7- O ESPAÇO E O TEMPO DO VALOR
“A ciência entra” , escreveu M arx para Louis Kugelmann pouco após a publicação
do Livro I de O capital, “para mostrar como a lei do valor se faz valer.” 1 E típico da
abordagem de Marx primeiro derivar e especificar urna lei por um processo de abs
tração das circunstâncias materiais (como os atos da troca mercantil) e em seguida
explorar todas as possíveis contratendências que poderiam negar essa lei. Para fazer
o inverso, ele escreveu, “ seria preciso fornecer a ciência antes da ciência”. Conside
re, portanto, como a lei do valor - até agora explorada abstrata e esquemáticamente
como valor em movimento — se faz valer no espaço e no tempo.
Se o capital é definido com o “valor em movimento” , então devemos dizer algo
a respeito da configuração espaçotemporal do m undo em que ocorre esse movi
mento. O movimento não pode ocorrer no vácuo. Temos de abandonar a visão
do valor que se move sem estar ancorado em nenhum lugar e passar a enxergá-lo
criando geografias de cidades e redes de transportes, formando paisagens agrícolas
para a produção de alimentos e matérias-primas, englobando fluxos de pessoas,
bens e informações, determinando configurações territoriais de valores fundiários e
habilidades de trabalho, organizando espaços de trabalho, estruturas de governo
e administração. Também temos de levar em conta a importancia das tradições
acumuladas e do know-how d a classe trabalhadora em lugares e momentos parti
culares, das habilidades e relações sociais (e n ão,apenas de classe), tudo isso sem
deixar de reconhecer que as lutas políticas e sociais de pessoas que viveram em
determinados locais nos legaram memórias e esperanças de formas alternativas não
alienadas de ser e viver. *
Karl Marx e Friedrich Engels, Selected Correspondence, cit., p. 208.