National Geographic - Portugal - Edição 232 (2020-07)

(Antfer) #1

12 NATIONALGEOGRAPHIC


Depois do jantar, a
equipa da cozinha
descontrai junto dos
visitantes. O cozinheiro
nepalês Bire Tamang
(à direita, atrás) e o seu
assistente tibetano
Chhumbi (à direita)
prepararam refeições
nutritivas à base de
arroz, lentilhas, sopa e
massa para 30 a 40
pessoas por dia,
incluindo Da Gelje
(Dawa) Sherpa (à
esquerda, atrás), que
liderou a equipa de
apoio, e Pasang
Gomba Sherpa,
um guia privado.

estivesse a proteger o membro ferido. Indepen-
dentemente do sucedido, parecia evidente que
Mallory permanecera vivo, ainda que por pouco
tempo, ao cair no sítio do seu descanso final.
No início, Conrad e os seus colegas presumi-
ram que o corpo pertencia a Sandy Irvine por-
que foi encontrado quase directamente abaixo
do local onde o piolet de Irvine fora descoberto
na cumeada, quase uma década depois de ele e
Mallory desaparecerem. Estaria Mallory atado
a Irvine quando caiu? Se sim, como se partira a
corda e por que razão Irvine não fora encontrado
nas imediações?
Outros pormenores suscitaram ainda mais
questões. Os óculos de lentes verdes de Mallo-
ry foram encontrados no seu bolso. Significaria
isso que ele descera de noite, altura em que não

Mas ele implorou que parasse. “Muito perigoso,
muito perigoso!”
Jamie sabia que bastava eu escorregar nos
seixos soltos e poderia cair ao longo de dois mil
metros até ao glaciar Rongbuk. Parte de mim con-
cordava com ele e queria desistir. Após décadas
de montanhismo em todo o mundo, prometera
a mim próprio nunca transpor o limite em que o
risco objectivo se tornava excessivo.
No entanto, ignorei Jamie McGuinness, Lhakpa
e a minha própria promessa. O apelo do mistério
do desaparecimento de Irvine era demasiado forte.


H

Há muito que eu conhe-
cia a teoria segundo a
qual Mallory e Irvine
poderiam ter sido os
primeiros a escalar o
Evereste.

No entanto, só ficara com a fe-
bre de encontrar Irvine dois
anos antes, depois de uma pa-
lestra proferida pelo meu amigo
Thom Pollard, um veterano do
Evereste que vive a poucos qui-
lómetros de minha casa.
Ele telefonou-me mais tarde. “Não estás mes-
mo convencido de que podes encontrá-lo ou es-
tás?” perguntei-lhe.
Ele riu-se. “E se eu tivesse uma informação vital
que mais ninguém tem?”
“Por exemplo?”, interroguei.
Ele fez uma pausa de alguns segundos. “A loca-
lização exacta do corpo.”
Thom fora operador de câmara na Expedição
de Pesquisa Mallory e Irvine, em 1999, durante a
qual o alpinista americano Conrad Anker encon-
trou os restos mortais de George Mallory nesta
zona da vertente norte do Evereste, onde poucos
alpinistas se aventuraram até à data.
As costas de Mallory estavam completamente
expostas e a sua pele preservada apresentava-se
tão limpa e branca que parecia uma estátua de
mármore. A corda que trazia atada à cintura, en-
tretanto cortada, deixara-lhe marcas no tronco,
um indício de que, a dada altura, Mallory deverá
ter sofrido uma queda aparatosa. O que mais me
impressionou foi a forma como a perna esquerda
estava cruzada sobre a direita, que se partira aci-
ma da parte superior da bota, como se Mallory

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