Valor Econômico (2020-07-16)

(Antfer) #1

JornalValor--- Página 8 da edição"16/07/20201a CADB" ---- Impressa por ivsilvaàs 15/07/2020@20:43:50


B8| Valor|Quinta-feira, 16 de julhode 2020


Empresas|Tendências&Consumo


‘Vinhosde


Portugal’


vaiparaa


internet


Bebidas


Renata Izaal
O Globo, do Rio

As redes sociais mostramque o
vinho se tornouum companheiro
para os brasileiros no longo perío-
do de isolamento social, que para
quempodeficar em casa já passa
de quatro meses.As vendas online
devinhosnoBrasilcrescerammais
de 30% durante aquarentena e
houveum aumentode 60% no nú-
merode novas lojasvirtuais,se-
gundoaplataformaNuvemshop.
São cursos,provase “lives”que
deixamclaroque obrasileiroes-
tá comprando, consumindoe fa-
landosobrevinhosna internet.É
nessecenárioque o evento“Vi-
nhosde Portugal”terá a sua pri-
meiraediçãototalmentedigital
emoutubro.
Diante de uma pandemiaainda
fora de controle, o eventode vi-
nhosportuguesesrealizado pelos
jornais“OGlobo”,Valoreo“Públi-
co”, de Portugal, se expandirá para
todo oBrasilcom acriaçãodeuma
plataforma digital. O “Vinhos de
Portugal”, queteriaesteanosuasé-
timaediçãono Rio e aquartaem
SãoPaulo,aconteceráde23a25de
outubronateladocomputadorou
dosmartphone.
“Houveumincrementonasven-
das dos meusvinhos, principal-
mente em mercados fora do eixo
Rio-São Paulo.Durante aquaren-
tena,os meios digitaisconquista-
ram maior relevância na vida das
pessoas,queentenderamasvanta-
gensdestaformadeconsumirpro-
dutos, informações e lazer”, diz Ju-
liana Kelman,da KelmanWines,
que produz vinhos no Dão.Para
ela, “a principal vantagemdo Vi-
nhosde Portugalacontecer em
ambiente digital é a oportunidade
de atingir omercado brasileiro co-
moumtodo”.
Maisde 60 produtores já con-
firmaram aparticipação no
evento.Serão três dias de “lives”
em que eles apresentarãonovi-
dadesaosconsumidoresehaverá
provasdigitaiscom críticosbra-
sileiroseportugueses.Opúblico
participanteterá duasopçõesde
ingressosparaoevento:como
envio de vinhosounão. As infor-
maçõessobreingressosserãodi-
vulgadasembreve.
Único“master of wine”de lín-
gua portuguesa, DirceuVianna
Júniorcomandará provasno no-
vo formatodo Vinhosde Portu-
gal. “Pelo fato de ser um formato
diferentevai ser especial. A gran-
devantageméqueaspessoaspo-
derão acompanhar as provas
desdeo confortode suas casase
poderãousarosvinhosemsegui-
da para harmonizarcom algo es-
pecial.Vamos criarnovasexpe-
riências,mas já pensandoem es-
tar juntosno próximoano”, disse
oespecialista.
O eventoé feitoem parceria
coma Vinhos de Portugale o
apoiode Institutodos Vinhosdo
Douroe Porto (IVDP),Comissão
Vitivinícolado Alentejo,Agência
Regionalde PromoçãoTurística
do Centrode Portugale Associa-
ção Portuguesa de Cortiça(AP-
COR).ParticipamtambémaCo-
missãoVitivinícolado Dão e a
AzeitesEsporão.Ac uradoriaé da
OutofPaper.

LilianaLupo, presidenteda Lupo, fala da produçãode máscaras: “Hojenão consigoatender todos os pedidos”

