National Geographic - Portugal - Edição 232 (2020-07)

(Antfer) #1
JULHO | EDITORIAL

O último véu sobre


o Evereste


EVERESTE:
VIAGEM AO
TECTO DO MUNDO


RENAN OZTURK

romance. Inclui relatos de montanhistas
abnegados e de sherpas muitas vezes esque-
cidos. Histórias de ascensões interrompi-
das pelas intempéries ou travadas pela
tragédia. É provável que, antes de ler esta
revista, o leitor imagine que já conhece
todas as histórias do Evereste, mas há uma
ainda por concluir, como um livro do qual
tivessem sido arrancadas as páginas finais.
Em 1924, Sandy Irvine e George Mallory
tentaram subir ao Evereste, repetindo uma
missão que os obcecava desde 1922. Os dois
montanhistas desapareceram sem deixar
rasto. Em 1999, o corpo de Mallory foi
finalmente encontrado, mas permanecem
várias dúvidas: terão os alpinistas atingido
o cume ou morreram antes de concreti-
zarem o sonho? Há quase um século que
o final da história está por escrever e essa
incógnita alimentou várias conjecturas:
aparecerá algum dia o corpo de Sandy
Irvine? E a máquina fotográfica de Mallory,
desaparecida desde 1924, terá registado
os últimos progressos? Poderá o equipa-
mento estragar a glória de Edmund Hillary,
revelando que os dois atingiram o cume
antes da campanha de 1953?
Ainda não sabemos tudo sobre os
humores da montanha. Talvez seja melhor
assim. O Evereste, para nós, terá sempre
mais um mistério.

SE FOSSE POSSÍVEL CARTOGRAFAR o DNA
de uma organização como a National Geo-
graphic, à imagem do que se pode fazer
com qualquer organismo vivo, estamos
certos de que esse código genético estaria
repleto de montanhas. A exploração em
altitude e o desbravamento das grandes
montanhas têm constituído algumas das
aventuras mais notáveis em que a National
Geographic se envolve há 132 anos. Aliás,
a primeira bolsa de investigação atribuída
por esta sociedade científica distinguiu
precisamente um grupo de exploradores
que se disponibilizou para investigar uma
montanha desconhecida – no caso, o monte
Saint Elias, no Alasca, em 1890.
Desde o final do século XIX, mapeámos
todas as grandes elevações do globo. Já
não há montes por conquistar, nem fron-
teiras por desbravar. As grandes altitudes
acima do nível do mar estão hoje medidas.
Foram percorridas por gerações de aven-
tureiros intrépidos. Mesmo o Evereste, o
inacessível Evereste, foi vencido em 1953,
iniciando a lenta revelação de todos os
segredos da grande cordilheira. E este mês
mostramos-lhe como o cume do Evereste
será agora também a sede da mais elevada
estação meteorológica do planeta.
A história da conquista do Evereste tem
todos os condimentos de um grande


Visto do Acampamento-Base
Avançado, o tecto do mundo
parece tão distante como
a Via Láctea. Mais de duzentas
pessoas acampam ali e sonham
com a ascensão ao cume (o pico
mais à direita, quase escondido
pela neve que cai sobre
o Colo Norte).
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