64 NATIONALGEOGRAPHIC
TEXTO DE
ANDREW CURRY
Um modelo digital
criado por um scanner
3D revela o poço
principal que dá
acesso a um complexo
de câmaras funerárias.
Os túmulos com mais
prestígio ficam na
parte profunda, mais
perto do submundo.
A oficina de mumifica-
ção tem uma área
sobreelevada
semelhante a uma
mesa, canais de
drenagem para
canalizar os fluidos
corporais
e um sistema
de ventilação.
A descoberta alimentou manchetes noticiosas
em todo o mundo, após o primeiro anúncio ofi -
cial em Julho de 2018: os arqueólogos tinham
escavado uma “casa funerária” egípcia antiga nas
profundezas das areias de Sakara, uma vasta ne-
crópole (ou cidade dos mortos) situada nas mar-
gens do Nilo, a cerca de 30 quilómetros do Cairo.
Nos dois anos entretanto decorridos, a reanáli-
se de descobertas anteriores e de novos achados
que estavam num poço tumular das imediações
forneceu um acervo de informações valiosas sobre
o negócio da morte no Antigo Egipto. Durante sé-
culos, a arqueologia praticada na terra dos faraós
preocupou-se mais com a procura de inscrições e
artefactos em túmulos reais e menos com porme-
nores da vida quotidiana. As ofi cinas de mumifi -
cação existiam em necrópoles de todo o Egipto,
mas muitas foram ignoradas por sucessivas gera-
ções de investigadores, ansiosos por alcançar os
túmulos que se encontravam por baixo.
Agora, devido às descobertas produzidas em
Sakara, a situação está a alterar-se, à medida que
os vestígios arqueológicos de uma vasta indús-
tria funerária são escavados e documentados em
pormenor pela primeira vez.
“A informação que escavámos revela que os
embalsamadores tinham um excelente sentido
de negócio”, diz Ramadan Hussein, um egiptólo-
go da Universidade de Tübingen, na Alemanha.
“Eram muito inteligentes e ofereciam diferentes
opções.” Caso a família do cliente não pudesse
comprar uma máscara funerária de ouro e prata,
talvez lhe fosse proposta a opção de “gesso bran-
co e folha de ouro”, acrescenta.
Não tinha dinheiro sufi ciente para armazenar
as suas vísceras em vasos requintados de alabas-
tro do Egipto? Que tal substituí-los por um belo
vaso de barro pintado?
“Já tínhamos lido sobre isto em textos [anti-
gos]”, diz Ramadan. “Agora, porém, podemos
contextualizar o negócio da morte.”