168 / A loucura da razão econômica
no cenário mundial. A construção ativa de espaços alternativos na economia global
torna-se um a das características principais, embora muitas vezes negligenciada, da
natureza da lei do movimento do capital.
A definição e a identificação de regimes de valor regionais não são um a questão
trivial. O s tempos e os espaços absolutos de Estados ou de conjuntos de Estados,
tais com o a U nião Européia o u o N afta, certamente desempenham um papel nesse
sentido, conforme indica a intricada política recente das tentativas de engenha
ria geopolítica d a economia mundial. As fronteiras absolutas do N afta podem até
funcionar bem quando se trata de combinar o know-how dos Estados Unidos com
a m ão de obra barata do México, mas isso de form a alguma exclui a possibilida
de de que sejam usadas peças chinesas e matérias-primas africanas na manufatura
de um produto em terras mexicanas para ser comercializado nos Estados Unidos.
A crescente complexidade das cadeias globais de valor imprime um a dimensão
espaçotemporal relativa sobre quase todas as atividades, e esses movimentos não
cessam (ainda que tenham de fazer pausas) nas fronteiras. N o entanto, como no
caso do valor em geral, os aspectos imateriais porém objetivos capturados pelo
espaço-tempo relacionai podem ser decisivos na configuração de regimes regionais
de valor, ainda que as constelações hegemônicas de poder político-econômico es
tejam centralizadas em certos pontos nodais no interior das complexas redes e flu
xos de bens materiais, informações, conhecimentos e influência. Regimes de valor
regionais podem ser arranjados e hierarquizados em diferentes escalas. E possível
identificá-los no interior de Estados. O chamado Cinturão do Sol [sun belt] é mui
to diferente do chamado Cinturão da Ferrugem [rust belt\ nos Estados Unidos, e
a Catalunha não é a Andaluzia, da mesma maneira que H am burgo não é a mesma
coisa que a Bavária. Regimes de valor regionais são configurações instáveis e osci
lantes de influência e poder que existem e possuem manifestações poderosas, ainda
que não tenham definição material clara.
Iniciamos esta investigação do espaço e do tempo nos quais as leis do movimen
to do valor se fazem valer partindo da afirmação mais do que plausível de que é da
natureza do capital o ímpeto de conquistar e construir o mercado mundial. D epois
de percorrer o terreno contraditório em que essas leis operam, podem os ver que
também faz parte da natureza do capital a prática de destruir a uniformidade, a ho
mogeneidade e a racionalidade suprassensíveis do mercado mundial, produzindo
cacos incompatíveis e potencialmente perigosos de heterogeneidade, diferenças e
desenvolvimentos geográficos desiguais, independentemente das falhas humanas
irracionais que mancham a história da humanidade com violência e derramamento
de sangue. O fato de que tudo isso se transforma em questões de lutas geopolíticas
entre blocos de poder no cenário mundial é um a questão fértil de consequências.
A história geopolítica do capitalismo tem sido um a empreitada abieta (e continua