Banco Central do Brasil
Revista Veja/Nacional - Economia
sexta-feira, 31 de julho de 2020
Banco Central - Perfil 1 - Mansueto Almeida
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Autor: Victor Irajá, Larissa Quintino, com Diego
Gimenes
Os impactos da pandemia do coronavírus
ajudam a pôr em xeque o plano de
enxugamento do Estado e redução de gastos
Oriundo da Escola de Chicago, vertente
ultraliberal do pensamento econômico, Paulo
Guedes serviu de pilar de sustentação do
projeto político do presidente Jair Bolsonaro,
com suas propostas focadas na eficiência
administrativa e na diminuição do Estado. Para
atingir os objetivos propostos ainda durante a
campanha eleitoral, Guedes deixou clara a
urgência de medidas contundentes, como as
reformas previdenciária, tributária e
administrativa. Sem jamais ter colocado o pé
no setor público, ele conseguiu aprovar a
reestruturação previdenciária, mas sofreu para
articular sua agenda de mudanças, tanto no
trato com o Congresso como no convencimento
do próprio chefe e seu grupo político, pouco
dispostos a enfrentar o corporativismo público.
Com isso, acabou ganhando a incômoda
alcunha de “ministro da semana que vem”,
apelido dado pelos membros do Legislativo em
razão dos sucessivos adiamentos da
apresentação de suas propostas para a
aprovação do Parlamento. No último dia 29,
após reunião com parlamentares sobre a
reforma tributária, Guedes fez uma espécie de
mea-culpa de tantas idas e vindas: “É a política
que dita o ritmo das reformas”.
O destino também contribui para tornar a
missão ainda mais difícil. Com a chegada
abrupta da pandemia do coronavírus, os rígidos
princípios liberais de Guedes e de sua equipe
foram definitivamente postos em xeque. Ágil na
elaboração de medidas que evitaram o caos
econômico, com programas como o Auxílio
Emergencial e o orçamento extraordinário, a
equipe do ministro passou a enfrentar pressões
para abrir cada vez mais os cofres em nome da
contenção dos efeitos assustadores da crise
sanitária. Atualmente, parlamentares e
membros do governo, entre ministros e
militares, defendem abertamente a
flexibilização do teto de gastos em nome de
medidas que se contraponham às dificuldades
decorrentes da pandemia. E o próprio
presidente tem se encantado com a
perspectiva de colher dividendos políticos do
“orçamento ilimitado”. “Faz parte do DNA dos
militares a ideia de um Brasil grande. Eles são
preparados para essa visão
desenvolvimentista, pouco compatível com o
modelo liberal”, explica Maílson da Nóbrega,
ex-ministro da Fazenda.
Obviamente, a falta de interesse do Executivo
em encampar as propostas de Guedes e as
dificuldades decorrentes do relacionamento