A Bola - 20200801

(PepeLegal) #1

28 A BOLA


Sábado
1 de agosto de 2020

Via verde


Por
DIAS FERREIRA

OPINIÃO


Toxicidade!


«Tinha cabelo e bigode. Hoje
não tenho nem cabelo, nem bigo-
de.» Fernando Seara, conhecido
no espaço televisivo como o care-
ca do Benfica recorda os primeiros
anos de televisão e os primeiros
programas de Jogo Falado, um te-
ledebate apresentado por Paulo Ca-
tarro que moderava um «espaço
vivo e de sã conversa desportiva»,
nos «limites do bom senso e do
bom gosto» e no qual o «futebol é
vedeta», assim se apresenta no si-
te da RTP. Guilherme Aguiar (adep-
to do Porto), com bigode, então, e
Dias Ferreira (Sporting), de barba
e algum cabelo, eram os outros pro-
tagonistas. Estávamos em 1995 e o
programa era gravado e transmiti-
do, em diferido, na RTP2. Só pos-
teriormente passou a direto, a 13 de
março 1996, para as noites de se-
gunda-feira, em direto, na RTP1.
Hoje, 2019, Seara, já admitiu,
perdeu cabelo e bigode, Guilher-
me Aguiar perdeu igualmente o
manto debaixo do nariz (e algum
cabelo) e Dias Ferreira, bom Dias
Ferreira, ganhou a cor branca na
barba e cabelo. Paulo Catarro, esse,
mantém-se igual no que toca à
questão capilar mas ganhou alguns
quilos.
Os quatro juntaram-se no hotel
da Estrela, em Lisboa. Revisitaram
o programa Jogo Falado, pioneiro
no género de debate sobre despor-
to e futebol, durante a conferência
Portugal jurídico-desportivo, 20 anos
depois, evento comemorativo dos
20 anos de existência da Associação
de Direito Desportivo 1998-2018.
«Começamos na RTP2, hoje es-
tamos na RTP Memória», ironizou
Paulo Catarro, sobre o programa
que nasceu de uma ideia de Mário
Rui de Castro, então chefe do depar-
tamento de Desporto da estação
pública de televisão.
«Cada um estava a representar-
-se a si próprio. Hoje (os comenta-
dores) assumem uma posição ofi-
cial (dos clubes). Antes nenhum
deles tinha cartilhas. Falavam de
um tema que eu escolhia durante a
semana», comparou.
«Não tínhamos cartilha. Tínha-
mos a nossa paixão de clube que era
conhecida», reforçou Guilherme
Aguiar, que percorreu «310 km» a
que se seguem outros tantos «a se-
guir» uma vez que era o «único
representante do norte para revi-
ver este painel (que não se chama-
va assim na altura) sem sermos
paineleiros».
Não é preciso dizer mais nada,
mas apenas confirmar que éra-
mos absolutamente independen-
tes das direcções dos respectivos

