LIDERANÇAPOLÍTICA 79
vadaem2009,o mesmoanoemquefoiaprovada
a LeidaEliminaçãodaViolênciacontraasMulhe-
res,promovidapelaconvençãofeminina.
Asmulheresafegãsenfrentamagoraumnovo
desafio:o regressodostalibãse dassuasatitudes
repressivascontraasmulheres.Em2001,ogo-
vernotalibãfoidestituídoapósumainvasãolide-
radapelosEUAnasequênciado 11 deSetembro
de2001,comopuniçãopelofactodeo Afeganis-
tãoteracolhidoo líderdaal-Qaeda,Osamabin
Laden.EmFevereirode2020,osEstadosUnidos
assinaramumacordodepazcomostalibãs,com
o objectivodeterminarumaguerrade 18 anos.
Nãosesabeaocertoquantainfluênciaostalibãs
aindaexercemnestepaísdilaceradopelaguerra
ecomotencionam exercê-laquandoastropas
norte-americanasseretirarem.
“Aindanãosabemosbemo queostalibãspre-
tendemquesacrifiquemos”,resumeShinkaiKa-
rokhail,sublinhandoqueasmulheresafegãsnão
participaram nas negociações de paz entre os
A
S MULHERES DO AFEGANISTÃO, à
semelhança das iraquianas,
enfrentaram décadas de guerra,
intervenções militares estrangei-
ras, ascensão, queda e nova
ascensão de islamistas austeros,
e um agravamento da instabili-
dade e insegurança políticas. No
entanto, ao contrário das parlamentares iraquianas,
que tardaram a formar uma assembleia feminina,
algumas afegãs formaram uma convenção feminina
há mais de uma década. Vinte e sete por cento, ou
68 dos 249 lugares da câmara baixa do Afeganistão,
estão reservados às mulheres.
Shinkai Karokhail foi eleita deputada pela pri-
meira vez em 2005 para representar Cabul. A sua
presença no Parlamento foi essencial para formar
a convenção feminina, estimulada pela apresen-
tação de uma proposta de lei conhecida como
Direito Xiita do Estatuto do Indivíduo. Tinha con-
teúdos parecidos com os da Jaafari iraquiana e
EUA e os talibãs. “As mulheres saem sempre der-
rotadas das guerras e não queremos ser as derro-
tadas nos acordos de paz. Não somos contra a paz,
não somos contra a reintegração dos talibãs [na
política] no Afeganistão, pelo menos para pormos
fi m a esta longa guerra.” No entanto, as “mulheres
de hoje não são as mulheres de ontem”. As mulhe-
res – diz – mereciam ter-lhes sido garantido um
lugar na mesa das negociações.
Jamila Afghani, destacada activista dos direi-
tos das mulheres e académica islâmica, foi uma
das poucas mulheres recebidas em audiência
pelos talibãs. Fez parte da delegação de mulhe-
res que se reuniram com representantes envol-
vidos nas negociações de paz no fi nal do Verão
passado, em Doha, a capital do Qatar. As onze
mulheres faziam parte de um grupo afegão de
activistas de direitos civis muito maior. “Infeliz-
mente, durante as reuniões formais, não houve
oportunidade de falar” sobre os direitos das mu-
lheres, mas “levantámos a questão nos intervalos
do lanche e do almoço,” comenta.
ambas assentavam sobre a mesma jurisprudência
religiosa. “Eram horríveis”, diz Shinkai Karokhail,
referindo-se às disposições da proposta de lei.
“Nesta sociedade, os principais decisores são
homens e não mulheres. Mesmo quando nos tor-
namos políticas, a primeira e a última palavra per-
tencem a um homem”, diz Shinkai, que recebeu
ameaças de morte por se pronunciar contra a pro-
posta de lei. “Fui sujeita a enormes pressões. Res-
tringi os meus movimentos e andava sempre com
protecção de guardas. Foi uma época terrível.”
As deputadas são apenas duas dezenas dos cer-
ca de 150 membros da convenção parlamentar fe-
minina, que inclui mulheres da sociedade civil, do
meio judiciário e da comunicação social. “A acção
mais importante foi fi carmos juntas e defi nirmos
prioridades”, diz Shinkai. “Se fazemos parte do
Parlamento e fomos eleitas por haver quotas, isso
implica obrigações e temos de as cumprir. Temos
de trabalhar para as mulheres do Afeganistão.”
A proposta de lei foi sujeita a alterações e, ape-
sar dos protestos de mulheres activistas, foi apro-
As mulheres afegãs enfrentam agora um novo desafio.
Temem perder os direitos que conseguiram assegurar
após a queda do regime extremista talibã, em 2001.