O Estado de São Paulo (2020-06-10)

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A2 Espaçoaberto QUARTA-FEIRA, 10 DE JUNHO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO






A AstraZeneca fez uma aborda-
gem preliminar à rival farma-
cêutica Gilead Sciences sobre
uma possível fusão, segundo
pessoas familiarizadas com o
assunto, no que seria o maior
acordo de assistência médica
já registrado. As conversas
mostram como o cenário da
indústria farmacêutica pode


mudar no momento em que
os fabricantes estão correndo
para encontrar tratamentos
eficazes para a covid-19. A Gi-
lead atraiu o interesse dos in-
vestidores, pois seu remédio
para a covid-19, remdesivir,
passou por testes clínicos.

http://www.estadao.com.br/e/covid

A


qualidade de governan-
te não se adquire sem
fundamento, especial-
mente se o rolo compressor
que brota de individualidade
exacerbada é safra diária de
disparates absurdos.
A combinação de coragem
errada com circunstância
ruim é um desastre. Abrir a bo-
ca para berrar só piora se a
educação é nota de rodapé e o
texto principal, palavrão. A
agressividade nele é um méto-
do cujas ameaças são um ardil.
Sempre foi admitido no cír-
culo das instituições mesmo
quando as criticava sem pu-
dor. Sua lógica é parecer fora
dos costumes desde que foi
inocentado no STM por de-
sonra de conduta e nunca pu-
nido pelas injúrias e pelos de-
sacatos como deputado. Duas
escolas que tiraram dele a no-
ção de castigo. Percebeu que a
verdade é diminuída em valor
quando a autoridade, civil e
militar, de direita ou esquer-
da, está bem confortável em
seu cargo e disposta a acredi-
tar no que for.
Obtendo sucesso como um
fora da ordem se envolveu em
ações inimagináveis, bem abai-
xo do padrão de um país que
fala tanto em Estado Demo-
crático de Direito. E consta-
tou que os fatos, vindos dele,
não valem como prova. Bingo.
Beneficiado pela simbiose dos
radicais – um pacto entre espa-
lha-brasas cujos extremos se
alimentam –, livrou-se do con-
fronto adulto e informado, o
único que pode realmente de-
tê-lo. Pôs em prática a ideia de
que o medo ativa o inimigo. E
decidiu que amigo é quem em-
barca na aventura destrutiva
em que vive.
Uma boa maneira de conhe-
cer a vida dos homens é obser-
var o tom de voz e a frequên-
cia das palavras que usa. A pa-
lavra insincera cumpre a fun-
ção de abolir a relação com a
realidade que incomoda. Es-
corre e arrasta a culpa para lon-
ge da consciência que a utiliza.
Deposita no outro a responsa-
bilidade que não assume.
Ele está levando uma surra
dos estereótipos que cultiva.

Esqueceu-se de que na última
eleição para presidir a Câmara
teve quatro votos. Nem o fi-
lho votou. Mas como caiu pa-
ra cima, sem nenhum atributo
de liderança, mantém a astú-
cia: ser hostil à divergência de
opinião é a principal caracte-
rística do sucesso político há
mais de 30 anos.
A reunião não seria jocosa
mesmo se a veneziana conti-
nuasse fechada e o creia-em-
mim não fosse tão paranoico.
Já são 16 as vezes que a pala-
vra-espetáculo que mais o exci-
ta é a referência ao sêmen usa-
da como ponto final da frase.
Um verdadeiro doping vocabu-
lar: não haverá outro dia igual
a ontem; eu sou a Constitui-
ção; não respondo a ninguém
que queira me julgar; não cedo
ao Estado meu poder. Somado
a essa mania de distorcer tu-
do, fazer gato-sapato da histó-