ANAPAULAPAIVA-VALOR

TêxteisMetadecrescer10%nesteanovirouretraçãodeaté60%nasvendaseagorade30%


Como a Lupo está enfrentando a


‘montanha-russa’ da pandemia


CibelleBouças
De São Paulo

ALupo, fabricante de meias,
roupas íntimas e esportivas, dona
das marcas Lupo, Scala e Trifil, está
em umaverdadeira montanha-
russa nesteano. Antes da covid-19,
ameta era crescer 10% emrelação
ao ano passado. Coma pandemia,
aprojeçãoviroudeponta-cabeçae
foi para uma queda de até 60% —
agora, depois de ter estreado na
produção de máscaras para prote-
ção contra o novo coronavírus, a
retraçãoprevistaéde30%.
“Estávamos trabalhando para
cumprir oorçamento de 2020,
quando fomos atingidos pelaco-
vid-19. Foi algo que ninguém ima-
ginou que aconteceria no Brasil,
nos pegou de surpresa”, afirmou
Liliana Aufiero, de 75 anos, direto-
ra presidente da Lupo eneta do
fundadorda empresa,Henrique
Lupo. Em 2019, aLupo registrou
receita líquida de R$ 901 milhões,
com avanço de 3,8%sobre o ano
anterior.Olucro líquidoatingiu
R$ 111 milhões, ante um lucrode
R$ 97 milhões no ano anterior,
crescimentode14,4%.
No começo da pandemia,a
executiva chegou apreveruma
quedaem vendasno ano de 40%
a 60% em relaçãoa 2019,mas
mudou a projeção, acompa-
nhandoa evoluçãodo varejono
segundotrimestre,que apresen-
tou umapequenarecuperação
nademandaporitensbásicos.
A procurasúbitapor máscaras
de tecidotambém gerouvendas
inesperadasparaa companhia.
“Era um produtoque não tínha-
mosantesda pandemiae que
acabouse tornandoum fatura-
mentoinesperado”, disse Liliana.
De acordocom aexecutiva, entre
abrilejunho, aLupo produziue
vendeu1,1 milhãode kits con-
tendoumpardemáscaras.
“Hoje não consigo atenderto-
dos os pedidos e não tenho capa-
cidadeparacrescermaisaprodu-
çãodemáscaras”,disseLiliana.
Apesar da demanda reprimida,
Liliana disse não ter interesse em
investir em equipamentos para
ampliar a produçãode máscaras.
Por dois motivos.Aexecutiva con-
sidera que a demandapor másca-
ras vai diminuir nos próximos me-
ses, àmedidaque apandemia for
controlada. Outromotivo é que a
produçãodesse itemexigecontra-

taçãode costureiras para finalizar
as máscaras eofocoda Lupoéa
produção semcostura, feita em
teares,semcosturamanual.
O kit de máscaras évendido no

sitedaLupoporR$17,90.Oprodu-
totambémédistribuídoparaova-
rejoem todoopaís. As máscaras
são feitas com ofio têxtil de polia-
mida Amni Virus-Bac OFF, desen-

volvido pela Rhodia, empresa quí-
micadogrupobelgaSolvay.
Esse fio bloqueiaacontamina-
çãocruzadaentreosartigostêxteis
e o usuário, evitando que a roupa
se torneum veículo de transmis-
são de bactérias e vírus, incluindo
os vírusenvelopados, comoocau-
sador da covid-19. Futuramente,
segundoa executiva, esse fio será
usadoemroupasesportivas.
Liliana disse que a Lupo come-
çou a produzir máscaras para
atenderum pedido da SantaCasa
de Araraquara, quesofria com a
falta do itempara proteger os
atendentes. A famíliaAufiero e ou-
tros empresáriosda região tam-
bémarrecadaramR$2milhõespa-
ra montar 10 leitos de UTI para o
hospitaldacidade.
A Lupo fez adaptações em
equipamentos parafazerapro-
duçãode máscarasaos profissio-
nais de saúde.Aempresaprodu-
ziu e dooumaisde 50 mil másca-
ras parao hospitalem abril.En-
quantoproduziapara doar, a
empresa foi procuradapor clien-
tesinteressadosnasmáscaraspa-

ravendanovarejo.
Nesse período, aempresa já ti-
nha concedido férias coletivas
aos empregados. “Pedimosque
quem pudesse viesse paraa pro-
dução das máscaras paradoação.
Organizamos o salão, aumentan-
do a distância entre os equipa-
mentos, adotamosusode másca-
ras,toucas,álcoolemgel,criamos
novos rituais de trabalhopara
protegeraequipe”, disseLiliana.
A Lupoconcedeu fériascoleti-
vas e fez uso de bancode horase
antecipaçãode fériaspara deixar
os empregadosem casa em abril.
Aempresatambémfez uso da
MedidaProvisória936 para ado-
tar licençasnão remuneradase
reduçãodejornadaesalários.
“Fizemosademissãode8%dos
empregados, com focoprinci-
palmente em quem estava em
contrato de experiência”, dissea
empresária.Atualmente, a Lupo
operacom94% da sua forçade
trabalho,ou4,3 mil pessoas.Ou-
tras 304 estãoafastadase 39 es-
tãocomcontratosuspenso.
ALupo mantém agora os fun-
cionáriosemjornada de 6 horas
diárias,emvezde8horas,massem
redução de salário.Liliana disse
que com essa mudança a empresa
ficacomacapacidadeajustadapa-
ra atendera demandamenor. A
Lupotambém reduziudespesas e
investimentosempublicidade.
Aempresáriadisseaindaquea
empresa ajustouas comprasde
matérias-primas, concentrando
o foco na produçãode itensbási-
cos, para uso no dia adia. “Quan-
do ocomérciovoltoua abriras
portas começamos areceberpe-
didos de produtos básicos e esta-
mos navegandonessaondaago-
ra”,afirmouaexecutiva.
Apresidenteda Lupoavalia dia-
riamenteaevoluçãodasencomen-
das, do faturamentoedos gastos
para manteraoperaçãosaudável.
“Por enquantoestamos sob con-
trole. Mas se houver mudança no
mercado vamos buscar fazerno-
vosajustes”,afirmouaexecutiva.
AconsultoriaIemiInteligên-
cia de Mercado, estimaque o
mercadode modaíntima,que
movimentouR$ 18,4 bilhõesno
país com vendasde 759 milhões
de peçasno ano passado,terá
quedade 15,6%nesteano em re-
laçãoa 2019.Esse númeroserá
revistodependendoda evolução
noritmodereaberturadelojas.

