O Estado de São Paulo (2020-06-10)

(Antfer) #1

%HermesFileInfo:B-9:20200610:
O ESTADO DE S. PAULO QUARTA-FEIRA, 10 DE JUNHO DE 2020 Economia B9


é o total de corridas diárias
que a Voll almeja gerenciar,
indicando qual app é mais
econômico para o cliente

Maternidade
B2Mamy lança
plataforma online
A B2Mamy, aceleradora com
foco em mães empreendedo-
ras, lançou uma plataforma
online gratuita de strea-
mings e realidade virtual. Os
conteúdos vão de palestras
sobre empreendedorismo
até um tour pela sede da ace-
leradora. Para acessar: b2-
mamyeplace.com.br.

VOLTADO PRA MULHERES
App de transporte
abre crowdfunding
O app de transporte LadyDri-
ver, voltado para mulheres,
abriu uma campanha com in-
vestidores para captar R$ 1,4
milhão. Segundo Gabryella
Côrrea, fundadora da star-
tup, os recursos serão volta-
dos para a expansão para até
50 cidades e criação de um
serviço para crianças.

lCriada por três ex-funcionários
da Grow, a startup Boomerang
começou a operar em janeiro um
serviço de "aluguel de coisas",
como define o CEO Nathan Romei-
ro. A ideia da empresa é fazer as
pessoas pararem de comprar coi-
sas que só usam vez ou outra e
acabam entulhadas no armário de
casa – como furadeira ou lavado-
ra de alta pressão. Em meio à pan-
demia, porém, a startup percebeu
a oportunidade de oferecer assina-
tura de aparelhos de ginástica.
Pelo site da empresa, quem

estiver em São Paulo pode alugar
bicicletas ergométricas de alto
padrão – o mês pode sair por R$
1 mil, enquanto o pacote de seis
meses custa R$ 4,5 mil.
Segundo Romeiro, a em-
presa está em busca de
equipamentos mais aces-
síveis. "O mercado teve
falta de estoque no início
da pandemia, só ficaram
disponíveis aparelhos
mais caros”, justifica.
A Boomerang, po-
rém, não é dona dos
itens que aluga – os
produtos vêm de
uma rede de lojis-
tas parceiros. “Em
vez de vender uma
furadeira de R$

200, o lojista pode alugar várias
vezes um produto de qualidade,
de R$ 600. Para quem vende, a
receita é maior e para quem preci-
sa do produto, o gasto é me-
nor”, diz Romeiro.
A ideia atraiu investido-
res de peso: a startup
anunciou uma rodada de
aportes de R$ 3 milhões,
liderada pelo fundo Ca-
nary e por Ariel Lambre-
cht (fundador da 99
e da Yellow).
Com os recur-
sos, a startup
terá um novo
site e preten-
de ampliar
categorias.
/ B.C.

