MOMENTOS-CHAVE #
REVISTA DRAGÕES setembro 2018
Porto 1, Benfica 1. O golo de Ademir aos
83 minutos. Cerca de 80 mil pessoas
amontoadas nas Antas – ainda hoje me
espanta o silêncio sepulcral nos dez minutos
que antecederam o golo – testemunharam
um dos golos mais importantes da história
do FC Porto; porventura mais importante
do que aquele que foi apontado por Kelvin
em 11 de maio de 2013, uma vez que o
clube estava há dezanove anos sem vencer
o campeonato e esse tento (a bola parece
que ziguezagueou entre todos os jogadores
que estavam na área) praticamente
resolveu a questão do título. Acabavam
os 19 anos de dor que, no entanto, nunca
nos impediram de continuar a acreditar,
como diz a canção dos Lightning Seeds.
Era a consagração da dupla Pedroto-
Pinto da Costa, anunciada na conquista
da Taça de Portugal na época anterior,
e a afirmação de um projeto desportivo
que faria do clube o mais vitorioso em
Portugal desde o 25 de abril de 1974.
Portugal vivia em liberdade há quatro
anos. Democracia ainda jovem, imatura,
irrequieta, como seria de esperar. Com
disputas acesas e radicalização partidária.
Um documento de janeiro, subscrito
por milhares de pessoas, exigia que o
presidente Ramalho Eanes garantisse
o afastamento da ameaça fascista e a
extinção das “raízes fascistas da terra
portuguesa”. Mário Soares prosseguia
um dos grandes trabalhos da sua vida:
a integração de Portugal na CEE, para o
que visitou várias capitais europeias.
No Ano Internacional Antiapartheid, a
Igreja de Roma viu-se abalada pelas
sucessivas mortes de Paulo VI e João
Paulo I, este último 33 dias depois de ser
eleito, dando origem a múltiplas teorias
da conspiração. No dia 7 de novembro
acontecia um dos maiores horrores da
história do fanatismo religioso: na apelidada
cidade de Jonestown, Guiana, os 918
membros do culto Templo dos Povos
cometeram suicídio/assassinato em massa,
seguindo na morte o seu pastor James
“Jim” Jones. Muammar Kadafi, líder líbio,
levantava a voz exigindo a independência
da ilha da Madeira considerando-a parte
integrante de África, e a Grécia adotava
a bandeira que ostenta atualmente.
Entre as dezenas de filmes que estrearam
nesse ano destaco A Gaiola das Malucas,
de Édouard Molinaro, com interpretações
inesquecíveis de Ugo Tognazzi e Michel
Serrault, O Caçador, de Michael Cimino,
com Robert De Niro e Christopher Walken;
estreava Fedora, de Billy Wilder, e Ingmar
Bergman apresentava Sonata de Outono;
Grease, com John Travolta e Olivia Newton-
John tornou-se de culto para uma geração
com duvidoso gosto musical, mas o cinema
recompensou-nos com o magnífico A
Última Valsa, de Martin Scorcese, que
documenta a despedida dos The Band;
enfim, Terence Malik voltava a surpreender
com o belíssimo Days of Heaven. Em 1978
os Sex Pistols anunciaram a sua separação
e os Police editavam o seu primeiro álbum
Outlandos d'Amour; desapareceram Keith
Moon, mítico baterista dos Who, e Jacques
Brel, compositor e cantor belga. No grupo
dos que vieram ao mundo encontram-se
John Legend, a portuguesa Sara Tavares
e Julian Casablancas, líder dos Strokes.
Entre as coisas bizarras desse ano nenhuma
bateu a que ocorreu em 1 de março, quando
o corpo de Charlie Chaplin foi roubado
da campa no cemitério de Corsier-sur-
Vevey, Suíça, por dois emigrantes (um
polaco e um búlgaro) que exigiram um
resgate à viúva Oona O'Neill Chaplin.
28 de maio de 1978
O FC Porto, orientado por
Artur Jorge, venceu a Taça dos
Campeões Europeus em Viena.
2-1 sobre o Bayern Munique.
Foi o calcanhar de Madjer, a
oração de Juary na lateral e a
taça colada às mãos de João
Pinto. Foi o momento em que o
FC Porto, em definitivo, se deu
a conhecer ao mundo como um
dos grandes da modalidade. Em
13 de dezembro do mesmo ano,
o clube sagrava-se Campeão
do Mundo pela primeira vez
na célebre final da neve de
Tóquio, e entretanto vencia
a Supertaça Europeia em
duas mãos, contra o Ajax.
Nesse ano morreu João Gaspar
Simões, um dos fundadores da
revista Presença, com José Régio
e Branquinho da Fonseca, tomou
posse a Comissão Nacional
para as Comemorações dos
Descobrimentos Portugueses
e morreu Zeca Afonso, um
dos maiores símbolos de abril.
Outro desses símbolos, Otelo
Saraiva de Carvalho, saía
condenado a 15 anos de cadeia
no julgamento das FP 25. O livro
de Almeida Garrett Viagens
na Minha Terra foi traduzido
para inglês por iniciativa
da UNESCO, e em meados
do ano diversas operações
policiais desmantelaram
algumas TV piratas que nessa
altura tentavam disputar o
monopólio da RTP. Depois
das eleições legislativas de
19 de julho, Cavaco Silva
alcançava a primeira maioria
absoluta; na mesma altura
Mário Soares inaugurava em
Paris, no Petit Palais, uma
exposição de pintura e escultura
portuguesa oitocentista.
Quatro dias depois da vitória
portista em Viena, Ayrton
Senna ganhava o grande prémio
do Mónaco de Fórmula 1 pela
primeira vez, Alain Prost tornava-
se o piloto mais vitorioso com
o triunfo no Grande Prémio de
Portugal e Nelson Piquet viria a
sagrar-se campeão do mundo.
Durante a guerra Irão-Iraque, a
fragata norte-americana Stark foi
atingida por dois mísseis Exocet.
Rudolf Hess, ideólogo nazi
preso desde 1941, morria a 17 de
agosto. O mundo perderia gente
muito mais interessante: em 22
de fevereiro desaparecia Andy
Warhol, o ator e dançarino Fred
Astaire partia em 22 de junho e
Carlos Drummond de Andrade
deixava-nos em 17 de agosto.
O cinema continuava a levar
multidões às salas; nesse ano, em
que morreram o realizador John
Houston e a atriz Rita Hayworth,
estrearam, entre muitos, Au
revoir les enfants, de Louis Malle,
Broadcast News, de James L.
Brooks, Cry Freedom, de Richard
Attenborough, Full Metal Jacket,
de Stanley Kubrick, A Lei do
Desejo, de Pedro Almodovar, Os
Dias da Rádio, de Woody Allen,
Os Intocáveis, de Brian De Palma,
e Wall Street, de Oliver Stone.
Madonna iniciava a Who's That
Girl Tour, a sua primeira tournée
mundial, Michael Jackson lançava
o álbum Bad, e os U2 gravavam
The Joshua Tree. Na antecâmara
de uma nova revolução musical,
em Aberdeen, Whashington,
nasciam os Nirvana,
liderados por Kurt Cobain.
27 de maio de 1987