Chomsky_Noam_-_lucro_ou_as_pessoas

(mariadeathaydes) #1

treinar militares indonésios “diminui a nossa capacidade de influenciar positivamente as [suas]
políticas e o seu comportamento em relação aos direitos humanos”, explicou recentemente o
Pentágono. O esforço missionário na Indonésia deve prosseguir, portanto, descumprindo as ordens
do Congresso. Parece bastante razoável. Basta lembrar corno o treinamento militar americano
“pagou dividendos” no início da década de 1960 e “encorajou” os militares a cumprir suas tarefas
necessárias, corno informou ao Presidente e ao Congresso o secretário de Defesa Robert McNamara
depois dos enormes massacres conduzidos pelo exército em 1965 que deixaram centenas de
milhares de cadáveres em poucos meses, urna “carnificina assombrosa” (New York Times) que
provocou urna euforia incontida entre os “homens bons” (até mesmo o Times) e muitas
recompensas para os “moderados” que a conduziram. McNamara exaltou o treinamento de oficiais
indonésios nas universidades norte-americanas, “um fator muito importante” para colocar a “nova
elite política Indonésia” (os militares) no rumo certo.
Ao construir a sua política de direitos humanos para a China, o governo deve ter se lembrado
do instrutivo conselho de urna missão militar de Kennedy à Colômbia: “Quando necessário,
executar ações paramilitares, de sabotagem e/ou terroristas contra comunistas conhecidos” (termo
que abrange camponeses, sindicalistas, ativistas de direitos humanos etc.). Os alunos aprenderam
bem a lição, colecionando o pior recorde de direitos humanos da década de 1990 no hemisfério, com
assistência e treinamento militar cada vez maior dos Estados Unidos.
É fácil, portanto, para urna pessoa razoável, entender que seria contraproducente um excesso
de pressão sobre a China em questões corno tortura de dissidentes e atrocidades no Tibet. Isso
poderia fazer com que a China sofresse os “efeitos nocivos de urna sociedade privada da influência
americana”, razão aduzida por um grupo de executivos de grandes empresas para que sejam
levantadas as proibições que os impedem de entrar no mercado cubano, onde poderiam trabalhar
para restaurar “os efeitos positivos da influência americana” que prevaleceu da época da
“libertação”, há cem anos, até a época de Batista, as mesmas influências que se mostraram tão
benéficas no Haiti, EI Salvador e em outros paraísos contemporâneos – e que, por sinal, também
geraram lucros.^74
Essas sutis diferenciações devem fazer parte do arsenal daqueles que aspiram à
respeitabilidade e ao prestígio. Dominando-as, podemos ver por que os direitos humanos e os
direitos dos investidores requerem tratamentos tão diversos. A contradição com os “princípios
básicos” é apenas aparente.


OS BURACOS NEGROS DA PROPAGANDA


É sempre esclarecedor procurar o que se omite nas campanhas de propaganda. O Fast Track
recebeu uma enorme publicidade. Mas muitas questões cruciais desapareceram no buraco negro
reservado aos temas classificados como impróprios para o consumo público. Um deles é o fato, já
mencionado, de que não se tratava de acordos comerciais, mas de um princípio democrático; e de
que, de qualquer modo, os acordos não eram sobre o livre mercado. Ainda mais surpreendente é
que durante a intensa campanha parece não ter havido nenhuma menção pública ao futuro tratado
que devia estar no centro das preocupações: o Acordo Multilateral sobre o Investimento (AMI),
matéria bem mais importante do que a vinda do Chile para o NAFTA e outros petiscos servidos para

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