A loucura da razão econônica- David Harvey

(mariadeathaydes) #1
160 / A loucura da razão econômica

fundamentais referentes aos doze potenciais países signatários. Estes são liderados
pelas economias de países do G 7, Estados Unidos, Japão e Canadá, os quais, jun­
to com a Austrália, representam 90% do PIB dos possíveis signatários. Juntas, as
economias em desenvolvimento participantes (México, Malásia, Chile, Vietnã e
Peru) representam apenas 8% do PIB total dos signatários. A T T I P e a T P P são, na
verdade, uma tentativa dos Estados Unidos de criar um regime particular de valor,
com o objetivo de interromper a diminuição de sua parte no comércio global à
custa dos outros, compensando assim a debilidade de seu crescimento econômico
e de sua lucratividade interna. Em 1985, a economia dos proponentes da T PP
representava 54% do PIB mundial; em 2014, esse valor havia caído para 36%. No
intervalo entre 1984 e 2004, a parcela dos EU A no PIB mundial caiu de 34% para
23%. N o mesmo período, a participação dos EU A no comércio internacional caiu
de 15% para 11%. Portanto, a TJPP não é um grande acordo de livre-comércio,
mas um pacto entre economias avançadas, com um a franja de países em desenvol­
vimento, cuja parcela no PIB mundial vem declinando significativamente, a fim de
manter os outros de fora, enquanto os Estados Unidos, ao centro, desempenham
o papel de poder dominante. O s benefícios, é claro, não seriam revertidos aos
trabalhadores, já que, conforme assinalou Marx, qualquer “excedente, tal com o no
intercâmbio entre o trabalho e o capital em geral, [é] embolsado por um a classe
determinada”. Houve efeitos semelhantes após a criação da Zona Euro com o re­
gime de valor supostamente coerente, equipado com uma moeda própria. Porém
o capital alemão predominou e obteve máximas vantagens, ao passo que Grécia,
Itália, Portugal e Espanha sofreram sistematicamente perdas de valor. O abandono
da Parceria Transpacífico por parte dos Estados Unidos deu abertura para a China
adotar e construir um a versão própria de regime de valor, no vácuo criado pela
retirada antecipada dos EUA.
À medida que a concorrência espacial monopólica diminuiu, tanto material
quanto politicamente, outras formas de monopólio se destacaram. A grande cor­
poração dotada de forte poder de mercado foi um traço importante do capitalismo
desde a última metade do século X IX , mas o desmonte gradual das barreiras espa­
ciais significou um a mudança de perspectivas - de nacional para global - do poder
corporativo, em particular após meados de 1970. Poder monopólico nos Estados
Unidos na década de 1960 significava as três grandes indústrias automobilísticas
de Detroit. O estudo clássico de Paul Baran e Paul Sweezy sobre O capitalismo
monopolista, publicado em 1966, reconhecia a necessidade de uma teoria alterna­
tiva do valor, mas concentrou boa parte de sua análise nos Estados Unidos, com
suas ramificações internacionais. Naqueles anos, os trabalhadores estadunidenses
(na verdade, todas as principais forças de trabalho nacionais) estavam em larga
medida protegidos da concorrência estrangeira, com exceção daquela possibilitada

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