Valor Econômico (2020-07-16)

(Antfer) #1

JornalValor--- Página 10 da edição"16/07/2020 1a CAD B" ---- Impressapor gavenia às 15/07/2020@21:08:3 2


B10|Quinta-feira, 16 de julhode 2020


Agronegócios


ComércioPequimquerqueMinistériodaAgriculturabarreoutrasduasunidadesporcausadaocorrênciadecovid-19


China pede suspensão de mais frigoríficos


Rafael Walendorffe
Luiz HenriqueMendes
De Brasíliae São Paulo

AChinapediuaoMinistérioda
Agriculturaquesuspendaahabi-
litação paraexportaçãode car-
nesdemaisdoisfrigoríficosbra-
sileiros em consequênciada con-
taminaçãode funcionáriospela
covid-19,apurouoValor.
Os adidosagrícolasdo Brasil
em Pequim receberam ontem
umacarta enviadapelaAdmi-
nistração Geral de Alfândegas
chinesa (GACC, na siglaem in-
glês)sugerindoque os estabele-

cimentossejambloqueadospe-
lo ministériopara evitarque os
asiáticosos retiremda lista,o
que levaria aum processomais
demoradoposteriormentepara
a retomada das vendas.
OValorapurouque a Pasta co-
mandada por Tereza Cristinare-
siste em suspenderas plantas,já
que não vê motivosparaisso e
preferenão passarrecibo. O pe-
didoédirecionadoaum frigorí-
fico de carnebovina e outrode
aves. Essa resistência,noentanto,
não impede que a Chinainter-
rompa as compras.“Não está
muitoclarooque vai acontecer”,

afirmouumafontedeBrasília.
Segundoumafonteouvidape-
loValor,aChinatambémpediu
informaçõessobreasituaçãode
mais15 unidades.Outrafonte
confirmoua solicitação,mas não
soubedizer quantos frigoríficos
foramalvo do pedido. JBS, BRF,
Marfrig,Minuano eAgra já tive-
ram plantassuspensas.Ao todo,
seis frigoríficos estãocom as ex-
portações de carnespara a China
suspensas.Cincoforambloquea-
dospeloschineseseumpordeci-
são tomadapelopróprioMinis-
tériodaAgricultura.
A falta de critérios técnicos

paraasuspensãopor partedos
chineses tem sido a principal re-
clamaçãodo governobrasileiro,
que mantém diálogoconstante
com os técnicosdo GACC.O Bra-
sil enviouinformaçõessobreas
medidas de prevençãoà covid-
19 adotadas pela indústria de
carnesdo país —um recente
protocolo interministerial en-
trouem vigor paraharmonizar
as açõesnecessárias—epediua
retomadadas exportações das
unidadessuspensas, mas ainda
não obteverespostas.
Em Brasília, já não é descarta-
da a possibilidadede o país ava-

liar algumamedidaprotetiva de
comérciointernacional, até no
âmbito da OrganizaçãoMundial
do Comércio(OMC),caso o diá-
logo não evoluapara liberações.
No momento, porém,um ques-
tionamentona OMCpareceim-
provável. A China,principal des-
tino das exportaçõesbrasileiras
de carnes,vem adotandorestri-
çõessemelhantes comfrigorífi-
cos de diversospaíses,comoEs-
tadosUnidos,Alemanda,Holan-
da,ReinoUnidoeArgentina.
OntemmesmoPequimbarrou
temporariamenteasexportações
de seis frigoríficosargentinosde

carnebovinaapós aidentifica-
çãodecasosdecoronavírusentre
trabalhadores,segundo a agên-
cia Reuters.Tambémo principal
destino das exportações de carne
bovinada Argentina, lideradas
pelasempresasbrasileirasMar-
frig eMinerva,aChinapediuao
país sul-americano garantias
adicionais de segurançados pro-
dutos enviadosa seu mercado.
(ColaborouMarcelaCaetano)

Indústria deaves e suínos prevêavanço


FernandoLopes
De São Paulo

Poderiaatésermelhor,mascres-
cer num ano em que tantossetores
da economiaestãonaufrangando
já é, por si só, um privilégio. E as ca-
deias produtivas de carnesde fran-
go esuína do país vão crescerem
2020,emboraemmeioaturbulên-
cias,aumentodecustos,gastosadi-
cionais provocadospela pandemia
e embargostemporários—eaté
agora pontuais —na China, princi-
paldestinodasexportações.
Projeçõesdivulgadas ontempela
Associação Brasileira de Proteína
Animal (ABPA), que representaas
agroindústriasdo segmento, sinali-
zaramque,nocasodacarnedefran-
go, aprodução deverá crescer de 3%
a4%em2020emrelaçãoa2019,pa-
ra até 13,8 milhões de toneladas. As
exportaçõestendemaganhartração
nos próximosmeses e o volume de
embarques tendea registrar incre-
mentoentre3%e5%noano,paraaté
4,45 milhões de toneladas, ao passo
que o consumo per capita interno
está calculadoem 43,9 quilos por
habitante,comavançode2,5%.
Na área de carnesuína,aentida-
de estimaaumentosde 4% a 6,5%