Startups ‘suam’ para se adaptar à quarentena


Bruno Capelas
Bruna Arimathea


Em um País que tem cerca de
35 mil academias, o setor de
startups de atividade física
tem um grande potencial.
Mas o que fazer quando os pe-
sos têm de parar de ser levan-
tados? Foi uma dúvida que
muitas empresas do ramo ti-
veram de enfrentar nos últi-
mos meses: com estabeleci-
mentos e até parques fecha-
dos por conta do período de
isolamento social, as star-
tups perderam receita e tive-
ram de fazer ginástica para
tentar seguir em frente.
Para a Gympass, por exem-
plo, a saída foi tentar ser ainda
mais digital. Fundada em 2012, a
startup é dona de um serviço
que permite que empresas con-
tratem para seus funcionários
um plano de acesso a mais de 23
mil academias no País. Com a
crise, a empresa viu clientes can-
celarem o serviço e teve de demi-
tir cerca de 20% dos funcioná-
rios que tinha espalhados pelo
mundo – a startup também atua
em outros 13 países da América
e da Europa. “Na reestrutura-
ção, criamos uma equipe de ata-
que e outra de defesa e fomos
em frente”, diz Priscila Siqueira,
que lidera a startup no País.
O primeiro passo foi treinar
as academias parceiras para da-
rem aulas ao vivo, pela internet.
Depois, a empresa lançou mão
de uma rede de aplicativos par-
ceiros, com plataformas de saú-
de mental e de bem-estar. Tam-
bém passou a permitir que per-
sonal trainers oferecessem au-
las individuais na plataforma.
Nesta semana, a empresa jun-
tou tudo num só pacote: todos
os serviços estarão integrados
ao app principal da empresa,
mesmo depois que a pandemia
passar. “Com a mensalidade, o
usuário vai ter acesso a ativida-
des como terapia, meditação e
apoio nutricional”, diz Priscila.
A expansão de áreas, além de
ampliar o atendimento aos usuá-
rios, também busca tornar a em-
presa mais atraente aos olhos
dos departamentos de recursos
humanos, responsáveis por con-
tratar a Gympass. “Antes, nós
cuidávamos só da atividade físi-
ca dos funcionários, mas agora
podemos ajudar as empresas a
fazer mais coisas”, diz Priscila.
Alvo de críticas por ter feito de-
missões menos de um ano após
receber um aporte de US$ 300 mi-
lhões, a Gympass defende sua po-
sição e se diz segura que o pior já
passou. “Conseguimos reagir e
estamos investindo, treinando as
academias e fazendo campanhas
com influenciadores. É preciso in-
vestir para seguir vendendo. Va-
mos sair melhores da crise.”


Guinada digital. Quem tam-
bém está se digitalizando mais


é a americana ClassPass, que
chegou ao Brasil em dezembro
de 2019. Ao contrário da Gym-
pass, a empresa oferece planos
de uso de academias para o con-
sumidor final – algo que a fez
sofrer mais na crise. Segundo
Cassandra Nattrass, diretora
de parcerias da startup na
América Latina, a empresa che-
gou a perder 96% da receita nos
primeiros dias de pandemia.
Assim como a rival brasileira,
também foi necessário fazer de-
missões: globalmente, 53% dos
funcionários foram dispensa-
dos ou tiveram licença; aqui no
País, 14 pessoas foram afetadas
pela reestruturação. A situação
só não foi pior porque a Class-
Pass levantou um aporte de
US$ 285 milhões em janeiro.
Enquanto as academias não
puderem voltar a abrir, a empre-
sa está sem cobrar assinaturas,
que partem de R$ 100. Está ain-
da oferecendo aulas ao vivo e
vídeos sob demanda pela inter-
net – nos primeiros meses de
pandemia, todas os valores rece-
bidos pela empresa foram repas-

sados às academias e estúdios.
A partir de junho, porém, a star-
tup começou a cobrar uma pe-
quena comissão. Além disso,
academias de alto padrão tam-
bém usam o serviço da empresa

para cobrar por suas aulas.
Nesse ínterim, a empresa cor-
re contra o tempo para lançar
um novo produto digital. “Espe-
ramos lançar em meados de ju-
lho e acreditamos que ele será

permanente, visto que, num
mundo pós-covid-19, a prática
caseira de atividade física tende
a aumentar”, prevê Cassandra.
É nisso que acredita a Magic
Fitness, startup que chegou ao

País em maio e se define como o
“Uber dos personal trainers” –
por preços a partir de R$ 35,
usuários podem marcar uma au-
la com um profissional especia-
lizado a distância. Já um pacote
com oito aulas sai por R$ 200.
A ideia da Magic Fitness, po-
rém, não é que cada aluno tenha
um professor fixo. “Se sobrar
30 minutos na rotina, o usuário
pode entrar e fazer uma aula,
porque o personal que estiver
disponível já vai ter todos os da-
dos dele ali, com a metodologia
da Magic”, explica o sócio brasi-
leiro da empresa, Ruy Drever,
ex-Microsoft e Souza Cruz.
Segundo ele, a procura global
pelos serviços da empresa tripli-
cou desde março. “Muita gente
tinha resistência com o mode-
lo, mas isso mudou agora. Esta-
mos até segurando crescimen-
to, mesmo com demanda, por-
que queremos manter qualida-
de”, explica o executivo. Para os
próximos meses, a empresa pla-
neja ainda captar US$ 2 milhões
em uma rodada de aportes, para
realizar sua expansão.

