42 / A loucura da razão econômica
mercadorias, a realização do capital-mercadoria e, assim, também a do mais-valor,
está limitada não pelas necessidades de consumo da sociedade em geral, mas pelas
necessidades de consumo de uma sociedade cuja grande maioria é sempre pobre e
tem de permanecer pobre/’
A demanda efetiva das classes trabalhadoras é implicada aqui na manutenção
do equilíbrio do mercado, e essa demanda efetiva é perpetuamente ameaçada,
segundo a análise do Livro I. É difícil introduzir essa questão na teorização mar
xista porque essa era uma das preocupações de Keynes e, ao comentá-la, corre
mos o risco de importar o keynesianismo para o interior do marxismo, quando,
evidentemente, a influência é ao contrário. Mas aqui temos uma explicação do
motivo de o destino das classes trabalhadoras ser afundar no consumismo com
pensatório: porque é assim que o capital mantém seu mercado intacto. Mas,
como no caso do Livro I, essa conclusão depende dos pressupostos. No entanto,
independentemente de como as analisamos, as descobertas do Livro II sobre essa
questão contradizem as do Livro I. A pressão para reduzir salários que anima o
Livro I solapa a capacidade da demanda efetiva dos trabalhadores para estabilizar
a economia no Livro II. Isso assinala um ponto de contradição e instabilidade no
interior da circulação do valor em movimento. O enfraquecimento do poder re
lativo da demanda efetiva dos trabalhadores ao longo das últimas quatro décadas
de neoliberalismo contribuiu para a estagnação secular que boa parte do mundo
capitalista experimenta hoje.
LIVRO III
O principal foco do Livro III é a distribuição. Engels também incluiu outros
materiais importantes, como capítulos sobre a concorrência e sobre a crítica da
chamada “fórmula trinitaria” (terra, trabalho e capital), porque eram interessantes
por si sós. Mas boa parte do texto se dedica à análise das diferentes formas de
distribuição e suas consequências. Ao fazê-lo, ele despreza as questões da valoriza
ção e da realização analisadas nos outros dois livros. As dinâmicas das mudanças
tecnológicas e organizacionais que sustentam o mais-valor relativo e contribuem
para a formação do exército industrial de reserva não são consideradas. O método
de Marx nesse volume, assim como nos outros dois, é tomar uma fase da circula
ção do valor e examiná-la detalhadamente, mantendo constantes todas as outras
características do processo de circulação. Como nos mostra a citação que serve de 6
6 Ibidem, p. 412.