é, apontam para o futuro.
O momento atual da história do mundo parece ainda indicar a emergência de numerosas
variáveis ascendentes cuja existência é sistêmica. Isso, exatamente, permite pensar que se estão
produzindo as condições de realização de uma nova história.
Por enquanto, renunciamos , aqui, a fornecer uma lista exaustiva dos fenômenos, mas
não a apontar alguns fatos que nos parecem bem característicos das mudanças em curso. Um deles é
o crescente desencanto com as técnicas, acompanhado por uma gradativa recuperação do bom
senso, em oposição ao senso comum, isto é, em oposição à pretensa racionalidade sugerida tanto
pelas técnicas em si mesma como pela política do seu uso. Outro dado significativo se levanta com a
impossibilidade relativamente crescente de acesso a essas técnicas, em virtude do aumento da
pobreza em todos os continentes. Junte-se a esse dado o fato de que, apesar da capacidade invasora
das técnicas hegemônicas, sobrevivem e criam-se novas técnicas não hegemônicas. Pode-se arriscar
um vaticínio e reconhecer, no conjunto do processo, o anúncio de um novo período histórico,
substituto do atual período. Estaríamos na aurora de uma nova era, em que a população, isto é, as
pessoas constituiriam sua principal preocupação, um verdadeiro período popular da história, já
entremostrado pelas fragmentações e particularizações sensíveis em toda parte devidas à cultura e o
território.
20.Os limites da racionalidade dominante
O Projeto Racional começa a mostrar suas limitações talvez porque estejamos atingindo
aquele paroxismo previsto por Weber (Economía y sociedad, 1922) para realizar-se quando o
processo de expansão da racionalidade capitalista se tornasse ilimitado. Tudo indica que estamos
atingindo essa fronteira, agora que, nos diversos níveis da vida econômica, social, individual, vivemos
uma racionalidade totalitária que vem acompanhada de uma perda da razão. O deboche de carência
e de escassez que atinge uma parcela cada vez maior da sociedade humana permite reconhecer a
realidade dessa perdição.
Uma boa parcela da humanidade, por desinteresse ou incapacidade, não é mais capaz
de obedecer a leis, normas, regras, mandamentos, costumes derivados dessa racionalidade
hegemônica. Daí a proliferação de “ilegais”, “irregulares”, “informais”.
Essa incapacidade mistura, num processo de vida, práticas e teorias herdadas e
inovadas, religiões tradicionais e novas convicções. É nesse caldo de cultura que numerosas frações
da sociedade passam da situação anterior de conformidade associada ao conformismo a uma etapa
superior da produção da consciência, isto é, a conformidade sem o conformismo. Produz-se dessa
maneira a redescoberta pelos homens da verdadeira razão e não é espantoso que tal descobrimento
se dê exatamente nos espaços sociais, econômicos e geográficos também “não conformes” à
racionalidade dominante.
Na esfera da racionalidade hegemônica, pequena margem é deixada para a variedade, a
criatividade, a espontaneidade. Enquanto isso, surgem, nas outras esferas, contra-racionalidades e
racionalidades paralelas corriqueiramente chamadas de irracionalidades, mas que na realidade
constituem outras formas de racionalidade. Estas são produzidas e mantidas pelos que estão
“embaixo”, sobretudo os pobres, que desse modo conseguem escapar ao totalitarismo da
racionalidade dominante. Recordemos o ensinamento de Sartre, para quem a escassez é que torna a