EXERCÍCIO


Felipe matos


LADY DRIVER

Em meio à crise,


Boomerang aluga


aparelho de ginástica


A


crise do coronavírus vem escancarando de-
ficiências no acesso a crédito para peque-
nas e médias empresas no sistema financei-
ro tradicional. O Banco Central injetou mais de
R$ 1 trilhão em liquidez para o sistema bancário.
O BNDES subsidiou o risco de linhas de crédito
de R$ 40 bilhões, utilizando também os bancos
como canal de distribuição do crédito. Mesmo
assim, os recursos não chegaram na ponta. Crité-
rios de concessão inadequados, processos muito
burocráticos, e preferência dos bancos por ofere-

cer produtos de crédito próprios e mais caros em
detrimento das linhas subsidiadas são algumas
das explicações para o problema.
Nesse contexto, as fintechs aparecem como res-
posta. O segmento é dos que mais vem crescendo
durante a crise, com o volume de buscas por solu-
ções financeiras digitais oferecidas por essas star-
tups avançando até 300% no período pós-isolamen-
to social, segundo pesquisa do Google For Startups.
Nativas digitais, as fintechs oferecem soluções
mais simples, rápidas, com menos burocracia,
critérios atualizados e chegam onde os bancos
não vão, como os segmentos de microempreen-
dedores individuais, que vem sendo atendido es-
pecialmente por maquininhas de cartões digi-
tais, por exemplo. Ainda assim, essas empresas
enfrentam o desafio de ganhar escala rapidamen-

te, desafio esse que exige disponibilidade de capi-
tal, especialmente para a tomada de crédito.
A guinada que faltava parece estar próxima. Em
uma iniciativa inovadora, o BNDES criou uma cha-
mada convocando fintechs e gestores de fundos de
crédito – os FDICs – que pretendem injetar R$ 4
bilhões em até dez fundos que forneçam crédito
para PMEs, com o banco de fomento assumindo a
maior parte do risco. A iniciativa receberá propos-
tas até hoje e já vem sendo considerada um suces-
so. Apenas o evento online para tirar dúvidas dos
participantes atraiu mais de 500 pessoas. Além dis-
so, a iniciativa vem provocando movimentos de
colaboração e parcerias entre fintechs e diversos
agentes do mercado, unindo agilidade, capilarida-
de e inovação das startups, com o know-how de
gestão financeira e acesso a capital dos fundos. Se-

gundo gestores com quem conversei, muitas des-
sas parcerias construídas para atender ao edital
devem seguir de pé mesmo se não forem contem-
pladas. E, ao que tudo indica, o próprio edital é um
teste do BNDES, que se bem-sucedido, deve ser
ampliado em volume de recursos.
Se de um lado, a crise escancarou problemas es-
truturais conhecidos, por outro, acelera inovações
para sua solução. E o BNDES cumpre seu papel de
fomento, numa de suas ações mais ousadas e louvá-
veis dos últimos anos. O ecossistema de inovação e
as pequenas e médias empresas agradecem.

]
ESPECIALISTA EM EMPREENDEDORISMO E TECNOLOGIA,
JÁ APOIOU MAIS DE 10 MIL STARTUPS NO BRASIL E É
SÓCIO DA 10K.DIGITAL

[email protected]

R$ 4 mi


foi o aporte recebido
pela Voll, que faz
gestão de transporte
corporativo

150 mil


BOOMERANG

TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO

Fintechs de crédito


dão guinada na crise


Disciplina. Gympass, liderada por Priscila, teve de fazer demissões para se ajustar à crise; agora, meta da startup é investir para não deixar a peteca cair

Academias fechadas


fazem setor de empresas


de atividade física buscar


reinvenção com ‘personal’


a distância e aula online

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