O espaço e o tempo do valor / 131
uma só nação, com um só governo, uma só lei, um só interesse nacional de classe, uma
só barreira alfandegária.3
Já eram identificáveis os processos que levaram à unificação da Alemanha e da
Itália no finai do século X I X e à criação da União Européia, d a Organização M un
dial do Comércio (O M C ) e do poderoso Fundo M onetário Internacional (FM I)
no século XX. Sentimentos parecidos são expressos nos Grundrisse:
um a condição da produção baseada no capital é a produção de um círculo sempre am
pliado da circulação [...]. A tendência de criar o mercado mundial está imediatamente
dada no próprio conceito do capital. C ad a limite aparece com o barreira a ser superada.
[...] a produção de valor excedente relativo [...] requer a produção de novo consum o [...].
Primeiro, ampliação quantitativa do consum o existente; segundo, criação de novas ne
cessidades pela propagação das existentes em um círculo m ais am plo; terceiro, produção
de novas necessidades e descoberta e criação de novos valores de uso. [...] O capital, de
acordo com essa sua tendência, move-se para além tanto das fronteiras e dos precon
ceitos nacionais quanto d a divinização da natureza, bem com o da satisfação tradicio
nal das necessidades correntes, complacentemente circunscrita a certos limites, e da
reprodução do m odo de vida anterior. O capital é destrutivo disso tudo e revoluciona
constantemente, derruba todas as barreiras que im pedem o desenvolvimento das forças
produtivas, a am pliação das necessidades, a diversidade da produção e a exploração e a
troca das forças naturais e espirituais.4
A lei do valor internaliza o imperativo de formação do mercado mundial e remo
delação das geografias de produção e consumo à imagem e semelhança do capital.
E som ente o comércio internacional, o desenvolvimento do mercado em mercado
m undial, que faz com que o dinheiro se desenvolva em dinheiro m undial e o traba
lho abstrato se torne trabalho social. Riqueza, valor e dinheiro abstratos, e portanto o
trabalho abstrato, desenvolvem-se na m edida em que trabalho concreto se torna um a
totalidade de diferentes formas de trabalho abraçando o mercado m undial. [...] Essa é
ao m esm o tempo a precondição e o resultado da produção capitalista.5
Para que isso ocorresse, era preciso reduzir as barreiras físicas ao movimento. N a
época de Marx, o advento de barcos a vapor e ferrovias e a construção de portos,
3 Ibidem, p. 44.
A Karl Marx, Grundrisse, cit., p. 332-4.
5 Idem, Theories ofSurplus Valué, Part 2, cit., p. 253.