ria dos judeus e misturar Con-
fúcio com ignorância.
O sujeito cindido e espaço-
so é assombrado. Meios-tons
na economia, strip-tease na po-
lítica, desprezo por doentes,
apartheid social-ambiental re-
baixando o perfil internacio-
nal do País. Jogador treinado
no ringue parlamentar, usa o
baralho sem conhecer todas
as cartas e ameaça com recur-
sos de poder que não possui.
Mas joga a isca. Anunciar,
sem ser contestado, que tem
seus tontons macoutes voluntá-
rios e ativos é de rir sem ale-
gria. Ai de ti, SNI. A ameaça
sem dubiedade às institui-
ções Supremo, Congresso,
mídia lembra “acorda, amor.
É a dura, numa muito escura
viatura”.
Os serviços de inteligência
estão totalmente atomizados
e acabam operando uns con-
tra os outros. Não servem
nem para antecipação de deci-
são, nem para contrainforma-
ção. Ao invés de o Estado orga-
nizar sua sinergia para prote-

ger o País, o presidente usa os
buracos na doutrina de segu-
rança e defesa para fazê-la
mais vulnerável.
Interessante é saber de onde
vem esse desejo de desobede-
cer. Com as críticas do minis-
tro da Justiça soubemos como
se concilia o sistema de Justiça
com a ideia de que “lei errada
não se cumpre”. O crime orga-
nizado gosta da confusão cria-
da por presidente que prega
não ter medo da ameaça legal.
Refém do temperamento bi-
lioso, coloca, cuidadosamen-
te, a mão suja na mão de
quem lhe estende a mão, assi-
nando a culpabilidade de um
Estado que zomba da doença
e da morte. Quanto ao resto,
quem quiser ver algo melhor
que veja. Na eleição desanca o
Parlamento, no governo con-
firma o ditado: quem não tem
cão caça como gato.
Domingos imorais. Quando
a pata do animal escavou o as-
falto em busca de um ponto
de apoio o arreio afrouxou e
ele caiu do cavalo dias depois
ao escorregar em outro Esta-
do. Foram cinco voltas inúteis
num Super Puma, porta aber-
ta, pondo todos em risco. Se
fosse bombeiro não se exibia,
nem pisava na mangueira.
A combustão alimenta o pa-
radoxo. A cada hora finge ir
ao máximo nas palavras por
imaginar que no grito tira a
vantagem de quem o ameaça.
As aversões ocultas, as dificul-
dades de apego, a falta de al-
truísmo e empatia não carac-
terizam nosso Estado. Gover-
nante que induz a população,
durante pandemia, a despre-
zar os riscos de adoecer e mor-
rer pode terminar em tribu-
nal de reparação.
Mantida ativa a sementeira
o grão se multiplica em cem,
desatarraxa a sociedade e
atrela a democracia a um alfi-
nete. Destravar a granada é
enquadrar seu impulso de
guerra na sabedoria de bus-
car a paz obrigatória, dever
de quem governa.

]
SOCIÓLOGO. E-MAIL:
[email protected]

Jogador que for diagnostica-
do com covid-19 vai ser afas-
tado e pode ser substituído.

http://www.estadao.com.br/e/nba

E-INVESTIDOR


União de gigantes contra o coronavírus


Projeto do Balé Real do Rei-
no Unido quer arrecadar
fundos para instituições que
prestam apoio aos trabalha-
dores do teatro.

http://www.estadao.com.br/e/bale

l“Cadê o Congresso Nacional e o STF agora para agir? Revogar o ato
não desfaz o crime de responsabilidade!”
ANDRIELSON WATCHMAN

l“Muito bom! Assim a Secom não corre risco de financiar emissores de
‘fake news’ eventualmente ‘amiguinhos’ dos filhos de Bolsonaro.”
JOSÉ MENDES

l“Governo ‘ioiô’: diz uma coisa e depois recua. E os apoiadores ainda
querem ‘lacrar’ em cima da OMS quando ela volta atrás em algo.”
JULIO CESAR CLARET

l“E é por isso que Bolsonaro odeia a imprensa. Imagina deixar essa
‘boiada’ passar livre de investigação.”
ANDERSON CAMPOS

INTERAÇÕES

CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
PRESIDENTE: ROBERTO CRISSIUMA MESQUITA
MEMBROS
FERNANDO C. MESQUITA
FERNÃO LARA MESQUITA
FRANCISCO MESQUITA NETO
GETULIO LUIZ DE ALENCAR
JÚLIO CÉSAR MESQUITA