Fonte:Empresa

Indústria e varejo


Estrutura da Lupo


Fundação
1921
Fundador
HenriqueLupo
Controlador
FamíliaLupo
Sede
Araraquara(SP)
Fábricas
Araraquara(SP)e Itabuna(BA)
Produtos
Meias, lingerie, cuecas e roupasesportivas
Marcas
Lupo,Scala,Trifil
Redede lojasfranqueadas
382 lojasLupoe 80 lojasScala
Númerode empregados
4,6 mil

Receitalíquida- R$ milhões

Lucrolíquido- R$ milhões

700

750

800

850

900

950
868,2

900,9

2018 2019

0

20

40

60

80

100

120

140
97,0

110,9

2018 2019

Chineses lutam para controlar grifes de luxo


Inadimplência


DonWeinlande Victor Mallet
FinancialTimes,de Pequime Paris

Investidoreschinesesquedizem
serdescendentesdeumrenomado
calígrafo do século IV estão lutan-
do para mantero controle de uma
fabricante de cristais francesa de
256 anos, após uma sériedecalo-
tes e de um negócio de crédito pri-
vadomalsucedido.
Os percalços da Fortune Foun-
tain Capital, de Pequim, e sua luta
para mantero controle da Bacca-
ratCrystalcolocamemevidênciao
quadro geral problemáticosendo
enfrentadoporinvestidoreschine-
ses que assumiramgrandes dívi-
das paracomprarmarcas euro-
peias, algumas vezespor meio de
acordosde crédito privado,que
nãopassampelosmercadospúbli-
cos ecostumamtertaxas de juros
bemmaioresqueadosbancos.
A Fortune Fountain, que se des-
creve comoumaplataformade
gestão de fortunas eum escritório
familiar, acertou acomprada Bac-
caratpor€164 milhões em junho
de 2017. Na época, prometeu in-
vestiraté€30milhõesnaempresa.
Em 2019, no entanto,aFortune
Fountain deixou de honrarum
empréstimoconcedido por duas
firmas de créditoprivado de Hong
Kong, a TorInvestment Manage-
menteaSammasanCapital,quefi-
nanciaram pelo menosmetade do
valor de empresa da compra,se-

gundofontes.
Em marçodeste ano,ogrupo
chinês substituiu a CEO da Bacca-
rat, Daniela Riccardi, por Sun
Zhen, um acionista na Fortune
Fountain. A mudança infringiu
cláusulas que exigiam o aval das
firmas de crédito para que a Fortu-
ne Fountain trocasse altos executi-
vos,segundoasfontes.
O imbróglio desencadeou
umaluta pelocontroleda céle-
bremarcafrancesadeluxo.
As firmas de crédito substituí-
ram oúnico membrodo conselho
de administração na empresa de
participações donade cercade
97% da Baccarat,oquelhes deu o
direito de votar contra a renomea-
ção de Sun na assembleiageral
anualede indicarumexecutivo
com experiênciano setor de luxo
francês.
“Isso estásendofeitonão ape-
nas para proteger as firmas de cré-
dito,mas acima de tudo para pro-
tegera empresa”, diz ogrupocre-
dor,referindo-se àsua tentativade
indicarumnovoCEO.
O atual conselho de administra-
çãoadiouaassembleiaanual,mar-
cadaparaestemês,parasetembro,
comoquepostergouavotação.
A FortuneFountainnão res-
pondeu aos pedidos para co-
mentar oassunto. ABaccaratin-
formou que não pretendia se
pronunciararespeito.
A empresa francesa, que leva o
nomeda cidade no leste da França
ondefoi fundada em 1764, éco-

