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Revista Veja/Nacional - Colunistas
sexta-feira, 31 de julho de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas
Assim como para a maioria dos meus amigos.
Caso de Analívia, que desde os 15 anos faz um
trabalho de dança inovador e dedica-se a dar
palestras nas principais cidades do mundo.
Outro amigo dos tempos da escola, Raul, dá
aulas de pilates! Minha vizinha, aos 70, oferece
aulas de meditação, caminha todos os dias, e
tem um namorado boa-pinta. Outro vizinho fala
seis línguas e se dedica ao comércio exterior.
Todos acima dos 60. Nenhum, eu inclusive,
quer deixar de trabalhar.
Por sinal, é uma pergunta que parentes mais
jovens fazem frequentemente: “Você não quer
descansar?” Acho até divertida. Parar, eu? Se
fosse descansar, escreveria, o que já faço
como atividade principal.
São pessoas que se recusam a “envelhecer”.
Estão em uma nova fase da vida, que vai dos
60 aos 80 e mais. Graças também aos avanços
médicos. As etapas da existência só foram
diferenciadas pela humanidade ao longo do
tempo. O entendimento da adolescência só
seria consolidado no século XX. Ainda vai
surgir um nome para essa nova fase que
vivemos hoje, que não é nem velhice nem
terceira idade. Os sessentões e oitentões da
atualidade eram adolescentes e jovens na
década de 60, tiveram contato com a
contracultura e também com os movimentos de
esquerda não tradicionais. Não enxergam a
idade como seus pais e avós enxergavam.
Cuidam do corpo, entram em cursos.
Namoram. Boa parte possui uma vida
profissional de que gosta — portanto, nem
pensar em aposentadoria. Quem se aposentou
trata de desfrutar a vida. Quando passeiam ou
viajam com os filhos, estão na condição de
amigos, companheiros. Muitos querem iniciar
algo novo. O precursor dessa tendência talvez
tenha sido o próprio Roberto Marinho, que
botou a Rede Globo no ar quando tinha 60
anos — idade em que muitos empresários de
seu tempo já estavam pendurando as
chuteiras.
Falo de pessoas que nasceram antes do
advento do computador pessoal, do celular...
Mas que hoje sabem o suficiente para trocar e-
mails, WhatsApps, assistir a filmes no
streaming... Ou seja, estão incorporadas ao
universo tecnológico. Talvez as pessoas só se
considerem idosas quando os outros as veem
como idosas. Não vou falar de plásticas e
outros procedimentos — elas fazem também, é
claro. E daí?
Em algum momento, essa nova etapa da vida
após os 60 e sei lá, além dos 80, vai receber
um nome, como a adolescência recebeu um
dia. Por enquanto, apenas sabemos que a
palavra “velho” não serve mais para definir
essas pessoas. Eu digo por mim: os 60 são o
novos 40.
Assuntos e Palavras-Chave: Cenário Político-
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