daprodução,paraaté4,25milhões
de toneladas, ede 27% a 33% do vo-
lumedeexportações,paraaté1mi-
lhão de toneladas. Para o consumo
per capital a previsão édeestabili-
dadeem tornode15,3 quilos por
habitante, como no ano passado.
Para os ovos ocenárioé até mais
otimista, comsinaisde variações
positivasde 7% da produção e de
8,5%doconsumopercapita.
Comoexplicou ontemRicardo
Santin,diretor-executivo, em condi-
ções “normais”no Brasil e no mun-
do, com crescimento econômico, os
resultados previstos poderiam ser
melhores. Mas ofato éque, em um
ambiente de crise, as proteínas ani-
mais maisbaratas que a carnebovi-
na normalmentesão favorecidas
por um movimentode substituição
de consumo que, neste ano,tem fei-
to a diferençasobretudono próprio
país,destino da maiorparteda pro-
duçãodascadeiasdeavesesuínos.
Nenhumproduto espelhame-
lhor essa substituição que os ovos,a
proteína maisacessível. Se o leitor
se detiver por dois segundosnesta
frase, 4mil ovos —sim, 2 mil por
segundo!—terão sido produzidos
no Brasil para atenderà demanda.
Apesar de um projetado aumento Fonte:ABPA

Frangoe suínos


Projeçõesda ABPAnos cenáriosmaisotimistas


Carnede frango

Carnesuína

Ovos
Consumoper capita
Unidades/hab

2019 2020

100

145

190

235

280
230

250

Exportação
Milharesde t

2019 2020

0

3

6

(^9) 7,698
3,500
Produção
Bilhõesde unidades
2019 2020
0
10
20
30
40
50
60
49,055 53,000
Consumoper capita
Kg/hab
2019 2020
0
5
10
15
20
15,3 15,3
Exportação
Milhõesde t
2019 2020
0
1
2
3
4
5
0,750 1,000
Produção
Milhõesde t
2019 2020
0
1
2
3
4
5
3,983 4,250
Consumoper capita
Kg/hab
2019 2020
100
145
190
235
280
42,84
43,90
Exportação
Milhõesde t
2019 2020
0
2
4
6
8
10
4,214 4,450
Produção
Milhõesde t
2019 2020
0
4
8
12
16
13,245 13,800


Produção agrícola pode mais que dobrar em


áreas que hoje são pastagens, reforça estudo


Ambiente


CamilaSouzaRamos
De São Paulo

Aárea ocupadapela produção
agrícola podemaisque dobrar no
Cerrado e na Amazôniasem que ne-
nhumavegetaçãotenhaqueserreti-
rada,mas para isso apecuáriapreci-
sa intensificar paraacompanhar o
ritmo de crescimento projetado pa-
ra a demanda.Éoque concluiestu-
do de seis pesquisadoresbrasileiros
e americanosa partir de dadosdo
CadastroAmbientalRural(CAR)pu-
blicadonarevista“Sustainability”.
Com 31 milhões de hectares ocu-
padospor culturas agrícolasem
2017,osdois biomas tinham então
74 milhões de hectares de terras já
desmatadas e aptasparacultivos.
Porém, dessaporção,64 milhões de
hectaresjáerampastagens.
Os pesquisadores traçaramqua-
tro cenáriosde expansão da área
agrícola no Brasil, considerando
tantoas possibilidades previstas no
Código Florestal como a alternativa
maisrestritiva, de desmatamento
zero. E, mesmonessecenário, viram
espaçoparaavançodaagricultura.
Para a expansão agrícola não der-
rubar nenhumaárea de vegetação
nativano Cerrado nem na Amazô-
nia, e avançarsobreáreas de pasta-
gem,a extensãoocupadapela pe-
cuária poderia se deslocar por ou-
tros 47 milhõesde hectares, que
equivale à área que já foi desmatada
nesses biomasmas que não são ap-
tas à agricultura. Trata-se de uma
área menor que aocupada por pas-
tagensnessesbiomasatualmente.
Mesmo se for consideradoum

