O Estado de São Paulo (2020-06-06)

(Antfer) #1

A20 Metrópole SÁBADO, 6 DE JUNHO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


COBERTURA NOVA
ACLIMAÇÃO - VISTA 360º
Vendo com 423m^2 á.ú. 4 suítes, 7 vagas
Quadra de tênis oficial.
(11)98188-

Guilherme Bianchini


A Organização Mundial da Saú-
de (OMS) divulgou ontem no-


vas diretrizes sobre o uso de
máscaras de proteção contra o
coronavírus. Entre as recomen-
dações está o uso de máscaras
cirúrgicas – e não as de tecido –
por idosos, doentes crônicos e
pessoas com sintomas da co-
vid-19. Já em relação às másca-
ras de tecido, que podem ser fei-
tas em casa ou compradas em
lojas, a entidade aconselha que
o produto tenha pelo menos

três camadas de tecidos diferen-
tes para ser eficaz.
A camada externa deve ser de
um tecido impermeável, como
o poliéster; a parte de dentro
precisa ter um tecido que absor-
va a água; já a camada interme-
diária deve conter um material
que atue como um filtro. Segun-
do a OMS, as máscaras de teci-
do são recomendadas para o pú-
blico em geral, em lugares onde

há muitos infectados pela co-
vid-19 e o distanciamento físico
de ao menos 1 metro não pode
ser atingido – como em trans-
portes públicos, por exemplo.
“Chegamos ao consenso de
que, quando as pessoas estão
em um ambiente público, o uso
dessas máscaras oferece um cer-
to grau de controle. Pode impe-
dir que um infectado transmita
a doença para outras pessoas”,

disse April Baller, especialista
do programa de emergências da
OMS. Já a orientação para o uso
de máscaras cirúrgicas é para
quem está incluso em um des-
tes cinco grupos: profissionais
de saúde; cuidadores de infecta-
dos pela covid-19; pessoas com
60 anos ou mais; doentes crôni-
cos; e pessoas com sintomas da
covid-19. As novas diretrizes fo-
ram baseadas em informações

recentes, de uma pesquisa enco-
mendada pela própria OMS
A organização ressaltou, po-
rém, que o uso de máscara é
uma medida paliativa, e deve
ser adotada em conjunto com
os métodos de prevenção. “Más-
caras podem criar falsa sensa-
ção de segurança, levando pes-
soas a negligenciarem medidas
como higienização das mãos e
distanciamento físico. Másca-
ras, sozinhas, não protegem nin-
guém da covid-19”, esclareceu o
diretor-geral da OMS, Tedros
Adhanom Ghebreyesus.

Risco de uma abertura prematura em São Paulo


Mateus Vargas / BRASÍLIA

A Agência Brasileira de Inteli-
gência (Abin) alertou o Palácio
do Planalto e ministros sobre si-
tuações de caos em cemitérios
do País e a falta de espaços para
sepultamentos, causados pelo
aumento de óbitos pela covid-


  1. Mesmo assim, o presidente
    Jair Bolsonaro tem acusado ges-
    tores de fazer “terrorismo” ao
    buscar novos espaços para en-
    terros e xingou o prefeito de Ma-
    naus, Arthur Virgílio Neto
    (PSDB), por ter aberto covas co-
    letivas.
    Em informes sobre a pande-


mia que somam cerca de 950
páginas, com datas de 27 de
abril a 13 de maio, obtidos pelo
Estadão com exclusividade, a
Abin mostra o desespero de fa-
mílias que não encontram pa-
rentes mortos em enterros pre-
cários em Manaus.
“Famílias relatam desapareci-
mento temporário dos corpos
de familiares que morreram na
rede pública de saúde. No cemi-
tério público Nossa Senhora
Aparecida, a prefeitura infor-
mou que os corpos serão enter-
rados em valas comuns, empi-
lhados três a três”, apontou a
agência em documento de 29 de
abril. No mesmo informe, a
Abin afirma que cresce em Ma-
naus a opção de cremar corpos
“por não haver mais espaço sufi-
ciente nos cemitérios públi-
cos” para vítimas da doença.
Ainda segundo a agência, cai-
xões na capital do Amazonas fo-

ram abertos por pessoas que
buscavam parentes. “A ação
ocorre após trocas e desapareci-
mento de cadáveres.”
Apesar de alertas de autorida-
des de saúde e da Abin, Bolsona-
ro reclama da mobilização de
gestores de Estados e municí-
pios para dar conta de enterrar
mortos pela covid. No início de
abril, chamou de “terrorismo” a
abertura de covas no cemitério
da Vila Formosa, em São Paulo.
Em reunião ministerial de 22
de abril, Bolsonaro xingou o pre-
feito de Manaus por abrir covas
coletivas. “Aproveitaram o ví-
rus, está um bosta de um prefei-
to lá de Manaus, agora, abrindo
covas coletivas. Um bosta.” O
presidente disse que Virgílio es-
tava “aproveitando” a pande-
mia para levar um “clima desse,
para levar o terror ao Brasil”.
Dias após a reunião com mi-
nistros, em 4 de maio, a Abin

