A loucura da razão econônica- David Harvey

(mariadeathaydes) #1

38 / A loucura da razão econômica


na industrialização inglesa até os dias de hoje, digamos, ñas fábricas de Bangladesh
ou de Shenzhen, contém evidencias profusas da recriação repetida das condições
descritas por Marx, ao passo que a ênfase em políticas de livre mercado nos países
capitalistas avançados ao longo dos últimos quarenta anos produziu níveis cada vez
maiores de desigualdade de classe. Mas também abundam evidencias para dizer
que essa não é toda a historia, e que há elementos de resgate nas dinâmicas do capi­
tal que apontam para uma direção diferente. Por exemplo, a expectativa de vida dos
trabalhadores tem aumentado em diversas partes do mundo. O estilo de vida
do trabalhador médio — ao menos em algumas partes do mundo — não é intei-
ramente de miséria apocalíptica. Em certos lugares, ele até parece reluzir sedu-
toramente em um universo de consumismo compensatorio.
A conclusão de Marx no Livro I é inteiramente condicionada por suas pressu­
posições. Como em qualquer construção de um modelo, se os pressupostos forem
alterados, os resultados também o serão. O Livro I oferece uma perspectiva da
totalidade do ponto de vista da valorização. Como tal, tem urna importancia ines­
timável. Porém é parcial.


LIVRO II


Marx pretendia que o Livro II fosse um estudo da circulação do capital que ocorre
durante e depois da entrada deste no mercado. Ele retoma a historia do valor em
movimento a partir do ponto em que o Livro I se encerra. A metamorfose do valor
de forma-mercadoria em forma-dinheiro é um momento crucial. Isso porque a
realização do valor e do mais-valor na forma-dinheiro é o único momento em que
a criação de valor pode ser mensurada e registrada. Só nesse momento temos urna
prova material tangível de que foi produzido mais-valor.
O Livro II propõe uma perspectiva da circulação geral do capital tomada do
ponto de vista da realização do valor e sua subsequente circulação. Marx persegue
esse objetivo partindo de certas pressuposições. Primeiro, assume que há uma tec­
nologia constante, ignorando completamente as descobertas que fez no Livro I com
suas investigações sobre as mudanças tecnológicas. “Partimos aqui do pressuposto
não apenas de que as mercadorias são vendidas por seus valores, mas também de
que isso ocorre em circunstâncias invariáveis. Não levamos em conta, portanto, as
alterações de valor que podem ocorrer durante o processo cíclico.”3 Proceder como
se a mudança na produtividade de valor não tivesse importância parece injustifica-


3 Idem, 0 capital: crítica da economia política, Livro II: 0 processo de circulação do capital (trad.

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(^3) Idem, O capital: crítica da economia política, Livro II: O processo de circulação do capital (trad. 4 Ibidem, p. 497.
Rubens Enderle, Sao Paulo, Boitempo, 2014), p. 108.

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