TEXTO DE SUSAN GOLDBERG FOTOGRAFIA DE LYNN JOHNSON
O amor, o trabalho
e os outros desafios
OS ADULTOS
COM AUTISMO
A jornalista Judith Newman
partilha um momento de
silêncio com o filho Gus, que
tem perturbações no espec-
tro do autismo. Ele pede o
habitual beijo na cabeça antes
de sair para a escola. Judith
partiu da experiência familiar
de criar um filho autista para a
reportagem mais abrangente
sobre as perspectivas de vida
dos adultos com autismo.
Combinámos a história de Judith e
Lynn com uma reportagem sobre as
investigações mais recentes em torno
do autismo. Desde que foi identificado
pela primeira vez na década de 1940, os
investigadores têm desenvolvido esfor-
ços para explicá-lo. A causa permanece
um mistério, mas os cientistas começam
a perceber o que acontece no cérebro
destas crianças.
Esperamos que estas reportagens aju-
dem a perceber questões complexas que
afectam a vida de muitas famílias. Com
demasiada frequência, bloqueamos
aqueles cujo comportamento conside-
ramos peculiar ou ameaçador. “Vive-
mos com medo de pessoas socialmente
diferentes”, disse-me Judith. Aqui está
a pergunta que Judith Newman gos-
taria que tivéssemos em conta: “Será
assim tão negativa uma comunidade de
adultos necessitada de ajuda ou apoio...
mas que, de muitas outras formas, pode
viver autonomamente?”
Obrigado por ler a National Geographic.
“À MEDIDA QUE O GUS se vai aproxi-
mando da idade adulta, a lista dos
desafios que me preocupam vai cres-
cendo”, escreve Judith Newman sobre
o filho autista de 18 anos. “Mas as duas
perguntas que me tiram o sono são as
seguintes: encontrará um dia o amor e
conseguirá um trabalho que lhe interesse
e lhe permita sustentar-se?”
Amor e trabalho. Sigmund Freud con-
siderou-os os pilares da nossa humani-
dade e a forma pela qual muitos de nós
definimos as nossas vidas como adultos.
No entanto, como Judith escreve nesta
edição, encontrar amor e trabalho são
enormes desafios para pessoas com
transtornos do espectro do autismo.
Acredita-se que cerca de oito em cada
dez indivíduos deste grupo estejam
subempregados ou desempregados e
aproximadamente o mesmo número
confessa que gostaria de ter um parceiro
romântico. Muitos não têm.
Como o número de pessoas com
autismo está a crescer, pedimos a Judith
e à fotógrafa Lynn Johnson para esclare-
cerem essa condição pouco compreen-
dida. Muito foi escrito sobre crianças
autistas, mas pedimos desta vez que se
concentrassem nos adultos autistas.
Como Judith diz: “Passo muito tempo
a pensar sobre o que será preciso para
tornar o meu filho independente. Há dias
em que não penso noutra coisa. Não sou
a única. Estima-se que existam quatro
milhões de autistas nos EUA e há cer-
tamente muito mais de quatro milhões
de pessoas neurotípicas que os amam.”
O resultado desta colaboração entre
Judith e Lynn é uma visão íntima da
vida de adultos autistas. O texto de
Judith é engraçado e comovente.
A fotografia de Lynn Johnson convida-
-nos a procurar uma compreensão mais
profunda dos indivíduos fotografados.
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