Imagens transmitidas nas
redes sociais apresentam
sucessão de 51 “looks” filma-
dos à beira-mar com “zoom”
em novos detalhes.

http://www.estadao.com.br/e/moda

Espaço Aberto


I


ntriga o sentido da expres-
são “tempestade perfei-
ta”, que poderia ser con-
fundida com calmaria. Mas é
o inverso do que a ideia da
perfeição sugere: a conjun-
ção dos efeitos perversos de
temporais coincidentes, co-
mo no descontrole do contá-
gio do novo coronavírus pro-
vocando uma crise sanitária
inusitada, o início e o agrava-
mento da perspectiva da
mais profunda recessão eco-
nômica de nossa História e a
incapacidade de gestão esta-
tal. A cereja do bolo de vene-
no é a ocupação do mais ele-
vado poder republicano por
um cidadão perverso, para-
noico, paleolítico e cujo cére-
bro paira entre ignorância to-
tal e insanidade mental.
O Brasil repete-se na perda
constante das oportunidades
oferecidas pela conjuntura in-
ternacional. A pandemia de
covid-19 exacerba essa carac-
terística de um país que não
se livrou do estigma da escra-
vidão como meio de produ-
ção. O vírus velocíssimo e até
agora indestrutível, egresso
do Extremo Oriente, tornou-
se planetário ao devastar vi-
das e poupanças do continen-
te europeu. O fato de o País
estar sob a linha do Equador
nos permitiu tomar conheci-
mento de sucesso e insucesso
no combate à praga. Mas não
dispomos de testes para se-
guir o exemplo da Coreia do
Sul e até hoje não temos a
mínima ideia matemática da
velocidade da transmissão e
da letalidade da nova doença.
No fim da semana passada, a
incontinência verbal de um bi-
lionário sem juízo nos livrou
de sua decisão de nossa retira-
da do competitivo mercado
de respiradores mecânicos pa-
ra evitar o colapso do sistema
da saúde. Até agora evitado
pela eficiência do Sistema
Único de Saúde (SUS), o pati-
nho feio de nosso horrendo
serviço público.
A existência rara de fina in-
teligência no governo federal
premiou nossa Pátria desleixa-
da com a raridade de um mi-
nistro de Saúde, Luiz Henri-


que Mandetta, reunindo credi-
bilidade e popularidade para
evitar que as deficiências es-
truturais e a indigência inte-
lectual de nossas elites redu-
zissem a índices intoleráveis
infecção e letalidade de uma
doença que desafia os mais
privilegiados cientistas da hu-
manidade. Mas o chefe do
Executivo, eleito por 57 mi-
lhões, 796 mil e 986 votantes
no segundo turno, subme-
teu-o a humilhações e o demi-
tiu por inveja e paranoia. O
primeiro absurdo, demissão
do ministro da Saúde em ple-
na subida do contágio do ví-
rus, foi repetido na demissão
do segundo, Nelson Teich,
em menos de um mês. E por
motivo ainda mais fútil: a in-
submissão à prescrição de
uma panaceia particular, a clo-
roquina, repetindo o que, co-
mo parlamentar, fizera antes

com outra picaretagem, a “pí-
lula do câncer”.
Empenhado em fazer valer
maluquices de um pornógra-
fo de rede social e de financia-
dores de disparos de fake
news, Jair Bolsonaro escoi-
ceou ciências médicas e lógi-
ca plana ao trocar a coordena-
ção do combate ao microrga-
nismo por uma surrealista di-
cotomia inexistente entre vi-
das e negócios. Essa sandice
apavorante levou ao coman-
do da guerra virológica Eduar-
do Pazuello, general da inten-
dência (que, segundo Napo-
leão Bonaparte, “segue” as
tropas, não as lidera), com de-
ficiente compreensão de bio-
logia elementar, como a posi-
ção do coração no corpo. E
conseguiu superar a própria
incapacidade de entendimen-
to básico de administração
pública ao nomear para a se-
cretaria de Ciência, Tecnolo-
gia e Insumos do ministério
Carlos Wizard, bilionário ir-
responsável que, disposto a
impor sua fé criacionista,

