A loucura da razão econônica- David Harvey

(mariadeathaydes) #1

44 / A loucura da razão econômica


invisível do mercado a perseguir a maximizaçáo do lucro, e não a maximização da
produção de mais-valor. Em outras palavras, as leis de distribuição do mais-valor
entre os capitalistas individuais são antagônicas às leis de produção do mais-valor.
Há potencial para crises nesse antagonismo.
Talvez seja mais importante para Marx a forma pela qual a equalização da taxa
de lucro “obscurece e mistifica por completo, desde o início, a verdadeira origem
do mais-valor”8. A “figura medular interior” do capital se torna irreconhecível não
apenas para os próprios capitalistas mas também para os economistas que tentam
representá-lo.


[...] na concorrência, tudo aparece invertido. As figuras acabadas das relações econômicas,
tal como se mostram na superfície, em sua existência real e, por conseguinte, também
nas representações por meio das quais os portadores e os agentes dessas relações procu­
ram obter uma consciência clara dessas mesmas relações, são muito distintas e, de fato,
invertidas, antitéticas a sua figura medular interior - essencial, porém encoberta - e ao
conceito que lhe corresponde.9

É evidentemente a misteriosa e oculta “figura medular interior” que recebe a
atenção de Marx.


b) Capitalistas industriais como fração de classe

Os capitalistas que contratam mão de obra com o propósito expresso de criar
mais-valor na forma-mercadoria supostamente estariam em posição privilegiada
para capturar para si próprios o mais-valor produzido por ela. Mas a equalização
da taxa de lucro redistribui o mais-valor de maneira desigual entre eles conforme
o capital que adiantam, e o fisco está sempre à espreita para abocanhar sua fatia.
Esses capitalistas também são obrigados a repassar parte do valor e do mais-valor
na forma de lucro para comerciantes, de aluguel para proprietários de terras e
imóveis e de juros para banqueiros e financistas. Longe de serem apropriadores
privilegiados do mais-valor, os “capitalistas industriais”, como Marx os denomi­
na, muitas vezes ficam apenas com o que sobrou depois de satisfazer as reivindi­
cações de todos os outros.

8 Idem, O capital: crítica da economia política, Livro III: O processo global da produção capitalista
(trad. Rubens Enderle, São Paulo, Boitempo, 2017), p. 201.
9 Ibidem, p. 245.
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