Clipping Banco Central (2020-08-02)

(Antfer) #1

Banco Central do Brasil


Folha de S. Paulo/Nacional - Ilustríssima
domingo, 2 de agosto de 2020
Banco Central - Perfil 1 - Reforma da Previdência

É sob esse entendimento mais amplo que
fazemos a primeira pergunta relevante sobre o
Brasil amai e o fenômeno Bolsonaro: o que
levou quase 58 milhões de brasileiros a eleger
um líder que atravessou a campanha eleitoral
explicitando suas simpatias pelo regime de
1964 e por personagens emblemáticos do
autoritarismo e da tortura, como o coronel
Brilhante Ustra?


O país dispunha, nas eleições de 2018, de um
rico leque de opções no campo da esquerda,
da social-democracia e do liberalismo. Diante
desse quadro, optou por Bolsonaro - político de
vezo autoritário e corporativista, mas cujo
sucesso eleitoral é resultado da democracia
brasileira.


A vitória do capitão reformado é fruto da
emergência de novas forças políticas na
sociedade e do exercício legítimo da
alternância de poder. É nessa dimensão que
ele deve ser entendido por aqueles que
comungam de uma visão plural da democracia.


Bolsonaro é, antes de qualquer coisa, o
resultado de um processo de polarização
política da sociedade brasileira muito anterior a
sua eleição. A raiz contemporânea desse
fenômeno remonta à retórica violenta da
esquerda à época imediatamente anterior de
sua chegada ao poder, com o "Fora, FHC" e
seu esforço para estigmatizar e deslegitimar
um governo de clara orientação social-
democrata.


Apresentada, sob o clichê da época, como
"neoliberal", a gestão FHC implementou
necessárias reformas modernizadoras (fim da
inflação, programa de privatizações,
responsabilidade fiscal, reforma do Estado) e


tuna extensa agenda social.

Esta incluiu o aumento real do salário mínimo
em mais de 40%, a implantação do BPC
(Benefício de Prestação Continuada), a
consolidação do SUS, a universalização da
educação fundamental, a promoção da reforma
agrária e a criação dos programas de
transferência de renda que levariam ao Bolsa
Família.

Após uma transição exemplar na vida
republicana brasileira (tema crucial e
frequentemente subestimado pelos analistas),
e contando com um clima favorável no
Congresso (vamos lembrar o apoio da
oposição à minirreforma da Previdência de
Lida), o governo petista decidiu empreender
uma nova onda de polarização. Dessa vez,
tratou-se de uma lógica movida a partir do
próprio Estado, com seu bordão "nunca antes
neste país" e a tese recorrente de que tudo
recomeçara, no Brasil, a partir de 2003.

Não é foco deste artigo analisar os governos do
PT, com seus méritos (em especial o ciclo
reformista dos primeiros anos) e sua debacle
(sobretudo o desastre econômico dos últimos
anos). O ponto é a aposta em tuna visão
binária e excludente da política, incentivada
pelo centro de poder, seus recursos de
comunicação, sua rede de movimentos sociais
associados ao Estado e militantes que se
lançaram ao j ogo da estigmatização e da
divisão.

A partir do final do governo Lida, e apesar das
vitórias eleitorais de 2010 e 2014, assistiu-se a
tuna gradativa perda de hegemonia da
esquerda na vida política brasileira. Ainda está
para ser feita uma análise mais abrangente
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