National Geographic - Portugal - Edição 233 (2020-08)

(Antfer) #1
OFICINADEMUMIFICAÇÃO 77

túmulo de Maia, a partir do qual fo-
ram recuperadas estátuas em 1829,
que seriam remetidas para Leiden.
Essa referência a Maia desenca-
deou, em 1975, uma expedição conjun-
ta da RMO e da Sociedade Britânica de
Exploração do Egipto, com o objectivo
de examinar o local onde o túmulo esti
vera e o grande número de artefactos d
locados de Sakara para o museu de Lei
O mapa de Lepsius era menos fi ável d
o esperado e apresentava um erro de c
25 metros, mas os membros da expediç
voltaram decepcionados.
Logo na primeira temporada, fi zera
importante descoberta: encontraram o
lo de Horemheb, o general que sucede
tankhamon como faraó. O militar manda
fi car em Sakara uma construção funerár
65 metros de comprimento, da qual se conhe-
ciam relevos magnífi cos no museu de Leiden.
Agora era possível colocar essas peças no seu
contexto arqueológico.
A escavação do complexo funerário de Ho-
remheb foi concluída em 2006. A equipa an-
glo-holandesa revelou muitos outros túmulos,
incluindo o de Maia e Merit, que foram escava-
dos e restaurados entre 1987 e 1992 com a parti-
cipação do então conservador Maarten Raven.
O local onde se encontravam as estátuas do ca-
sal agora em Leiden pode ser identifi cado pelos
pedestais que fi caram in situ.
A partir de 1983, deixou de ser possível expor-
tar legalmente achados arqueológicos para fora
do Egipto. Assim, a colecção egípcia de Leiden
nunca poderá voltar a ter o crescimento espec-
tacular que teve em 1829. Esse também não é o
objectivo. Agora, o que se procura é diferente: é
conhecer e entender.


A perspectiva moderna
Desde 2015, a equipa de Leiden trabalha em
conjunto com o Museu Egípcio de Turim. Novos
métodos de investigação tornam possível colo-
car novas perguntas. Deste modo, o interesse
dirige-se principalmente para a vida quotidia-
na dentro e em redor da necrópole. Como eram
tratadas as sepulturas? Quem se ocupava disso?
Os descendentes vinham visitar os defuntos?
Qual era o papel dos sacerdotes funerários? De
2017 a 2022, terá lugar em Sakara o projecto
The Walking Dead, com participação de inves-
tigadores de Leiden e com fi nanciamento da


Aprega eir , queostentanoversoo
nome de Tutmés III, foi provavelmente
uma oferta ao general.
SERVAAS NEIJENS

Organização Holandesa de Pesquisa Científi ca
(NWO). O projecto tentará responder à pergun-
ta: de que forma se desenvolveu esta necrópole
ao longo de quarenta séculos?
“Conhecemos os eventos e locais específi cos,
mas não sabemos realmente como se relaciona-
vam as pessoas com a religião no dia-a-dia, nem
as mudanças que podem ter ocorrido ao longo
do tempo”, diz a directora e conservadora do
projecto, Lara Weiss. Para responder a estas per-
guntas, examinam-se modifi cações subtis nas
práticas religiosas, o desenvolvimento da lin-
guagem visual e a evolução do uso da paisagem.
Esta última é mais ou menos trabalhosa, de-
pendendo do período, explica o investigador
Nico Staring: “Do Império Novo, temos poucas
fontes que acrescentem informação sobre a pai-
sagem, enquanto, em épocas posteriores, exis-
tem papiros que descrevem com grande preci-
são que sacerdote estava encarregado de cada
sepultura em determinado lugar.”
No entanto, os membros do projecto estão a
conseguir acrescentar pequenos pormenores
numa imagem maior que torna o processo de
desenvolvimento do panorama cultural e reli-
gioso de Sakara cada vez mais visível. Ao olhar
para os resultados dos estudos em Sakara atra-
vés dessa lente, já é possível ver uma necrópole
que ganha cada vez mais vida. j
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