tenha presidido a maior guinada protecionista desde a década de 1930”^2 – nenhuma “ironia”,
apenas o funcionamento normal da “paixão pelo laissez-faire”: a disciplina do mercado para vocês e
não para mim, a menos que o “campo de jogo” esteja inclinado a favor dos meus interesses,
geralmente como resultado da intervenção estatal em larga escala. É difícil encontrar um tema mais
dominante nos últimos trezentos anos de história econômica.
Os reaganistas percorriam uma trilha já muito conhecida recentemente transformada em
comédia pelos “conservadores” de Gingrich – quando exaltavam as glórias do mercado e
ministravam severas palestras sobre a debilitante cultura da submissão aos pobres no país e no
exterior, ao mesmo tempo que se vangloriavam orgulhosamente frente ao mundo dos negócios de
que Reagan “havia ajudado a indústria norte-americana com mais restrições à importação do que
qualquer um dos seus antecessores nos últimos cinqüenta anos”; na verdade, mais do que todos os
antecessores juntos, que comandaram, desde o início dos anos 1970, “o ataque dos ricos e
poderosos contra o princípio [do livre comércio]”, criticado num estudo do economista Patrick Low,
do secretariado do Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT), que estima os efeitos restritivos
das medidas de Reagan como tendo sido três vezes maiores que os ocorridos nos demais países
altamente industrializados.^3
A radical “guinada para o protecionismo” foi só uma parte do “assalto continuado” aos
princípios do mercado livre, acelerado sob o “inflexível individualismo reaganista”. Um outro
capítulo dessa história trata da vasta transferência de fundos públicos ao poder privado, geralmente
sob a tradicional máscara de “segurança”. Essa lenda secular continua sendo contada até hoje, sem
nenhuma mudança digna de nota; e não só aqui, é claro, embora, no plano local, ápices novos e
mais elevados de fraude e hipocrisia possam ter sido escalados.
A “Grã-Bretanha de Thatcher” é, na verdade, um exemplo igualmente bom do “evangelho do
livre mercado”. Para nos atermos a algumas revelações dos últimos meses (início de 1997), “durante
o período de máxima pressão em favor da venda de armas à Turquia”, informou o Observer, a
primeira-ministra Margaret Thatcher “interveio pessoalmente para garantir a transferência de 22
milhões de libras do orçamento da ajuda externa britânica para a construção do metrô de Ancara,
capital da Turquia. O projeto era antieconômico e, em 1995, foi admitido” pelo Ministro das
Relações Exteriores, Douglas Hurd, que era também “ilegal”. Esse incidente era particularmente
digno de nota na esteira do escândalo Pergau Dam, dos subsídios ilegais da política de Thatcher
“para ‘adoçar’ contratos de venda de armas ao regime da Malásia”, que culminou no
pronunciamento da Alta Corte contra Hurd. Isso sem falar das garantias governamentais de crédito,
dos arranjos financeiros e da panóplia de dispositivos destinados a transferir fundos públicos para
a “indústria da defesa”, que constitui o já tradicional leque de benefícios para a indústria avançada
de um modo geral.
Poucos dias antes, o mesmo jornal informava que “mais de dois milhões de crianças
britânicas têm saúde debilitada e problemas de crescimento devido à má nutrição, por sua vez
resultante da “pobreza numa escala que não se via desde os anos 1930”. A tendência de melhoria
dos índices de saúde infantil reverteu-se, e doenças infantis que já haviam sido controladas estão
hoje em curva ascendente graças ao (altamente seletivo) “evangelho do livre mercado” tão admirado
por seus beneficiários.
Poucos meses antes, um jornal da grande imprensa trazia a manchete Um em Cada Três
Bebês Britânicos Nasce na Pobreza, ao mesmo tempo que “a pobreza infantil triplicou desde a
mariadeathaydes
(mariadeathaydes)
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