O Estado de São Paulo (2020-06-24)

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O ESTADO DE S. PAULO QUARTA-FEIRA, 24 DE JUNHO DE 2020 Economia B9


Ana Paula Boni

Há três meses, 38 bares e res-
taurantes da Cia Tradicional
de Comércio fecharam as por-
tas por conta do novo corona-
vírus. Num susto, o fatura-
mento de casas como Bráz, Pi-
rajá e Astor foi ao chão. Dian-
te das incertezas do mercado
e amparados pela criativida-
de, que é uma marca do grupo
fundado há 25 anos por ami-
gos em São Paulo, os sócios ti-
raram projetos da gaveta pa-
ra ir além no delivery.
Desde o dia em que cerraram
as portas (19/3), criaram novida-
des que surgem como novas
operações e podem continuar
em paralelo ao atendimento de
salão – ainda sem data para
acontecer, na expectativa de au-
torização para o fim deste mês.
A pizzaria Bráz desenterrou
uma ideia de cinco anos atrás,
para entregar ao cliente uma
pizza pré-pronta que ele mes-
mo finaliza com a cobertura de-

sejada e esquenta em casa – a
Bráz Veloce. O Astor, a Ici Bras-
serie e a Bráz Trattoria inaugu-
raram uma espécie de hub, que
pode servir pedido múltiplo:
drinque de uma casa, prato de
outra, sobremesa da terceira.
A Ici Brasserie também pas-
sou a servir prato para 4 pes-
soas, não só individual. Já no As-
tor, pede-se um drinque e os in-
gredientes vêm separados, com
entrega de gelo profissional.
Substitui o volume de mais
de 300 mil clientes por mês nos
endereços em São Paulo, Rio de
Janeiro e Campinas? Não. Ape-
sar de a fatia que o delivery re-
presenta no faturamento ter
mais do que dobrado, ainda as-
sim hoje vai de 25% a 30% – e
isso é tudo atualmente.
“Parece um sonho, né? Nun-
ca ninguém pôde imaginar que
tivéssemos que fechar todas as
casas ao mesmo tempo. Claro
que o delivery sozinho não re-
solve o problema, mas as mar-
cas ficam vivas e você percebe

como elas são queridas”, diz o
sócio Edgard Bueno da Costa.
Edgard, Ricardo Garrido, Fer-
nando Grinberg, Mario Gorski
e Sergio Bueno de Camargo de-
ram início ao grupo em 1996,
com o bar Original, sem ainda
prever que se tornariam um sím-
bolo da boa mesa. Dois anos de-
pois, entrou André Lima, com a
abertura da Bráz. Hoje, só da
Bráz, são nove endereços. Em
2012, entram na sociedade
Benny Novak e Renato Ades,
com a abertura da Ici Brasserie.
A volta de casas como essas
ao “normal”, acredita Garrido,
levará em conta o ritmo dos
clientes. “A gente ainda tem
três meses de restrição de espa-
ço, os clientes estarão com me-
do. Por outro lado, é desafiador.
Vemos restaurantes que não fa-
ziam delivery de jeito algum por-

que a comida deles ‘era muito
especial’. E agora?” Garrido,
que chegou ao Brasil neste mês
após quase um ano em Nova
York (e por isso não aparece na
foto desta página, feita em mar-
ço), acredita que as novidades
do atual momento sugerem
“um novo pacto com o cliente”.
Como a Bráz Veloce, cuja mas-
sa assada precisa ser aquecida
em casa. “O cliente vai ligar o
forno, esperar 10 minutos. Mas,
como diz Edgard, lançamos a
verdadeira pizza de delivery:
ela pode ir a qualquer lugar e a
pessoa assa quando quiser.”

Inovação. O tsunami que pas-
sa por cima da economia do
País também tem empurrado
negócios à inovação, desde a
pesquisa por embalagem, a
adaptação das cozinhas e a co-

municação com o cliente. No ca-
so da CiaTC, os sócios avaliam
que a tomada rápida de deci-
sões pesou de forma positiva.
A atualização constante é
uma marca do grupo, para man-
ter a clientela fiel e atrair uma
nova clientela, mais jovem. Foi
assim que criaram, por exem-
plo, a marca Bráz Elettrica (em
2017), com autosserviço.
Na pandemia, a interação
com o cliente fica diferente,
mas a tecnologia ajuda, defende
Garrido. “Dá para complemen-
tar o pedido no delivery com
um vídeo tutorial (explicando
como preparar algo), com uma
trilha sonora que você disponi-
biliza. A gente vai entregar hos-
pitalidade digital.”
Para comunicar as novida-
des, as 13 marcas têm atuado
nas redes sociais, principalmen-

te no Instagram, e vendem via
iFood, Rappi ou Goomer.
Até o dia em que São Paulo
parou, em março, a Cia Tradicio-
nal de Comércio tinha um pla-
no de expansão engatilhado. “O
Pirajá no shopping Villa Lobos
e o Astor na Oscar Freire esta-
vam com obras em estágio avan-
çado e têm grande chance de
vingar no futuro”, adianta Ed-
gard. Além disso, diz ele, tam-
bém está prevista uma Bráz
Trattoria na Rua dos Pinheiros.
Sobre a veia empreendedora
dos amigos e sócios, Benny No-
vak diverte-se. “Até hoje eu não
entendo 50% do que eles falam.
Quando eu cheguei, eles já ti-
nham uma operação superpro-
fissional. Eles montaram uma
empresa, eu montei um restau-
rante”, diz ele, que é chef de co-
zinha e sócio do Ici Bistro.

PME


Cia Tradicional de Comércio, com 38 casas,


enfrenta pandemia com inovação no delivery


ESTADÃO

Sócios. Edgard Costa (E), Benny Novak, Fernando Grinberg, Sergio Camargo e Mario Gorski, na Bráz Elettrica de Pinheiros

Novo pacto


com cliente


guia grupo


de bares


TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO
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