informou sobre chegada de re-
forço de 300 urnas funerárias a
Manaus, cidade já com a capaci-
dade de enterros esgotada.
Os informes da Abin abaste-
cem o Centro de Coordenação
de Operação do Comitê de Cri-
se para Supervisão e Monitora-
mento dos Impactos da Covid-
19 (CCOP). Coordenado pela
Casa Civil, o órgão foi criado em
março, quando Bolsonaro atua-
va para retirar o protagonismo
do Ministério da Saúde na crise.
A Abin faz, desde março, diag-
nóstico da situação da pande-
mia no País e um mapeamento
no exterior. Como revelou o Es-
tadão no domingo, adota, nos
documentos endereçados ao
Planalto e a ministérios, discur-
so oposto ao do presidente so-
bre o tema. Procurados, a Presi-
dência da República e o Gabine-
te de Segurança Institucional
(GSI) não se manifestaram.

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


A


covid-19 representa o maior
desafio sanitário do último
século, com impactos devas-
tadores na vida dos cidadãos brasi-
leiros. Diante da inexistência de va-
cina e de protocolos seguros para a
cura, o distanciamento social é a úni-
ca estratégia capaz de conter a disse-
minação da doença, evitar o colapso
do sistema de saúde e minimizar o
número de infectados e de vítimas
da pandemia. As autoridades esta-
duais e municipais passaram a ado-
tar o distanciamento social há mais
de dois meses, apesar da resistência

explícita da Presidência da República,
e com vários graus de rigor e de aceita-
ção pela população.
Dado o enorme desafio representa-
do pela covid-19, acreditamos que as
autoridades só devam relaxar as medi-
das de distanciamento social quando
as condições objetivas o permitirem,
representadas por uma clara tendên-
cia de queda dos casos de contágio e
óbitos, num contexto de ampla dispo-
nibilidade de testagem do vírus.
Em São Paulo, os índices de distan-
ciamento têm oscilado em torno de
50%, acima do índice de outras re-
giões, mas abaixo do desejado. O gover-
no tem atuado para elevá-los, tendo
inclusive levado à antecipação de feria-
dos, e cogitado a necessidade de decre-
tar um “lockdown” (distanciamento
forçado, mais rigoroso).
O governo de São Paulo anunciou,
no dia 27 de maio, um plano (Plano São

Paulo), cuidadosamente elaborado e
competente, para a reabertura gradual
da economia, usando critérios técni-
cos para a sua implementação e acom-
panhamento. Seu objetivo é a retoma-
da ordenada e gradual das atividades
sociais e econômicas.
No entanto, não obstante a qualida-
de do plano, os ainda elevados, e talvez
crescentes, casos de contágio e de óbi-
tos pela covid-19 têm provocado incer-
teza e dúvidas quanto à conveniência
do relaxamento no atual estágio do
combate à pandemia.
A recente experiência internacional
fornece vários exemplos preliminares
de sucesso, mas também de fracasso,
nos planos de abertura das economias.
Reaberturas prematuras, quando as ta-
xas de contágio, de ocupação de UTIs e
de mortes ainda estão em aceleração
são sucedidas por medidas mais seve-
ras de afastamento social, que duram

mais tempo, com maior número de
mortes. A partir do momento em que
fica clara a tendência de queda no nú-
mero de mortes e de contágio, as aber-
turas têm mais chances de sucesso,
mas não podem prescindir de ampla po-
lítica de testagem. Os testes e os méto-
dos de monitoramento permitem iden-
tificar e isolar indivíduos contamina-
dos, mesmo que assintomáticos, e sua
rede de contatos. Esses sistemas de tes-
tagem, se bem organizados, podem
substituir em parte o papel cumprido
atualmente pelo isolamento social.
Os indicadores do atual estado da
epidemia sugerem que ainda não atin-
gimos as condições necessárias para
colocar o plano em execução. Não há
evidência clara de desaceleração con-
sistente do número de casos e de mor-
tes. Ademais, o Brasil é um dos países
que menos testam no mundo, e a situa-
ção não é diferente em São Paulo. A

flexibilização do distanciamento so-
cial requer um amplo esforço de tes-
tagem da população. Na ausência
destes pré-requisitos, a reabertura
do Estado de São Paulo é prematura.
Nessas condições, o risco de fra-
casso é elevado. O combate à covid
requer determinação e perseveran-
ça. Acreditamos que este mesmo pla-
no anunciado possa ser implementa-
do com sucesso, mas no momento
adequado. Recuar antes da hora po-
de acarretar uma segunda onda da
doença devastadora, levando a um
crescimento no número de mortes
pior do que o quadro sério que hoje
testemunhamos. O momento de
reabrir São Paulo é quando as condi-
ções concretas assim o permitirem.
Não devemos jogar fora os ganhos
obtidos até o momento.