horizonte de dez anos, apecuária
ainda precisaria se intensificar para
que aexpansão da agriculturanão
avancesobre vegetação nativa. Em
2018,o Ministério da Agricultura
previaque, até 2028, a área agrícola
teria que crescer 24 milhõesde hec-
taresparaatenderàdemandaglobal
por alimentos brasileiros,enquanto
a produção da pecuária teria alcan-
çar125milhõesdecabeçasdegado.
Porém, se o nívelde ocupação de
bois por hectarese mantiveromes-
mo de 2017, seria preciso que a pe-
cuáriaavançasse por 76 milhões de
hectaresde2018a2028,umaexten-
são maior que os 47 milhões já des-
matadosnoCerradoenaAmazônia.
Oestudoressalta que apecuária

poderia melhorar comestratégias
“realistas” de intensificação e preci-
saria elevar a ocupação de 1,64 para
2,66 cabeçapor hectare. Odesafio,
porém, é garantiros elevadoscus-
tos com apoiotécnico eacessoafi-
nanciamentocom critérios susten-
táveis, defendem os pesquisadores.
Osegundocenáriotraçadoconsi-
dera que aprodução agrícola pode
avançar sobrevegetações nativas
não florestais,respeitando as regras
do Código Florestaldepreservação
de reserva legalnas propriedades.
Nessecaso, 5 milhões de hectares
poderiam ser desmatados no Cerra-
do e na Amazônia alémda extensão
jádesmatadaem2017,massómeta-
dedessaáreaéaptaàagricultura.

A maiorpartedessa área adicio-
nal (4,2milhões de hectares) po-
deriaser desmatada no Cerrado.
No casoda Amazônia, oestudo
calculouquehá1milhãodehecta-
res que poderiam serdesmatados
dentro das regrasdo CódigoFlo-
restal eque não ficariamde fora
das regras da Moratória da Soja
(cujoimpedimento àprodução é
emáreasdesmatadasapós2008).
Em um terceiro cenário, que con-
sideratodosos tiposde desmata-
mento previstos no Código Flores-
tal, incluindoflorestas, aárea que
poderia ser desmatada ante ocená-
rio de 2017 seria de 51 milhões de
hectares —maiorque aEspanha.
Mas nem toda essaextensãoestaria
aptaà agricultura:30 milhõesde
hectarespoderiam ser cultivados
comalgumaproduçãoagrícola.
Comoo CódigoFlorestalprevê
umaáreamenordereservalegalnas
propriedades do Cerrado, o bioma
concentrariaa maiorparte (76%)
dessedesmate legal.Na Amazônia,
dos 12 milhões de hectaresque po-
deriam ser desmatadoslegalmente,
1milhãonãosãoagricultáveis.
Emumquartocenário,emqueos
produtores respeitemas regrasde
recuperação de vegetação e de com-
pra de Cotas de Reserva Legal(entre
quemtem reservas de “sobra” por
quemtem déficit em suas proprie-
dades), aárea disponível para des-
mateseria menor, de 40 milhõesde
hectares —21 milhõesde hectares
dosquaisadequadosàagricultura.

Trabalhode pesquisadores de Brasil e EUA leva em conta intensificaçãoda pecuária

ANNACAROLINANEGRI/VALOR

Nova proposta de MPtaxa


ganho comvendade CBios


Tributação


De São Paulo

Circula entre a equipe econô-
micado governouma proposta
de medida provisória elaborada
no Ministério de Minas e Energia
(MME),àqualoValorteveacesso,
que prevê umatributação sobre
os ganhos comavendade Crédi-
tos de Descarbonização (CBios)
nos primeiros anosdo Renova-
Bio,escalonadaatéchegara15%a
partir de 2023. A proposta tam-
bém contempla benefício às dis-
tribuidorasdecombustíveis.
A propostacria alíquotasde im-
postode renda sobreos ganhoslí-
quidos coma venda de CBios —
emitidos por produtoresde bio-
combustíveiseque equivalema
uma tonelada de carbonode emis-
são evitada —de 5% em 2021, 10%
em 2020e 15% de 2023 em diante.
Para fundamentar aproposta,o
esboço da MP trata o CBio comoum
títuloqueofereceganhodecapitala
quemvende —emissor primário ou
investidor especulador, que negocia
CBios na B3. A proposta prevêuma
tributaçãomenor do que aprevista
no regime de tributação sobrega-
nhosdecapital—de15%a22,5%.
Daformacomoestáhoje,oCBioé
consideradoum ativo do emissor,
portanto tributadoem 34% (impos-
to de renda e CSLL).Houveuma ten-
tativadabancadaruralistadeincluir
um artigona MP do Agroprevendo
alíquotade 15%sobreavendade
CBios, masfoi vetadopor JairBolso-
naro após aReceita Federal conside-
rarqueseriaumarenúnciafiscal.
A minuta da novaMP trazuma
novidadeem relaçãoàsdiscussões