nhecidaporseusobjetosdecristal,
joias eluminárias. Suastaças de
champanhe podem custar mais de
€2,5 mil cadae seus candelabros
podemse vistos em palácios pelo
mundo,deMoscouaIstambul.
AFortuneFountainCapital foi
criada em 2017como um serviço
degestãodefortunasparafamílias
ricasnaChinaeemHongKong.Di-
zia ter “atraído executivos de ban-
co de investimentode elitedo
GoldmanSachs,Merrill Lyncheda
City londrina”equeseus serviços
incluíamexperiências de luxo, co-
movinhosfinos,obrasdearteear-
rendamentodejatosexecutivos.
Osite da empresainformaque
seusinvestimentosacumulados
superam 50 bilhões de yuans
(US$7,1 bilhões). A históriade
queseusdonossãodescendentes
deWangXizhi,umdoscalígrafos
maisfamososda antigaChina,
aparececomdestaquenomarke-
tingdaFortuneFountain.
A comprada Baccarat em 2017
coincidiu comuma enxurradade
aquisições no exterior,segundo
dadosdaRefinitiv.Nomesmomês,
aFortune Fountain comprouuma
produtoraneozelandesademelde
manuka.Em2018,comprouparti-
cipação controladora na Antiquo-
rumManagement, umacasade
leilões suíçade relógios, e uma
grande participação na empresa
de pesquisas genéticas DiaCarta,
quetemsedenaCalifórnia.
Fontes apar da compra da Bac-
carat disseram que aFortune

Fountain não conseguiucumprir
muitas de suas promessas de in-
vestimentonaempresafrancesa.A
mídia chinesa temnoticiado que a
Fortune Fountaintem grandes dí-
vidasnaChina.
Ainadimplência levouaFortu-
ne Fountain à lista cada vez maior
de investidores chinesesque com-
praramativos de luxo na Europae
acabaram encontrando dificulda-
des para fecharos negócios ou
mantê-los.
A ShandongRuyi, outroralou-
vadacomo a“LVMH da China”,
comprou maisde uma dezenade
marcasde luxoestrangeiras, mas
sofreucoma escassez de crédito
em casa,oque a obrigouavoltar
atrás na comprada fabricante suí-
ça de bolsas esapatos Bally.O
Gangtai Group,com ações nego-
ciadas em Xangai,acertou a com-
pra da marca milanesade joias
Buccellati em 2017, masdepois
acabouvendendo-aàRichemont.
Quando, a partir do início de
2017, Pequim aumentouafiscali-
zação sobre os investidores que le-
vavam dinheiro ao exterior,as em-
presas comprando ativos estran-
geiros passaramacaptar maisdi-
nheiro de firmas de crédito priva-
doforadaChina.
Aalocaçãodessamodalidadede
crédito a captadoreschinesessu-
biu de US$ 432milhões em 2017
paraUS$ 1,25 bilhão no fim de
2019, segundoa PwC. Os ativos de
fundosdo tipo com sede na Ásia e
em outras regiões investindo no

mercadochinêsaumentarampara
US$ 9,3 bilhões em 2019,emcom-
paração aos US$ 1,9bilhão de cin-
coanosantes.
Os termos de acordos de crédito
privadoraramente sãorevelados,
mesmoquando as empresas ficam
inadimplentes. Em alguns casos,
como oda vendado clubede fute-
bol italianoAC Milan, os números
vieramàtona.
Um investidor chinês captou
um créditode 300 milhõesdeeu-
ros comtaxade jurosanual de
mais de 11% do fundo hedgeame-
ricanoElliottManagement,segun-
do noticiado pelo “Financial Ti-
mes”.Quando oinvestidor ficou
inadimplente, o ElliottManage-
mentassumiuoclube.
James Dilley, sócio da área de
aquisições na PwC,diz que calotes
comoessesdecaptadoreschineses
têm se tornado umatendência.
“Atribuo isso a umacombinação
[de fatores]: muitosdessesnegó-
cios foram assinadospor valores
altos, os compradoresencontra-
ram dificuldadepararefinanciar
dívidas, houve problemas para
conseguir liquidez adicional fora
da China em razão dos controles
de capital em vigor e, em alguns
casos, houve fraco desempenho
dosativosounegóciossubjacentes
[do crédito]”, disse.(Traduçãode
Sabino Ahumada)

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Cenário para 2021
AsindústriastêxteisdoEstado
deSãoPaulo,reunidasnoSindi-
têxtil,projetapara2021umcres-
cimentode7%naproduçãodo
setor,apósfechar 2020 comuma
quedade15%emrelaçãoaoano
passado.Paraasvendasnovare-
jo,aentidadeprojetaumaalta
de9%em2021,apósumaretra-
çãode20%nesteano.Aassocia-
çãotambémprevêparaopróxi-
moanoumageraçãolíquidade
6milpostosdetrabalho.Paraes-
teano,aprevisãoédeumfecha-
mentolíquidode10milvagas.
Antesdapandemia,osetorem-
pregava450milpessoas.
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