A loucura da razão econônica- David Harvey

(mariadeathaydes) #1

  1. O DINHEIRO COMO
    REPRESENTAÇÃO DO VALOR


Boa parte dos argumentos teóricos de Marx ao longo d’O capital são expressos em
termos de valor. Os dados económicos do mundo e boa parte dos exemplos reais
de Marx são expressos em termos de dinheiro. Devemos assumir, portanto, que o
dinheiro é uma representação precisa e não problemática do valor? Se não, por qué?
E que consequências isso tem? Dada a historia das formas representacionais, é pos­
sível que o dinheiro seja fundado em distorções sistêmicas do valor que ele deveria
representar? As projeções cartográficas são conhecidas por representar com precisão
certas características da superficie terrestre e distorcer outras. Não deveríamos nos
preocupar com a possibilidade de distorções semelhantes no caso do dinheiro em
relação ao valor?
O valor é uma relação social. Como tal, é “¡material, porém objetivo”. A “obje­
tividade fantasmagórica” do valor surge porque “na objetividade de seu valor [das
mercadorias] não está contido um único átomo de matéria natural”. O estatuto das
mercadorias como valor contrasta com a “objetividade sensível e crua dos corpos-
-mercadorias [...]. Por isso, pode-se virar e revirar uma mercadoria como se quei­
ra, e ela permanece inapreensível como coisa de valor [ Wertdin^ ”1. O valor das
mercadorias é, como muitas outras características da vida social (poder, reputação,
status, influência ou carisma), uma relação social imaterial, porém objetiva, que
anseia por uma expressão material. No caso do valor, essa necessidade é satisfeita
por aquilo que Marx denomina a “ofuscante forma-dinheiro”.
Marx é muito cuidadoso com a linguagem. Ele se refere ao dinheiro quase ex­
clusivamente como a “forma de expressão” ou a “representação” do valor. E evita 1


1 Karl Marx, O capital, Livro I, cit., p. 125.
Free download pdf