anunciou a suspensão da com-
pra de respiradores, um cri-
me. E insultou a inteligência
da Nação e a honra dos secre-
tários estaduais de Saúde,
anunciando a adulteração das
estatísticas de casos e óbitos
de covid-19 e adicionando
um delito de responsabilida-
de ao rosário de penas do pre-
sidente da República e do roli-
ço intendente da Saúde.
A melhor frase sobre essa
rematada demência é da lavra
do presidente da Câmara, Ro-
drigo Maia (DEM-RJ): “Um
ministério que tortura núme-
ros cria um mundo paralelo
para não enfrentar a realidade
dos fatos”. Os atos antibolso-
naristas de domingo, desafian-
do recomendações sanitárias,
cumpriram, porém, o papel es-
sencial de mostrar que a seita
nazibolsolulofascista, criacio-
nista, terraplanista, “ignoran-
tista” e assassina não é dona
das ruas. Mas este não é mais
momento de meras belas pala-
vras. A Pátria precisa que man-
datários do poder em nome
do povo assumam seu dever
de atirar o capitão à procela
imperfeitíssima no mar, ado-
tando a visão profética do poe-
ta Alberto da Cunha Mello: “A
tempestade desse barco é seu
próprio comandante”.
A ordem constitucional vi-
gente, da qual a democracia
não pode abrir mão, mesmo
ante a perspectiva atroz de
um golpe policial-militar de
milícias populares chavistoi-
des anunciadas por Jair Mes-
sias na reunião de porão de
Máfia de Chicago durante a
lei seca, não tem como repetir
a solução de 1919. Na Repúbli-
ca Velha, Delfim Moreira, o vi-
ce psicopata do presidente
reeleito morto (Rodrigues Al-
ves), foi isolado sob a regên-
cia de Afrânio Mello Franco
até a chegada de Epitácio Pes-
soa, que derrotou Ruy Barbo-
sa na eleição presidencial a bi-
co de pena. Mas coragem e lu-
cidez poderão achar o correto
caminho legal para expurgar
o capitão tempestade.

]
JORNALISTA, POETA E ESCRITOR

PUBLICADO DESDE 1875

LUIZ CARLOS MESQUITA (1952-1970)
JOSÉ VIEIRA DE CARVALHO MESQUITA (1947-1988)
JULIO DE MESQUITA NETO (1948-1996)
LUIZ VIEIRA DE CARVALHO MESQUITA (1947-1997)
RUY MESQUITA (1947-2013)

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CULTURA
Bailarinos dançam ao
som dos Stones

Desfile virtual mostra
a coleção da Chanel

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]
José Nêumanne


Tema do dia


Jogos terão imagens de torci-
das projetadas e sons execu-
tados em caixas de som.

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A pior crise do Brasil


é Jair Bolsonaro


Mais maligno que
pandemia, recessão
e desgoverno, juntos,
é o presidente

O homem da


coragem errada


A palavra insincera
cumpre a função de
abolir a relação com a
realidade que incomoda

AMÉRICO DE CAMPOS (1875-1884)
FRANCISCO RANGEL PESTANA (1875-1890)
JULIO MESQUITA (1885-1927)
JULIO DE MESQUITA FILHO (1915-1969)
FRANCISCO MESQUITA (1915-1969)

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PREÇOS ASSINATURAS: DE SEGUNDA A DOMINGO


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    LOCALIDADES E CONDIÇÕES SOB CONSULTA.
    CARGA TRIBUTÁRIA FEDERAL: 3,65%.


Governo cancela


transferência de


R$ 83,9 bilhões


Portaria autorizava remanejamento de
verbas do Bolsa Família para setor de
propaganda, mas foi revogada

]
Paulo Delgado

REUTERS MODA

No estadao.com.br


BASQUETE

NBA tem novas
regras para retorno

FUTEBOL

Espanhol voltará com
arquibancada digital
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