clubes e, se de alguma coisa nos
acusavam era disso mesmo, como
foi o meu caso!
Em 2003, a SIC Notícias, que ain-
da hoje tenho no meu coração, até
pelos muitos amigos que lá deixei,
e outros que foram para outros la-
dos, resolveu recuperar aquele for-
mato de programa desportivo, sob
o título de O Dia Seguinte e a mode-
ração de Pedro Mourinho. Os co-
mentadores eram os mesmos e, to-
dos nos orgulhamos, das audiências
que obtivemos para o programa, e
mesmo para a SIC Notícias. Não é
vaidade, é um facto!
Contudo, é mesmo na SIC que
se verifica a primeira intromissão
de um presidente de um clube, em
directo, ao vivo e de cor vermelha:
em 2004, o presidente do Benfica,
Luís Filipe Vieira, invadiu o estú-
dio sentando-se ao lado do mo-
derador Pedro Mourinho. O moti-
vo da interrupção foi a inscrição
alegadamente irregular do joga-
dor Ricardo Rocha, que LFV con-
siderou necessitar de um esclare-
cimento ao vivo, e que redundou
num acto da maior desconsidera-
ção para com Fernando Seara, que
só teve paralelo quando foi subs-
tituído no programa Prolongamen-
to pelo aparelho de comunicação
daquele clube, pelo cartilheiro-
-mor, cujo nome me dispenso de
pronunciar!
Seara, quando foi para a TVI, ce-
deu o seu lugar a Rui Gomes da Sil-
va, que, sendo membro da Direc-
ção do Benfica e administrador da
SAD, não precisava de cartilha, li-
mitando-se a ser um porta-voz
dessa mesma cartilha! Hoje, se ca-
lhar, e por ironia do destino, vai ser
vítima dessa cartilha!
Nos últimos anos foi por demais
clara a estratégia dos clubes e das
suas direcções de comunicação de
procurarem interferir na escolha
dos seus representantes nesses pro-
gramas e o Benfica foi ainda mais
longe organizando com profissio-
nalismo, mas muita falta de pudor,
uma cartilha a distribuir pelos co-
mentadores afectos, que atingiu o
seu auge quando Jorge Jesus saiu
para o Sporting, e que agora está a
ser reescrita, com tanta ou mais
falta de vergonha, embora com
honrosas excepções!...
A moda pegou, e das guerras das
direcções de comunicação começa-
ram a fazer parte, como soldados,
alguns comentadores, que assim
deixaram de ser, limitando-se a ser
eco de directrizes superiores. E a
partir daí, na minha modesta opi-
nião, programas de informação pas-
saram a ser programas de entrete-

nimento! E, assim, enquanto
programas de informação esgota-
ram, porque optaram pela contra-
-informação!
Por isso, eu digo, que os clubes,
e em especial o Benfica, não con-
tribuíram muito, mas totalmente,
para este ambiente de toxicidade.
Ricardo Costa afirma, e estou de
acordo, que é preciso dar o salto em
frente e continuar a acompanhar o
desporto e o futebol. Sabe RC mais
de televisão e informação a dormir,
que eu acordado. Mas permita-me
que lhe faça uma sugestão, como
faço aos leitores: vejam os progra-
mas italianos sobre desporto, onde
a estética dos personagens e o con-
teúdo dos seus comentários, en-
tretêm e informam!

Responsabilidade


N


A política, como no fu-
tebol, estou farto de ou-
vir os dirigentes assumi-
rem responsabilidades
por determinados factos
ou acontecimentos, mas, de uma
forma geral, não tiram quaisquer
consequências dessa assunção de
responsabilidades.
Na política, e assim de repente,
apenas me lembro do caso de um
ministro, Jorge Coelho de seu
nome, e meu ilustre consócio, que
assumiu a responsabilidade polí-
tica da tragédia de Entre-os-Rios,
e se demitiu, não tendo mais — se
bem me lembro — assumido qual-
quer cargo de natureza pública,
muito menos governativa. Por isso,
tenho grande admiração por ele,
ainda que não seja do meu parti-
do político!
Vem isto a propósito da entre-
vista de Frederico Varandas, que
aliás já vi qualificada de embuste,
no qual assume responsabilidade
pela má época do Sporting, o que
de resto é uma verdade de La Pa-
lice, da qual não tira quaisquer
consequências!
Há quem caridosamente aplau-
da a coragem de tal afirmação, como
se não fosse uma evidência. Não
posso estar de acordo, a não ser que
se refiram apenas a coragem física
que não ponho em causa. Coragem
moral — a verdadeira coragem —
que está na decisão para romper
com interesses e erguer a voz da
consciência acima de tudo e de to-
dos, seria reconhecer que foi in-
competente e arrogante e daí tirar
as naturais consequências!

