National Geographic - Portugal - Edição 230 (2020-05)

(Antfer) #1

24 NATIONALGEOGRAPHIC


No sector das
montanhas Great Smoky
sob jurisdição do estado
do Tennessee, Graham
Montgomery,
doutorando da UCLA,
recolhe insectos na
folhagem, na tentativa
de reproduzir um
levantamento feito
há 70 anos. Como os
dados sobre insectos
a longo prazo são raros,
é difícil apurar a
dimensão do seu
declínio. No passado,
não era frequente
os entomólogos
contarem insectos.
Havia sempre muitos.


A paisagem circundante é muito diferente da
de La Selva. Aqui predomina a floresta tropical
seca e, no alto das montanhas, floresta nebulosa
em vez da floresta húmida das zonas baixas. No
entanto, também ali Dan e Winnie constaram um
declínio dramático dos insectos. Winnie recordou
que, em meados de 1980, quando adquiriram o
primeiro computador pessoal, o ecrã atraía tantos
insectos durante a noite que tiveram de montar
uma tenda dentro de casa e trabalhar lá dentro.
“Agora estou num estado em que qualquer in-
secto que atravesse a minha secretária, à noite, vai
parar a um tubo de plástico com álcool”, juntou
Dan. Ele tinha voltado à Costa Rica há duas sema-
nas e recolhera apenas nove insectos.
Esta equipa também atribui grande parte do
declínio às alterações climáticas. Dan Janzen, de
81 anos, disse que, quando começou a visitar a
Costa Rica em 1963, a estação seca durava quatro
meses. “Actualmente, temos uma estação seca de
seis meses, pelo que todos os insectos cujas vidas
estavam organizadas para uma estação seca de
quatro meses recebem agora dois meses extra.

La Selva está rodeada de unidades agrícolas, o
que gera problemas como a fragmentação de ha-
bitats e uso de pesticidas, mas Lee acredita que
os principais motivos para o declínio são as alte-
rações climáticas. Ele aponta para o aumento de
eventos climáticos extremos, como as cheias. Mui-
tas espécies de insectos “são susceptíveis a condi-
ções climáticas extremas, sobretudo nos trópicos”,
disse. “Não estão adaptadas a grandes flutuações.”
Dan Janzen e Winnie Hallwachs são especia-
listas em ecologia tropical da Universidade de
Pensilvânia. Passam parte do ano em Filadélfia e
parte a norte da cidade de Liberia, na região oci-
dental da Costa Rica, numa casa que partilham
com qualquer animal selvagem que ali se instale,
incluindo amblipígios e morcegos. Quando um
visitante vindo de La Selva lá chegou, Winnie
apontou para uma barata com sete centímetros
de comprimento que estava sob o lava-loiça. “Eu
digo às pessoas que os livros são apenas comida
para térmitas”, acrescentou Dan, gesticulando em
direcção a um pequeno monte de papel desfeito
numa das estantes.

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