Dragões - 201809

(PepeLegal) #1

MOMENTOS-CHAVE #


REVISTA DRAGÕES setembro 2018

1906


O FC Porto ganha uma
segunda vida com José
Monteiro da Costa, em 2 de
agosto. Mais um burguês
da cidade, filho de um
hortofloricultor, atividade
popular à qual se dedicaram
ilustres portuenses como
Aurélio da Paz dos Reis;
Monteiro da Costa foi
estudante em Inglaterra e
dali trouxe a paixão pelo
futebol. Com o Grupo do
Destino, dedicado à prática
da modalidade, resolveu
relançar o projeto do FC
Porto, tornando-o azul e
branco como a bandeira
portuguesa da época,
fazendo-lhe um campo, o
da Rainha, e querendo-o
eclético, como para sempre
há de ser. Em 1906 chegava
ao poder João Franco, que
deu fim ao rotativismo
constitucional e iniciou uma
ditadura que condenaria à
morte a Monarquia: “Por
menos do que fez o Sr. D.
Carlos, rolou no cadafalso
a cabeça de Luís XVI”,
afirmaria Afonso Costa.
Era assim que estavam
as coisas. Radicalizadas.
No Porto, realizara-se em
junho o Congresso do
Partido Republicano, e a
linha férrea do Sul chegava,
finalmente, a Vila Real de
Santo António. Santos
Dumont destacava-se entre
os pioneiros da aviação,
realizando o primeiro voo
com o aparelho 14-Bis no
Campo de Bagatelle em
Paris, nascia a vénus negra
Josefine Baker, o filósofo
português Agostinho da Silva


e o poeta António Gedeão,
morria nos Açores o célebre
Gungunhana, último
imperador de Gaza, e
extinguia-se, para sempre,
o periquito-das-Seychelles.
Raul Brandão publicava
Os Pobres, Sampaio
Bruno continuava a sua
obra com Os modernos
publicistas portugueses
e Campos Lima refletia
sobre A questão social.
Em Lisboa realizava-se o
primeiro campeonato de
futebol disputado entre os
clubes da cidade e arredores.
No Porto eram apreciados
os confrontos entre o
FC Porto e o Boavista FC,
alimentando uma saudável
rivalidade que se mantém
até aos nossos dias.

18 de junho de 1922
O FC Porto sagra-se primeiro Campeão de Portugal ao
bater o Sporting por 3-1 na finalíssima disputada no Estádio
do Bessa. Festejada euforicamente por toda a cidade,
era a consagração do desporto-rei em Portugal. Com o
Campeonato de Portugal dava-se início às competições
nacionais, que evoluiriam até ao modelo que presentemente
conhecemos, discutindo-se, ainda hoje, a sua natureza.
A euforia desportiva portuense contrastava com o pessimismo
geral do país. A primeira República falhava em toda a linha e aquilo
que em 1910 constituíra uma esperança para Portugal era então
minado pela instabilidade social e não tardaria a transformar-se
num pesadelo, mais um depois do que acontecera com a Grande
Guerra, aproveitado pela ditadura – Salazar já se insinuava nos meios
políticos e intelectuais portugueses apresentando o texto Centro
Católico Português, Princípios e Organização ao 2.º Congresso do
Centro Católico de Lisboa e publicando, no mesmo ano, Lições
de Finanças. Sucediam-se as greves, os atentados, confrontos
entre grupos rivais, socialistas, anarco-sindicalistas, republicanos e
nacionalistas, manifestações que terminavam invariavelmente com
zaragatas, rebentamento de petardos, cargas policiais e prisões. Em
7 de agosto foi declarado o estado de sítio na capital e arredores,
com suspensão dos direitos constitucionais. Valia o desporto e alguns
feitos mais ou menos a ele ligados a que as pessoas se agarravam
à procura de um orgulho que não sentiam perante outras áreas

da vida nacional. Em 22 de Março os aviadores Gago Coutinho e
Sacadura Cabral partiam de Lisboa rumo ao Rio de Janeiro, naquela
que viria a ser a primeira travessia aérea do Atlântico Sul, pilotando
o Lusitânia, e chegando ao Rio em 17 de junho, já a bordo do Santa
Cruz. Aclamados como heróis, os aviadores foram alvo de sucessivas
homenagens, inclusivamente a anteceder diversos jogos de futebol.
Fortunato de Almeida publicava História da Igreja em Portugal,
obra em seis volumes, ainda hoje de referência; Vieira de Castro
A Europa e a República Portuguesa e Aquilino Ribeiro a sua obra
mais popular: O Malhadinhas. Ainda muito marcada pelas feridas
abertas durante o conflito mundial, a cultura universal foi enriquecida
com algumas obras-primas: James Joyce publicou Ulisses, Herman
Hesse Siddartha e T.S. Eliot The Waste Land, o poema de todas as
ansiedades e inquietações daquele mundo desfeito, as mesmas
ansiedades e inquietações que Joyce traduzia em prosa no seu
Ulisses. 1922 foi o ano em que nasceram Pier Paolo Pasolini (confesso
amante de futebol), Jack Kerouac, Agustina Bessa-Luís e José
Saramago; o ano em que morreu a pintora Aurélia de Sousa. No
cinema, Rudolfo Valentino continuava a ser o preferido do público, e
no ecrã formava um par muito apreciado com Gloria Swanson. Fritz
Lang dirigia Dr. Mabuse, der Spieler, F.W. Murnau realizava Nosferatu
e a grande vedeta Douglas Fairbanks brilhava no papel de Sherlock
Holmes. Em 28 de fevereiro, o Egito tornava-se independente, e em
28 de outubro os camisas-negras de Benito Mussolini marchavam
sobre Roma. Começava o tempo dos fascismos e sopravam
os ventos de guerra que levariam a novo conflito mundial.
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