Clipping Banco Central (2020-08-02)

(Antfer) #1

Banco Central do Brasil


Folha de S. Paulo/Nacional - Ilustrada
domingo, 2 de agosto de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

fazerem silêncio, pediam em troca que eu
tocasse e cantasse. Levei o trompete um dia
para a escola e o diretor me expulsou porque
eu tinha tocado e ecoou pelo colégio todo!
[risos]."


Alcione tem nove irmãos do mesmo pai e mãe -
e outros nove nascidos de relacionamentos
dele "com outras senhoras". "Convivo com
todos", conta. A mãe, dona Felipa, inclusive
ajudou a cuidar de uma das filhas de seu João
Carlos com outra mulher. "A mãe dessa
menina estava sem leite, e a minha mãe ia lá
todo dia amamentara pequena. Elas [as duas
mulheres] morreram amigas", lembra.


A cantora não tem filhos. "Não arrumei tempo.
Viajei muito nessa vida. Quem está com
criança tem que ter responsabilidade", diz. "É
igual leite: olhou pro lado, ferve. Eles não são
de confiança [risos]", brinca ela, que é
"enlouquecida" pelos sobrinhos netos. "Não sei
viver sem os meus bichinhos", diz.


Marrom acha ótimo que o debate sobre
racismo esteja em evidência. "As pessoas
ainda não aceitaram que esse é um país de
negros", diz. "Acho muito triste que ainda nesse
século você tenha que se deparar com esse
tipo de coisa [preconceito racial]", emenda ela.


"Uma vez pediram para agente sair de um
clube porque nós éramos negros. Isso no
Brasil. Disse: 'Não acredito. Tive que rir. Outra
vez, fui convidada para ir a uma conferência da
minha gravadora. Eu tinha vindo de Paris, até
botei um figurino bonito. Quando cheguei na
portaria do hotel, um cliente que estava lá
falou: 'Chegou o navio negreiro", conta.


"Como um homem tem coragem de dizer um


negócio desse pra mim? Tem gente que não
tem vergonha. Respondi uma coisa que não
quero repetir para você e peguei um cinzeiro
pra tacar logo na cara dele caso ele se
aborrecesse muito, né?", lembra ela.

"Agora pra mim não mandam mais
[comentários preconceituosos]. Eu sou parada
meio indigesta, meu filho. Naquela época eu
devia ter uns 30, 35 anos. Agora tenho 72. Não
gosto mais dessas confianças comigo. Hoje
sabem que tenho cara de tambor que
amanhece, que o como não fura [risos] ."

Recentemente, Alcione manifestou apoio a
Ludmilla depois que a cantora foi vítima de
ataques racistas na internet. Marrom diz
também já ter enviado mensagens diretas para
ela e Anitta por conta de farpas que as duas
trocaram recentemente. "Gosto de ambas.
Mandei recado para elas pararem de brigar.
São talentosas e precisam olhar para a frente."

Marrom é uma pessoa de espiritualidade.
"Acredito em Deus. E também sou da
umbanda. Creio que entre o céu e a terra
existem mais coisas do que avião de carreira",
diz ela, que se consultou com um médico e
médium que incorporava a figura que no
espiritismo é conhecida como Dr. Fritz. "Eu
tinha um edema nas cordas vocais e não podia
mais cantar. Fui pra lá e me operei [com dr.
Fritz] em Recife. Ele mandou eu ficar três dias
calada. Até o meu remédio ele escreveu em
alemão, aí traduziram e mandei comprar.
Depois disso, ganhei mais 18 discos de omo."

Ela é otimista quanto ao futuro. "Não é possível
que não saia dessa pandemia uma sociedade
melhor. Porque nada acontece sem a vontade
de Deus, então essa Covid-19 não veio à toa.
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