A loucura da razão econômica / 187
de luxo para os mais ricos. N ova York e Londres experimentaram um processo de
recuperação imobiliária com construções de luxo em meio a um a ausência crônica
de investimentos em m oradia acessível para os mais pobres.
Recue um pouco e reflita sobre o que está ocorrendo. H á algo de insano nessa
urbanização espetacular (“dissipação ilimitada e consumo irrestrito”) do G olfo Pér
sico, um a região do m undo desesperada por melhorias no bem-estar das pessoas
comuns. O m esmo precisa ser dito sobre os investimentos em condomínios de luxo
para os ricos e ultrarricos em N ova York, onde há u m a crise de habitação acessível
e 60 mil pessoas morando nas ruas. N as favelas fervilhantes de Bom baim , pipocam
edifícios suntuosos para os recém-bilionários. M uitos desses prédios de luxo estão
desocupados. D ê um passeio pelas ruas de N ova York e observe quantas luzes estão
acesas naqueles condomínios suntuosos que se erguem no céu noturno. O s edifí
cios são mero investimento, não apenas para os ultrarricos, mas para qualquer um
que tenha dinheiro de sobra para poupar.
Quando a China afrouxou o controle sobre o comércio exterior em 2016, apare
ceu um bando de compradores chineses em Nova York, Vancouver, São Francisco e
outras cidades, em busca não de um lugar para viver, e sim de um lugar para aplicar
seu dinheiro. Antes de 2007, quando os empresários irlandeses ainda estavam cheios
de dinheiro, também investiram em imóveis na ilha de Manhattan. O s russos, os
sauditas e os australianos estão fazendo o mesmo. E não são apenas os bilionários
que alimentam esse tipo de prática. A classe média alta também se apropria de
imóveis e terras sempre que pode. Fundos de pensão de trabalhadores investem em
esquemas predatórios envolvendo ativos imobiliários, porque é lá que a taxa de re
torno é mais alta. E pode acontecer de esses fundos serem coniventes com o despejo
de inquilinos que investem nos fundos de pensão que bancam o financiamento28.
O capital está construindo cidades para que pessoas e instituições invistam ne
las, e não cidades para as pessoas comuns viverem. Q uem em sã consciência con
sidera isso sensato?
Q uando o boom de construção na China diminuiu, a capacidade de produção
excedente nos setores de cimento e aço se tornou um problema. A demanda global
por insumos básicos caiu e os termos do comércio deixaram de ser favoráveis para
os produtores de matérias-primas. E m 2013, o Brasil estava nadando em dinheiro.
Em 2016, já se encontrava em profunda recessão. Desde 2014, os problemas eco
nômicos têm se aprofundado em boa parte da América Latina, porque o mercado
chinês não é mais tão vigoroso. Até mesmo a Alemanha, que exporta máquinas-
-ferramenta e equipamento de ponta para a China, sentiu o baque.
28 Matthew Goldstein, Rachei Abrams e Ben Protess, “How Housings New Players Spiralecl into