-
dos entre 8 de abril e 27 de maio.
Em torno de 79,9 mil empresas
foram beneficiadas, com 1,318
milhão de empregados.
Para tentar elevar esses nú-
meros, o programa será refor-
mulado, conforme a MP 944,
que estabeleceu o financiamen-
to da folha de pagamentos. As-
sim, o grupo de empresas elegí-
veis, cujo faturamento anual an-
tes ia de R$ 360 mil a R$ 10 mi-
lhões, será de até R$ 50 milhões.

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


Nova linha.
Programa
para médias
empresas
com
recursos do
FGI está
para sair, diz
secretário

‘90% dos setores têm protocolo de retorno’


lCrédito

Consumo de energia tem queda de 6,6% em abril. Pág. B4}


DIDA SAMPAIO/ESTADÃO

Segundo Carlos da Costa,
o Brasil não parou e está


planejando o retorno;


governo estuda auxílio


para microempresários


Carlos da Costa, secretário especial de Produtividade, Emprego e Competitividade do Ministério da Economia


ADRIANO MACHADO / REUTERS - 18/2/2020

Programas não atingiram


o objetivo esperado ou


por problemas na oferta


ou pelo baixo apetite


por endividamento


Governo busca destravar crédito


a pequenas e médias empresas


R$ 900 bi
já foram liberados pelos
bancos em recursos novos,
renovações e suspensão
de parcelas de empréstimos,
segundo balanço divulgado
pela Febraban

Mudança. Campos Neto, presidente do BC, anunciará
medidas
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