A loucura da razão econônica- David Harvey

(mariadeathaydes) #1
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do aparato estatal) e de um Banco Central, que é o ápice do sistema bancário privado.
A primeira estrutura desse tipo surgiu com a fundação do Banco da Inglaterra, em



  1. U m a carta régia de Guilherme e Maria concedeu monopólio bancário e garan­
    tiu amplos poderes a um grupo de comerciantes ricos em troca de crédito e financia­
    mento a um Estado que havia sido quebrado pelo desregramento dos reis da Casa de
    Stuart. O equilíbrio de poder entre o Estado e as finanças se deslocou com o tempo.
    Desde que Bill Clinton admitiu, nos primeiros anos de sua presidência, que seu
    programa econômico dependia do consentimento dos credores, o posto de secretário
    do Tesouro dos Estados Unidos tem sido ocupado por alguém da Goldman Sachs.
    Esse nexo Estado-finanças não é sujeito a controle democrático ou popular.
    Sua função é garantir a regulação e o controle do sistema bancário privado, em
    benefício do capital com o um todo. A natureza das finanças, sugere Marx, é ga­
    rantir o gerenciamento 4 o “capital com um de um a classe”51. D a perspectiva do
    todo, o nexo Estado-finanças é análogo ao sistema nervoso central de qualquer
    totalidade orgânica. Ele sanciona e garante práticas de alavancagem que pegam
    dinheiro ocioso em depósitos e o convertem em anticapital. O papel do anticapital,
    como vimos anteriormente, é comprometer o futuro do maior número possível de
    agentes econômicos e condenar todos — consumidores, produtores, comerciantes,
    proprietários e até os próprios financistas — à servidão por dívida.
    “ O capital, como mercadoria de tipo específico” sempre teve “um modo pecu­
    liar de alienação” :


toda a enorme expansão do sistema de crédito, todo o crédito em geral, é explorada por eles
como se fosse seu capital privado. Esses sujeitos possuem o capital e a receita sempre em
forma de dinheiro ou de direitos que versam diretamente sobre o dinheiro. A acumulação
da fortuna dessa classe pode ter lugar de maneira muito distinta da acumulação real, mas,
em todo caso, demonstra que essa classe embolsa uma parcela considerável desta última.52

O problema é que a finança normalmente:

estabelece o monopólio [em certas esferas] e, com isso, provoca a ingerência estatal.
Produz uma nova aristocracia financeira, uma nova classe de parasitas sob a forma de
projetistas, fundadores e diretores meramente nominais; todo um sistema de especula­
ção e de fraude no que diz respeito à fundação de sociedades por ações e ao lançamento
e comércio de ações.53

51 Karl Marx, O capital, Livro III, cit., p. 416.
52 Ibidem, p. 396 e 535.
53 Ibidem, d. 496.

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