National Geographic - Portugal - Edição 232 (2020-07)

(Antfer) #1

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“As alterações climáticas ocorrem de maneira
diferente em diferentes regiões do mundo”, resu-
miu Paul Mayewski, de 72 anos, numa tarde em
que estávamos sentados na tenda de comunica-
ções do Acampamento-Base. “Esta é uma das re-
giões do mundo que está a aquecer mais depressa,
mas não sabemos o que realmente se passa acima
da cota de 5.000 metros.”
A maioria dos glaciares asiáticos das monta-
nhas altas começam acima de 5.000 metros. To-
dos os anos, a queda de neve nas bacias de grande
altitude, juntamente com a precipitação, a alti-
tudes menores, repõe os glaciares que fornecem
água a dezenas de milhões de pessoas na Ásia. No
entanto, existem poucas fontes de dados meteo-
rológicos fi áveis destas altitudes que ajudem os
investigadoresa prever,a longoprazo,osefeitos
dasalteraçõesclimáticassobrea região.
SegundoTomMatthews,existemescassasob-
servaçõesdoslugaresondea neveseacumulanos
glaciaresdosHimalaia.“Tantoquantosei,havia
poucasestaçõesmeteorológicasnosHimalaiaaci-
made6.000metrose nenhumaestavaa funcionar
quandoinstalámosa nossa.”Parafazer“ciência
decamporelevante”nessasaltitudes,comoPaul
Mayewskilhechamou,foiprecisoenfrentaruma
miríadededesafios.Pertodacotade8.000me-
tros,ossereshumanossofremprivaçãodeoxigé-
nioe a suamotricidadee capacidadedetomadade
decisõessãoafectadas.Tarefastãosimplescomoa
fixaçãodegramposaocalçadotornam-selentas.
“Aúnicaesperançadosmontanhistasé atingir
o cume,tirarumaselfiee descero maisdepressa
possível”,dissePeteAthans,quealcançouseteve-
zeso picodoEverestee foio líderdemontanhis-
modaequipadaNationalGeographic.Oprojecto
deconstruçãodeumaestaçãometeorológica“é
comopararnocumee tentarmontarumcarro”.
Para conceber e instalar as estações, Paul
Mayewskirecrutara Baker Perry, um cientista
altoe taciturno,especializadoemclima,daUni-
versidadeEstadualdosApalaches,e TomMat-
thews,umclimatólogoinglêsdaUniversidadede
Loughborough,quefalaaceleradamente.“Nãoé
possívelfazerumaestaçãoà provadebala”,re-
sumiuBaker.Háumadécada, umaequipade
investigaçãoitalianainstalouumaestaçãome-
teorológicanoColoSule viu-aserdestruídapor
pedrinhaslevantadaspeloventoquedesfizeram
o equipamentocomosefossemestilhaços.Baker
e Tomacabaramportrabalharcoma empresade
engenhariaCampbellScientific,ajudandoa con-
ceberasestações.

Esta expedição destinava-se a preencher la-
cunas vitais, uma vez que os cientistas não dis-
põem de dados consistentes sobre as grandes al-
titudes. Uma destas lacunas é o vento. Com 8.850
metros de altitude, o Evereste é um dos poucos pi-
cos sufi cientemente altos para perfurar a corrente
de jacto subtropical, que infl uencia as rotas das
tempestades e as estações de crescimento agríco-
la. Outra lacuna diz respeito aos padrões de queda
de neve que sustentam os glaciares existentes aci-
ma da cota de 5.000 metros de altitude.
Tom e Baker tinham construído e carregado os
dispositivos capazes de revelar estes mistérios até
ao tecto do mundo, mas agora não tinham forma
de ligar o sensor de vento.


SOREN WALLJASPER. FONTE: TOBIAS BOLCH, UNIVERSIDADE DE SAINT ANDREWS

Os dois climatólogos
deslocaram-se ao
Evereste para partici-
parem numa ambiciosa
avaliação científi ca
da montanha.

Com dois meses de duração,
a Expedição Evereste Planeta
Perpétuo da National Geogra-
phic e da Rolex envolveu 34
cientistas, que realizaram tra-
balho de campo a várias altitu-
des na montanha, bem como no
vale de Khumbu. O grupo incluía geólogos, glacio-
logistas, biólogos, geógrafos e climatólogos.
“É uma janela nova aberta sobre o planeta”, dis-
se Paul Mayewski, líder da expedição e director
do Instituto de Alterações Climáticas da Univer-
sidade do Maine. “Estamos convencidos de que a
melhor maneira de fazer ciência no Evereste exige
muitos tipos de ciência.”
Sob a orientação de Paul, Tom Matthews, de
32 anos, e Baker Perry, de 44 anos, juntaram-se
a Panuru Sherpa, de 53 anos, e a uma equipa de
guias para abrir uma nova janela científi ca sobre
o cume. Além de duas estações meteorológicas
automatizadas, em redor do Acampamento-Base
(a 5.270 metros de altitude), o grupo planeava ins-
talar três estações no Acampamento II, em Wes-
tern Cwm (6.464 metros), no Acampamento IV,
no Colo Sul (7.945 metros), e no cume. As estações
transmitiriam os dados para um servidor infor-
mático instalado nos EUA e os dados poderiam
ser partilhados com cientistas de todo o mundo.

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