anteriores ao prever que as distri-
buidoras —obrigadas a comprar
os CBios para atenderemàs metas
de descarbonização —possamde-
duziradespesa com esses títulos
do IR. As distribuidoras poderão
consideraraaquisiçãodeCBiosco-
mo despesas operacionais ao cal-
cularemolucroasertributado.
OMME foi assessorado por He-
leno Torres, professorde direito fi-
nanceiro da USP.Procurado, oad-
vogado afirmouque a proposta
inovaao qualificar os CBios como
um meiode pagamento fungível.
“Ficará na competência do Banco
Central, mas a medida prevê queo
CBiopossaser comprado por não
residentes no país. Aideiaédeixar
clara anatureza jurídica de ativo
ambiental com caráterdecircula-
ção, eisso nãoestava comtanta
clarezanalei”,disseele.
Aequipedo governo voltada ao
RenovaBiosemprequisqueosCBios
pudessemser compradosnãoape-
nas pelas distribuidoras, mas tam-
bémpor empresas internacionais
com metas de descarbonização no
exterior, por exemplo.Não havia
uma figura jurídicaclara para per-
mitiressasnegociações,disseTorres.
Ele defendeu, ainda, que as alíquo-
tas iniciais menores serviriampara
estimular a comercialização de
CBiose, assim,a substituiçãode
combustíveisfósseisporrenováveis.
O benefício da dedução das des-
pesascom CBiosàsdistribuidoras,
por sua vez, foi incluída para mini-
mizar impactos inflacionários.Ago-
ra, oMME tenta convencer Econo-
mia e Receitaque a tributação me-
nor sobreos CBios não érenúncia
fiscal,sob oargumentodeque os tí-
tulosnãoexistiamantes.(CSR)

valor.com.br
Matériasobre acusaçãode compra de
gadoem terras indígenasdisponível em
http://www.valor.com.br/agro

de 7% da oferta pelas granjas em
2020,para53 bilhõesdeunidades,
nesse contexto as exportações estão
sendodeixadas de ladoedeverão
cair 54%, para 3,5 mil toneladas.
Embora a ABPAestimeaumento
das exportações de carnesde frango
e suína, os númerosapresentados
mostramrealidadesdiferentes. Me-
nos concentradana China, que, in-
cluindo Hong Kong,absorveu 21%
dovolumedeembarquesnoprimei-
rosemestre—eondeaproduçãode-
verá crescer13% em 2020 —, as ven-
das externasde carnede frangovão
subir bem menos. No primeiro se-
mestre foram 2,1 milhões de tonela-
dasnototal (1,7%maisqueemigual
período de 2019),que renderam
US$3,1bilhões(quedade8,8%).
Já o forteavanço projetado para
asexportaçõesdecarnesuína,daor-
demde30%,seexplicapelosproble-
mas ainda enfrentados pela China e
outrospaíses da Ásia com apeste
suína.Destino de 69% do volume de
embarques no primeiro semestre, a
China, por causada doença,deverá
voltararegistrarquedanaprodução
da proteína este ano,da ordemde
15%. De janeiro ajunhoas exporta-
ções brasileiras totalizaram 479 mil
toneladas(altade37%),ouUS$1,1

bilhão(crescimentode52,5%).
Embora o cenário possa ser con-
siderado positivo para osegmento,
FranciscoTurra, presidenteda AB-
PA —que em breve ficaráapenas
no conselho da entidade eserá
substituídopor Santin—reforçou
que os custos da indústria estão em
alta. Em parte,essa altadecorre da
valorizaçãodos grãosusadosnas
rações, inflada pelo câmbio.Outro
ponto de grandepreocupação, e de
elevação de custos, continuaaser
com asegurança dos funcionários
dos frigoríficos por causada covid-


  1. Pelas características das linhas
    de produção de carnes, onde as
    pessoas trabalham “cotovelo a coto-
    velo”, a disseminaçãoda doença, se
    não houver controle, é inevitável.
    É por causadissoque a China
    vemsuspendendo habilitações de
    alguns frigoríficos (ve r acima). A
    ABPA reforçou que vem orientando
    osegmento arespeitar as medidas
    exigidas pela portariainterministe-
    rialque buscouharmonizar essas
    regras.Aentidadetambémjá con-
    tabilizou mais de R$ 500 milhões
    em ajuda das empresa do ramoa
    comunidades no combateao novo
    coronavírus e suasconsequências
    negativas sobrea economia.


valor.com.br
Outras informaçõessobre suspensões
chinesas estãodisponíveis em
http://www.valor.com.br/agro
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