98 NATIONAL GEOGRAPHIC
STEPHEN WILKES é fotógrafo e artista plástico. No
essencial, porém, é um nova-iorquino. Nasceu na
cidade e a maior parte da sua vida desenrolou-se
nestas ruas e avenidas. Essa identidade aumentou
a sua dor na passada Primavera, quando Nova Ior-
que conquistou a pouco invejável distinção de ser
um ponto quente mundial e o epicentro norte-
-americano da pandemia da COVID-19. A “cidade
que nunca dorme” adormeceu finalmente –
durante semanas e, depois, durante meses.
Quando a cidade iniciou o confinamento, em
finais de Março, Stephen pediu uma licença para
sobrevoar o protegido centro nevrálgico do comér-
cio e da cultura dos EUA. O seu pedido foi aprova-
do e o fotógrafo, juntamente com o seu amigo de
longa data, o piloto Al Cerullo, embarcaram num
helicóptero e voaram bem alto, acima das avenidas
e das paragens do metropolitano. Do alto, vislum-
braram um hospital de campanha montado no
Central Park, encontraram algumas pessoas a usu-
fruírem do sol nos telhados e avistaram residentes
a passearem os cães.
Acima de tudo, porém, o que viram foi uma
cidade parada: nada se movia. Ruas vazias, túneis
vazios, Bryant Park sem a típica multidão que ali
se reúne à hora de almoço e a ausência de traba-
lhadores a circular em redor do Empire State
Building. “Nova Iorque é como um rio, sempre a
correr, com energia e movimento”, diz Stephen.
“Ver Nova Iorque vazia não faz sentido.”
A cidade recuperará, como já recuperou antes.
E, quando isso acontecer, Stephen espera que
volte a ser tão vibrante como sempre. Os nova-
-iorquinos andarão provavelmente a rebentar, de
tanta energia acumulada. Mas, tal como aconte-
ceu depois dos atentados de 11 de Setembro de
2001, também estarão a sofrer.
Enquanto sobrevoava Times Square (que todos
os anos recebe mais de 50 milhões de visitantes
e é o local de uma das maiores festas de Ano
Novo do mundo), Stephen viu um ecrã a piscar,
mostrando uma mensagem subscrita universal-
mente: “Obrigado a todos os que estão a lutar
pelas nossas vidas.” j
NOVA IORQUE JÁ PASSOU POR CRISES ANTERIORES, MAS O COMBATE
À PANDEMIA DA COVID-19 QUASE IMOBILIZOU A CIDADE.
Bryant Park, por norma repleto de turistas e empregados de escritório,
poucas vezes se viu tão vazio.
NOTAS | DIÁRIO DE UM FOTÓGRAFO