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Revista Veja/Nacional - Colunistas
sexta-feira, 31 de julho de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas
falsa expressão das redes sociais com
frequência leva ao estabelecimento da mentira
como “fato”, a ponto de o célebre aforismo de
Daniel Moynihan (“todos têm direito à própria
opinião, mas não a seus próprios fatos”) deixar
de valer. A desinformação leva à crença de que
existe kit gay, de que a cloroquina funciona, de
que o establishment não deixa Bolsonaro
governar.
A rede de desinformação bolsonarista
demonstrou o problema logo após a decisão de
Alexandre de Moraes, ao caluniar Felipe Neto:
em menos de 24 horas, a equipe do youtuber
derrubou mais de 1?000 vídeos falsos que o
acusavam de pedófilo. Esses vídeos — e
outros, que não foram derrubados (no
WhatsApp é impossível derrubar o que quer
que seja) — alcançaram milhões de pessoas,
grande parte das quais jamais saberá que são
falsos.
Bolsonaro usou um órgão público, a AGU, para
defender o interesse privado de seus
apoiadores (e o seu próprio): é um ato
inconstitucional como o de Alexandre de
Moraes, mas, enquanto o ministro fere a
Constituição para coibir crimes, o presidente o
faz para dar impunidade aos criminosos.
Bolsonaro afirma defender a liberdade de
expressão, o que, dado seu cacoete de atacar
a livre imprensa e recorrer à Lei de Segurança
Nacional para tentar calar adversários, seria
divertido se não fosse ultrajante.
As redes de desinformação são a maior
ameaça à democracia em muitas décadas, mas
a solução para o problema não implica a
suspensão de garantias constitucionais —
medida, de resto, pouco eficaz e até
contraproducente, pois alimenta o discurso
vitimista e anti-establishment de Bolsonaro.
Implica, sim, a criação de lei específica — aliás,
já em discussão no Congresso —, que,
diferentemente do que quer fazer crer a rede
de desinformação bolsonarista, não é (nem
pode ser) sinônimo de censura.
Assuntos e Palavras-Chave: Cenário Político-
Econômico - Colunistas