Na quarta-feira, 17, os
investigadores do Rio receberam a
informação que aumentou ainda mais
a expectativa: Queiroz estava mesmo
em um imóvel em nome de Wassef.
A informação foi comemorada
porque reforça ainda mais a tese dos
promotores sobre a proximidade
entre Queiroz e a família Bolsonaro.
Desde o início do caso Queiroz, em
dezembro de 2018, quando foi
revelada a movimentação de 1,
milhão de reais do ex-assessor de
Flávio, o senador e seu pai tentavam
a todo custo manter uma distância
regulamentar do antigo amigo.
Passava pouco das 6 horas da
manhã de quinta-feira quando os
policiais e promotores de São Paulo
bateram à porta da casa de Wassef
na paulista Atibaia, ironicamente o
mesmo município onde o petista
Lula, inimigo político de Bolsonaro,
mantinha um sítio bancado por
dinheiro de origem suspeita. Ao
perceberem que não seriam
atendidos, os agentes arrombaram a
corrente do portão e entraram no
imóvel.
Queiroz recebeu voz de prisão de
camiseta e touca vermelhas. Estava
dormindo profundamente quando os
agentes entraram em seu quarto. Não
ofereceu nenhuma resistência, falou
que não estava armado e disse que
estava doente. “Não sabia que tinha
saído minha preventiva”, comentou
com os policiais. Os agentes abriram
caixas, reviraram colchões e
apreenderam dois celulares usados
por Queiroz — os aparelhos foram
colocados no modo avião, medida
usual para manter o preso
incomunicável. Também levaram um
malote recheado de documentos de
Wassef e apreenderam 900 reais em
dinheiro na carteira de Queiroz.
A um dos agentes, Queiroz disse
que estava “agoniado” de ficar
praticamente sozinho no imóvel e que
ele mesmo saía para comprar
comida, com um carro que pertence
ao escritório de Wassef. Contou
ainda que sua mulher não ia visitá-lo
havia pelo menos dois meses. A vida
reclusa, contudo, não impedia o ex-
assessor de Flávio Bolsonaro de se
divertir. Em uma foto enviada para a
mulher no dia 8 de dezembro de
2019, Queiroz aparece fazendo um
churrasco nos fundos da casa e
tomando cerveja em uma festinha
com as amigas de seu filho. “Nós
então fizemos um churrasquinho aqui.
Umas garotinhas ‘bacaninhas’ e
vimos o Cruzeiro ser rebaixado
[Queiroz é vascaíno]... o Cruzeiro
ser rebaixado tomando uma Corona
aqui com limãozinho... Muito bom!”.
Ele e Wassef, o dono do quintal,
tinham certeza de que o esconderijo
ainda passaria incólume por muito
tempo. Os superpoderes do “Anjo”
não eram lá tão fantásticos.