A loucura da razão econônica- David Harvey

(mariadeathaydes) #1

  1. A PRODUÇÃO DE REGIMES DE VALOR


A concorrência intercapitalista, diz Marx, fez valer as leis do movimento do capital,
embora nao as crie. Ao longo d ’ O capital, M arx assume (na m aior parte do tempo)
um a condição utópica de concorrência perfeita. Esse pressuposto serve bem ao seu
esforço de mostrar que a gloriosa utopia dós economistas políticos clássicos - para
os quais a coordenação das liberdades individuais e da propriedade privada pelo
mercado redundaria em benefício para todos - produziría na prática um pesadelo
distópico marcado por crescentes desigualdades de classe, degradação ambiental
e crises econômicas em profusão. M as impõe-se a questão acerca do que ocorre
quando esse mecanismo garantidor das leis do movimento do capital, que é a con­
corrência perfeita, não está presente ou se manifesta de maneira enviesada.
M arx assume tácitamente que a concorrência perfeita ocorre em um espaço em
que os custos de transporte são nulos e o movimento é sem atrito. M as toda con­
corrência espacial é concorrência m onopólica1. Isso porque as empresas possuem
monopólio sobre o espaço particular que ocupam e enfrentam concorrência apenas
de um número limitado de empresas (ou de nenhuma) em determinada extensão
geográfica. O s capitalistas individuais podem ser protegidos d a concorrência de
outros por uma combinação de altos custos de transporte e barreiras territoriais ao
comércio (como tarifas alfandegárias). A força desse efeito protecionista depende
da natureza das mercadorias, da estrutura tarifária e dos custos e do tempo de
transporte. N a época de M arx, itens pesados e perecíveis não escapavam do con­
trole monopólico local, ao passo que o comércio de ouro, prata, diamantes, espe­
ciarias, seda, tinturas e afins era pouco afetado por custos de transporte, mas podia *


(^1) Adrián C. Darnell (org.), The Collected Economia Anieles ofHarold Hotelling (Nova York, Springer,

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