National Geographic - Portugal - Edição 231 (2020-06)

(Antfer) #1
62 NATIONALGEOGRAPHIC

E essa informação é relevante no plano de gestão
da reserva porque permite perceber qual o nível
de protecção oferecido pelo desenho actual e pos-
sibilita ao ICNF, a entidade responsável pela área
marinha, ajustamentos no plano de ordenamento,
alterando as diferentes zonas de protecção.”
Para que os movimentos fi quem registados, os
peixes são capturados com a colaboração de uma
embarcação de pesca artesanal de Sesimbra. De
seguida, o investigador faz uma pequena incisão
na cavidade abdominal do robalo ou da raia, in-
troduzindo ali um pequeno transmissor. Como ci-
rurgiões treinados, suturam rapidamente o corte
e o animal é libertado com toda a tranquilidade. A
mestria e a velocidade da operação são essenciais.
Através de um sistema wireless, são transmiti-
dos sinais aos 40 receptores acústicos subaquáti-
cos instalados no parque. Com baterias que duram
cerca de um ano, os equipamentos vão registando
milhares de dados. A informação recolhida é de-
pois tratada. Por vezes, surgem surpresas. “Há al-
guns anos, marquei corvinas no Algarve e, com o
auxílio de receptores acústicos instalados ao lon-
go da costa do Algarve e por acompanhamento
por satélite, percebemos que as corvinas viajaram
até ao estreito de Gibraltar. Depois regressaram a
território português, deslocando-se até Sesimbra,
onde permaneceram algum tempo até se dirigi-
rem de novo para águas algarvias.”
Por momentos penso na fantástica resiliência
das corvinas que, apesar do enorme esforço de
pesca, conseguem sobreviver a tantas viagens...


UM DOS PROJECTOS EMBLEMÁTICOS NA ARRÁBIDA
é a recuperação das pradarias de plantas marinhas
outrora abundantes. O CCMAR e o ISPA lideram o
processo. Na década de 1940, as pradarias mari-
nhas chegaram a ocupar uma área estimada de
260 mil metros quadrados. A pesca com utilização
de ganchorras e as amarrações das embarcações
contribuíram fortemente para a redução desta
mancha para cerca de 70 metros quadrados, apu-
rou um censo em 2003. Os pescadores não conhe-
ciam a utilidade destas manchas subaquáticas de
vegetação e elas foram progressivamente desapa-
recendo. Caso fossem uma mancha vegetal em
terra, o alarme talvez tivesse sido mais célere;
debaixo de água, porém, os sinais de perigo ecoam
com mais difi culdade.
As pradarias marinhas são engenheiras do
ecossistema. Fixando as areias, as pradarias são
também muito importantes para a redução da
erosão costeira. Funcionam como fl orestas su-


baquáticas e, comotal, tornam-se fundamen-
tais paraa produçãodeoxigénioe retençãode
CO 2. Sãotambémo abrigodemuitasespéciesde
juvenisdepeixese crustáceos,comoolingua-
do, a raia,o chocooua santola,queencontram
naquele habitat emaranhadoo refúgiocontra
predadoreseoespaçoparasedesenvolverem.
O cavalo-marinho também era uma presença
habitualnestaspradarias,mashámuitoqueo
icónicoanimalsetornouraronaArrábida.
O processodetransplantedeervasmarinhasé
muitolentoe a operaçãocomplexa,apresentan-
do enormesdificuldades.Jáseregistaramtenta-
tivas infrutíferasnopassado,mastempestades
violentasconspiraram paraanularessesesfor-
ços. AbiólogaEsterSerrão,daUniversidadedo
Algarve,é a responsávelcientíficadesteprojecto
na Arrábida.“Dopontodevistatécnico,repre-
senta transportarpesose volumesconsideráveis
dentroe foradeágua”,explica.“Otrabalhosuba-
quáticoé realizadoemcondiçõesdevisibilidade
e correntepoucofavoráveis.”Conhecia-setam-
bém poucosobrequalamelhorépocadoano
para transplantara espéciee quala áreaidealde
transplante,bemcomooslocaismaispromisso-
res paraa operação.Mesmoa populaçãodadora
foi testadaportentativae erroatéapuraruma
candidatasusceptíveldemaissucesso.Ostestes
para aferirasmelhorescondiçõesdetransplante
foramrealizadosentre 2007 e 2010numaárea
entre oPortinhodaArrábidae Galapos.
Apósummergulhodemonitorizaçãocomoutro
investigadordoprojecto,obiólogoDiogoPaulo,
do CCMAR,explicaque,paratentarrecuperaras
pradarias,foramutilizadasplantasdaespécieZos-
tera marinarecolhidasnariaFormosanaPrima-

DescargasdepeixenalotadeSesimbra

Ao contráriodosreceiosiniciais,a implementaçãodo
plano deordenamentodoparque(POPNA)em 2005
não prejudicouaspescasemSesimbra.Asdescargasna
lota forammaioresemvolumee emeurosfacturados.

FONTE DO GRÁFICO: DAVID ABECASIS (UNIVERSIDADE DO ALGARVE),
A PARTIR DE “ESTATÍSTICAS DA PESCA”, INE

POPNA(2005)

10000

15000

20000

25000

30000

35000

1985 1988 1991 1994 1997 2000 2003 2006 2009 2012 2015 2018

(^) 1 000 euros (^) Toneladas

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