Os clubes, e em especial
o Benfica,
contribuíram muito
para este ambiente

M


UITO se falou esta se-
mana de ambiente de
toxicidade, como se se
não fosse esse o am-
biente normal do fute-
bol. O futebol está cheio de produ-
tos tóxicos e pessoas tóxicas. Aliás,
se o mundo, por um lado, anda a ser
varrido por um vírus chamado Co-
vid-19, nascido ou inventado, sabe-
-se lá onde e por quem, anda, por
outro lado, a ser destruído nos prin-
cípios e valores que deviam funda-
mentar e sustentar as sociedades e
as instituições! Não nos podemos
admirar que o mundo futebol não
seja diferente desse outro mundo!
Esta semana, porém, livres da
intoxicação mediática do regresso
de Jorge Jesus, que passou de tóxi-
co a novamente amado por alguns
dos muitos que se haviam tornado
alérgicos, a toxicidade de que se fa-
lou foi «esse ambiente de toxici-
dade que se foi criando à volta des-
te tipo de programas, e para o qual
contribuiu muito os próprios clubes
e as suas máquinas de comunica-
ção...». É aliás o que consta do co-
municado da SIC subscrito pelo seu
director de informação, Ricardo
Costa, onde de se concluiu pela des-
continuação dos programas O Dia
Seguinte, onde participei desde o
início em 2003 até 1 de Abril de
2013, e o Play Off!
Uma coisa apenas não merece a
minha concordância: que os clu-
bes tenham contribuído muito para
esse ambiente. Não foi muito! Foi to-
talmente!
O primeiro programa do género,
como todos se devem lembrar, foi na
RTP e teve como protagonistas, além
do moderador Paulo Catarro, Fer-
nando Seara, Guilherme Aguiar e
eu próprio. Procurando na internet
alguma informação sobre esse pro-
grama de há 25 anos, deparei com
uma notícia da Sapo, de 3 de Mar-
ço de 2019, a propósito de um revi-
val ocorrido por ocasião dos vinte
anos da constituição da Associação
Portuguesa de Direito Desportivo, de
que sou sócio n.º 1 e o meu amigo
Paulo Relógio o n.º 2. Com a devida
vénia, transcrevo tal notícia:


Nota — Dias Ferreira opta por escrever as suas
crónicas na ortografia antiga

LAPIDAR


Foi com enorme honra
que recebi o convite para treinar
o Vitória e será com grande sentido
de responsabilidade que vou assumir
o desafio

Vamos trabalhar por vitórias, um
jogo atrativo e levar entusiasmo aos
nossos adeptos. E assim levaremos o
Boavista aos lugares que merece
VASCO SEABRA
Treinador do Boavista

Quem iria beneficiar
se o Aves descesse? O Cova
da Piedade. Parece que há
excelentes relações entre
elementos da SAD do Aves
e do Cova da Piedade.
Portanto, investigue-se!

ANTÓNIO
FREITAS
Presidente do Aves

TIAGO
Treinador do V. Guimarães

Em Portugal os guarda-redes
nacionais têm sempre de mostrar mais
que os outros. Lá fora é ao contrário,
os estrangeiros é que têm de provar

Estou muito feliz por regressar a
Portugal. Quando recebi a proposta
não tive dúvidas. A negociação foi
muito fácil (...). Voltei para um grande
clube, que cresce de ano para ano
CASTRO
Médio do SC Braga

Sabemos também que
existem dívidas entre clubes,
assumidas em conferências de
imprensa, acrescentando-se a
isso dívidas também para com
o próprio Vitória FC por parte
de outras sociedades

PAULO GOMES
Presidente do
V. Setúbal

RICARDO RIBEIRO
Ex-guarda-redes do P. Ferreira

O Benfica não é um negócio, um
projeto financeiro, uma infraestrutura
ou um entreposto de jogadores (...).
Atual Benfica é dos negócios obscuros,
processos judiciais e falta de resultados
RUI GOMES DA SILVA
Candidato à presidência do Benfica
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