LIDERANÇAPOLÍTICA 81
“Os talibãs disseram que concordarão com os
direitos e regras reconhecidos pela sharia no que
diz respeito às mulheres” ou, para sermos mais
exactos, com a sua interpretação de tais direitos,
algo que Jamila considera “inaceitável e não-islâ-
mico” devido aos limites impostos às mulheres.
“Não podemos voltar ao que havia antes, sob o do-
mínio talibã”, diz. “Eles proibiam as mulheres de
estudar e de trabalhar. Não podemos tolerar isso.”
Desde que o governo talibã foi destituído, em
2001, Jamila Afghani tem trabalhado para defen-
der as mulheres através do islão, dando formação
sobre os direitos das mulheres a seis mil imãs do
país, recorrendo à Noor, a Organização Educacio-
nal para o Desenvolvimento de Capacidades. Tam-
bém proporcionou formação literária e religiosa a
cerca de 50 mil raparigas e mulheres. Admite que
foi ameaçada pelos talibãs “muitas, muitas vezes”
e que, nos últimos dois anos, oito dos imãs da sua
rede foram assassinados por ensinarem uma ver-
são do islão que não condiz com a dos talibãs. Ela
quer que outras mulheres activistas trabalhem jun-
tas para apresentar interpretações da sharia que
possam servir de alternativa à versão dos talibãs.
Na verdade, Shinkai Karokhail diz que Jami-
la Afghani tem uma “mentalidade diferente” da
maioria das mulheres afegãs. Embora tivesse sido
importante a inclusão de mulheres nas negocia-
ções de paz com os talibãs “de que mulheres está
ela a falar? Não basta meia dúzia da elite política...
e, nesse sector, as mulheres estão representadas”.
Jamila Afghani já ouviu essas críticas várias
vezes. “A sociedade civil é moderada. A socieda-
de civil acha que eu sou conservadora ou que sou
islamista e alguns islamistas dizem que estou a
introduzir um novo islão”, diz. “Não posso repre-
sentar toda a população, mas tenho a certeza de
que consigo representar um grande número de
pessoas que acreditam nos valores islâmicos.”
T
RATA-SE DE UMA QUESTÃO com
que se debatem as próprias
democracias ocidentais pacíficas
e historicamente progressistas,
como a Nova Zelândia: que
mulheres estão a ser ouvidas,
pertencentes a que comunidades
e o que estão a dizer? A actual
líder da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, de 39 anos,
é a terceira mulher a ocupar o cargo de primeiro-
-ministro do país, mas o país nunca elegeu um pri-
meiro-ministro, homem ou mulher, pertencente à
população maori indígena, que representa 16,5%
dos quase cinco milhões de habitantes. Há maori
no Parlamento desde 1868. Agora, há sete lugares
eleitos para os maori e um total de 29 maori na
Câmara, onze dos quais são mulheres.
Os maori da Nova Zelândia asseguraram os seus
direitos enfrentando os colonizadores britânicos
até chegarem a um acordo, o Tratado de Waitangi,
de 1840, o documento fundador do país. Há cente-
nas de acções judiciais pendentes, interpostas por
maori devido a infracções do acordo. Em 1877, o
tratado foi declarado nulo por Sir James Prender-
gast, presidente do Supremo Tribunal de Justiça
da Nova Zelândia, que defendeu que o documen-
to fora assinado “entre um país civilizado e um
grupo de selvagens”. O reconhecimento legal só
aconteceu na década de 1970.
Antes da colonização, as mulheres maori “parti-
lhavam o poder com os homens”, afirma Margaret
Mutu, professor de Estudos Maori da Universida-
de de Auckland, presidente do Parlamento indíge-
na, Iwi, e líder tribal do seu povo, os Ngati Kahu.
Ela afirma que as mulheres eram responsáveis
pelo bem-estar espiritual do seu povo, enquanto
os homens lidavam com o mundo físico.