]
AFFONSO CELSO PASTORE; ILAN GOLD-
FAJN; MARCOS LEDERMAN; CRISTINA PI-
NOTTI; ANGELICA QUEIROZ; DANIEl GLEI-
ZER; FERNANDO REINACH

Abin fez alerta sobre caos em cemitérios


Mateus Vargas / BRASÍLIA


O Brasil voltou a registrar on-
tem mais de mil mortes pela
covid-19 pelo quarto dia se-
guido – foram 1.005 nesta sex-
ta. E pelo terceiro consecuti-
vo os dados voltaram a ser di-
vulgados por volta das 22 ho-
ras. Questionado, o presiden-
te Jair Bolsonaro afirmou
que “acabou matéria no Jor-
nal Nacional”, telejornal da
TV Globo, sobre a doença.
O total de óbitos pela doença



  • que também deixou de ser di-
    vulgado no boletim enviado pa-
    ra a imprensa – agora é de
    35.026. Há um total de 645.
    diagnósticos da doença em to-
    do o território nacional, sendo
    30.830 novos casos confirma-
    dos em 24 horas. Entre as na-
    ções com mais óbitos pela co-
    vid-19, o Brasil só está atrás dos
    Estados Unidos (109.042 óbi-
    tos) e Reino Unido (40.344 óbi-
    tos), no total de vidas perdidas
    para a doença.
    Bolsonaro não chegou a con-
    firmar que é dele a ordem para
    que os dados, antes entregues
    por volta das 19 horas por mais
    de 70 dais, sejam apresentados
    apenas às 22 horas. “Não inte-
    ressa de quem partiu (a ordem).
    Acho que é justa essa ideia da
    noite, sair o dado completamen-
    te consolidado”, disse o presi-
    dente. Em declaração à impren-
    sa em frente ao Palácio da Alvo-
    rada, Bolsonaro disse ainda que
    “ninguém tem de correr para
    atender a Globo” e cobrou que
    sejam divulgados “apenas os nú-
    meros de pessoas que morre-
    ram naquele dia”.
    O número de vítimas do novo
    coronavírus confirmadas de
    um dia para o outro, de fato, não
    significa que todas as mortes


ocorreram nesse período. O dia
com maior número de mortes
(670) pela covid-19 no Brasil foi
12 de maio, segundo dados de
quarta-feira. Os dados que vêm
sendo divulgados consideram
investigações de óbitos que só
foram encerradas nas últimas
24 horas, mas podem ter ocorri-
do semanas antes.
Há, porém, 4.159 mortes em
análise, que podem ainda au-
mentar a conta de vítimas da co-
vid-19. Ou seja, o número de
mortes confirmadas em cada
dia cresce conforme essas análi-
ses são concluídas.
Como o Estadão já revelou,
informes da Agência Brasileira
de Inteligência (Abin) enviados
ao Palácio do Planalto e a minis-
tros alertam para alta subnotifi-
cação de infectados e mortos
no Brasil. “A participação do
Brasil torna-se mais significati-
va se for considerado que o País
tem 10 a 15 vezes menos testes
diagnósticos realizados por mi-
lhão de habitantes que os de-
mais (países) e, portanto, é pro-
vável que os números brasilei-
ros estejam subestimados e se-
jam de maior proporção do que
os apresentados”, diz relatório
de 12 de maio.

Suspeito. Bolsonaro também
voltou a minimizar, nesta sex-
ta-feira, números da covid-
no País. Ele sugeriu que outras
doenças são a causa real de mui-
tas mortes. “Tem de saber
quem perdeu a vida ‘do covid’
ou ‘com covid’. A pessoa tem 10
comorbidades, 94 anos. Tem,
pegou vírus. Potencializa. Pare-
ce que esse pessoal... Globo, Jor-
nal Nacional, gosta de dizer que
o Brasil é recordista em mortes.
Falta, inclusive, seriedade. Mor-
tes por milhões de habitantes,
nem se faz”, disse o presidente.
O Ministério da Saúde nega
atraso proposital. “Essas situa-
ções podem acontecer, porque
esse processo de checagem é
muito variável”, disse anteon-
tem o secretário substituto de
Vigilância em Saúde, Eduardo
Macário. Mas não houve expli-
cações em relação ao fato de
que a divulgação nas gestões
Luiz Henrique Mandetta e Nel-
son Teich ocorria em um horá-
rio mais cedo.

Números foram apresentados novamente com atraso e Bolsonaro diz que ‘acabou matéria’ de TV; total de infectados passa de 645 mil


O momento de reabrir é
quando condições concretas
assim o permitirem; não
devemos jogar fora ganhos
obtidos até o momento

Artigo


Documentos obtidos pelo
‘Estadão’ mostram que
Planalto foi informado da
falta de espaço para
realizar enterros

AMANDA PEROBELLI / REUTERS - 4/6/

Sem estrutura. Abertura de covas rasas em vários cemitérios é a alternativa encontrada para dar conta de sepultamentos

País registra mais de mil mortos em 24 h


lCético
“Tem de saber quem perdeu
a vida ‘do covid’ ou ‘com
covid’. A pessoa tem 10
comorbidades, 94 anos.
Tem, pegou vírus.
Potencializa. (...) Mortes
por milhões de habitantes,
nem se faz.”
Jair Bolsonaro
PRESIDENTE DA REPÚBLICA


OMS passa a recomendar máscara cirúrgica para idosos

Free download pdf