Clipping Banco Central (2020-08-01)

(Antfer) #1

Banco Central do Brasil


Revista Exame/Nacional - Estados Unidos
quinta-feira, 30 de julho de 2020
Banco Central - Perfil 1 - FMI

relação à China também não dá margens para
uma política muito diferente da atual”, diz
Houten. Em 2019, o déficit americano chegou a
quase 346 bilhões de dólares. “Nesse cenário,
nenhum candidato a presidente dos Estados
Unidos pode se dar ao luxo de querer apertar
as mãos do presidente chinês, Xi Jinping, e
dizer que está tudo certo.” A diferença pode
estar mais nas palavras do que na ação,
dependendo de quem vencer as eleições.
“Biden pode usar um tom diplomático mais
ameno, por exemplo.” E, em vez de adotar
retaliações unilaterais, como tem feito Trump,
pode tentar formar uma coalizão com aliados
para pressionar a China.


É na arena internacional que deve aparecer
uma das principais diferenças entre Biden e
Trump. Como um legítimo representante do
Partido Democrata, mais propenso a defender
o multilateralismo, Biden pode renovar os votos
de confiança em instituições como a
Organização Mundial do Comércio (OMC) e a
Organização Mundial da Saúde (OMS), das
quais Trump anunciou que os Estados Unidos
devem se retirar. Em 2019, Trump bloqueou as
nomeações dos dirigentes do órgão de
apelação da OMC, que rege as disputas
comerciais entre os países. O argumento do
presidente americano é que a China não deve
ser mais tratada como um país em
desenvolvimento, capaz de usufruir de
condições comerciais especiais, mas como
uma nação desenvolvida. “Nessa questão,
Biden pode adotar um tom mais conciliatório na
OMC”, diz Lieber.


Mas é na esfera ambiental que Biden talvez
mais se diferencie de seu oponente. No dia 14
de julho, o candidato democrata anunciou um
plano ambicioso de combate às mudanças
climáticas, com investimentos de 2 trilhões de
dólares em quatro anos. Uma das metas é
estimular fontes de energia limpa, como solar e


eólica, para zerar as emissões de carbono até


  1. Biden prometeu também recolocar os
    Estados Unidos no Acordo Climático de Paris,
    que traça metas globais de redução de
    emissões para conter o aquecimento global.
    Trump anunciou a saída dos Estados Unidos
    do acordo em 2017, alegando que a
    substituição dos combustíveis fósseis por
    energias limpas poderia reduzir a
    competitividade do país.


Os temas ambientais devem ser justamente os
principais motivos de possíveis atritos entre um
eventual governo Biden e o governo de Jair
Bolsonaro. Em entrevista à revista Americas
Quarterly no ano passado, Biden comentou
sobre o desmatamento na Amazônia:
“Bolsonaro deve saber que, se o Brasil não for
um guardião responsável da Floresta
Amazônica, meu governo reunirá o mundo para
garantir a proteção do meio ambiente”. Desde
que tomou posse, o presidente brasileiro
buscou uma aproximação com Trump, a quem
considera um ídolo. É um alinhamento pessoal
que até agora trouxe poucos resultados
concretos para o Brasil, mas que pode ter
consequências se Biden chegar à Casa
Branca. “No caso de vitória de Biden, é
inevitável um distanciamento da política
externa americana em relação ao Brasil e é
possível até que haja conflitos”, diz Rubens
Ricupero, ex-embaixador em Washington e que
também foi titular dos ministérios do Meio
Ambiente e da Fazenda. “A política externa de
Bolsonaro tem um posicionamento no mundo
que decorre de uma visão ideológica que é
antípoda do que pensam Biden e os
democratas em relação a temas como meio
ambiente, povos indígenas, direitos humanos e
diversidade de gênero.”

Se Trump não for reeleito, Bolsonaro terá de
conviver pelo menos dois anos ainda com
Biden na Presidência. Vale a pena iniciar uma
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