Clipping Banco Central (2020-08-03)

(Antfer) #1

Banco Central do Brasil


Valor Econômico/Nacional - Opinião
segunda-feira, 3 de agosto de 2020
Banco Central - Perfil 1 - Banco Central

É justificável que a reação imediata da
autoridade monetária seja agir rápido e fazer
bastante. Aumentar a liquidez para garantir
acesso ao crédito para evitar quebra de firmas
e dar suporte a atividade econômica. Os dados
recentes indicam uma recuperação da
economia mais rápida que antecipada,
indicando a ação adequada das respostas de
política monetária e fiscal. No entanto,
acreditamos que parte dos efeitos negativos
dos choques será duradouro na economia.
Embora, no momento, seja difícil distinguir os
efeitos de histerese do componente cíclico dos
choques, há diversas indicações nesta direção:
os impactos sobre o setor de serviços; as
mudanças de preferências do consumidor; o
fechamento de empresas e o consequente
processo de realocação de capital e mão de
obra.


Este processo de ajuste de mercados,
trabalhadores e empresas torna as recessões
mais demoradas e custosas. Tentar contrapor
este processo de ajuste por meio da política
monetária não seria efetivo. A ação de política
monetária cabe apenas agir sobre os efeitos
secundários deste choque. O custo seria um
ajuste mais acentuado e rápido nos juros ou
aceitar inflação mais alta. Embora se possa
argumentar que em caso de alta de inflação, o
Banco Central poderia retomar rapidamente o
processo de normalização monetária, sabemos
que os efeitos das ações do Banco Central
não são simétricos. Alterações que induzem
maior variabilidade nas expectativas de inflação
tender a gerar um nível de inflação mais alto e
com maior volatilidade. Acreditamos que mais
estímulos agora teriam efeitos marginalmente
pequenos sobre a parte média e longa da curva
e guardar alguma munição poderia ser
indicado.


A segunda razão para interrupção refere-se


aos impactos do prêmio de risco sobre os
preços dos ativos. Embora a fragilidade fiscal, o
aumento da inclinação da curva de juros e a
desvalorização da taxa de câmbio tenham-se
acentuado, este é um argumento que tem sido
minimizado e seus defensores, por vezes
acusados de “gritarem lobo”, como o pastor na
fábula de Esopo. Entre os argumentos
utilizados, o primeiro afirma que o elevado grau
de estímulos fiscal e monetário nas economias
centrais permitirá carregar níveis de dívida
mais altos. O segundo, que o RMI deve
concentrar-se apenas nas expectativas de
inflação. Na verdade, o prêmio de risco dos
ativos tem alta volatilidade no curto prazo.
Particularmente neste cenário, a descoberta de
preços passa a ser um processo touch-and-go.

Ponderamos que não seria prudente o Banco
Central fazer este exercício de descoberta.
Bancos centrais, por natureza, são
conservadores nas suas ações. A razão para
isso é que há custos de bem-estar associados
a mudanças bruscas e frequentes de política.
Estas, adicionam volatilidade excessiva que
impacta a variabilidade das expectativas de
inflação. O mesmo argumento aplica-se à
política fiscal quanto à manutenção de um
prêmio de risco compatível com as
necessidades de financiamento da dívida
pública doméstica. A ação de política monetária
não deve estar baseada numa expectativa
favorável da trajetória fiscal, mas quando
asseguradas as condições para consolidação
fiscal. Não sendo o caso atualmente, deve-se
agir sob esta condicionante.

A terceira razão seria sobre o peso relativo das
expectativas de inflação no conjunto das
decisões. Estas encontram-se abaixo do centro
da meta de inflação para o horizonte
prospectivo em 2021 e 2022, prescrevendo,
segundo o RMI, afrouxamento adicional.
Entendemos as virtudes de um modelo
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