A Bola - 20200802

(PepeLegal) #1

24 A BOLA


Domingo
2 de agosto de 2020
FUTEBOL jANÁLISE

O dom universal


Obra inacabada de Matarazzo


em exposição na Bundesliga


Histórico Estugarda
regressa à liga alemã
um ano depois de ter
descido. A obra tem seis
meses e é da autoria de
Pellegrino Matarazzo

Pedri, ‘novo Iniesta’


no Camp Nou


P


LAYMAKER pelo lado esquerdo, o
jovem médio que custou cinco
milhões de euros ao Barcelona foi
uma das figuras do Las Palmas na última
temporada, com três golos e sete
assistências em 35 encontros na La Liga


  1. É através de incursões pelos terrenos
    interiores e entre linhas que provoca
    desequilíbrios, sempre com um excelente
    controlo de bola, visão apurada,
    constantemente à procura do último
    passe, e fantástica resistência à pressão.
    Tem apenas 17 anos, e um físico que
    naturalmente ainda não é o ideal, mas
    não recusa tarefas defensivas, sobretudo
    no pressing sobre a construção do
    adversário. Resta saber se será já aposta
    dos culés na próxima temporada.
    Entretanto, vão comparando-o a Iniesta.


[email protected]


Por
LUÍS MATEUS

PROMESSA POR CUMPRIR

Pedri foi figura do Las Palmas na La Liga 2

LAS PALMAS

Gravenberch,


‘Pogba holandês’


N


ÃO é um desconhecido. Desde
dezembro que se divide entre a
equipa principal e a de sub-21 do
Ajax, que participa na segunda divisão
holandesa. Entre os maiores, em 11
encontros (somando o realizado na Taça
e mais um na Liga Europa) marcou três
golos e fez uma assistência, e só em
maio completou os 18 anos. Com 1,90
metros de altura e um estilo muito
técnico, bastante parecido com o do
francês, não falta quem o compare a Paul
Pogba, com quem partilha também o
empresário, o sempre controverso Mino
Raiola. Espera-se a afirmação a curto
prazo no conjunto de Amesterdão e,
posteriormente, voos ainda maiores. É,
sem dúvida, um 8 com enorme margem
de progressão.

TALENTO PERIFÉRICO

Gravenberch é uma das novas joias do Ajax

AJAX

KEVIN DE BRUYNE


S


ERÁ que a Liga dos Campeões iria
proporcionar um Bola de Ouro que
não Lionel Messi ou Cristiano
Ronaldo, reféns de equipas a atravessar
momentos mais cinzentos por razões
diversas? Não saberemos. O que
sabemos é que a France Football anulou
a atribuição e, com isso, as hipóteses
crescentes de dois outsiders, Robert
Lewandowski e Kevin de Bruyne,
grandes figuras de dois dos maiores
candidatos à conquista do troféu, casos
de Bayern e Manchester City. Entre o


matador polaco e o playmaker belga
fico-me pelo último, a grande fonte de
inspiração dos citizens, com, pasme-se,
136 oportunidades de golo criadas, 20
assistências concretizadas e ainda 711
passes completados no último terço do
terreno. Nestes três parâmetros não
houve melhor na Premier League, tendo
ainda marcado 13 golos (15.º melhor
marcador) e completado 75
cruzamentos, o segundo melhor registo
da prova. Foi uma temporada brilhante a
nível individual, que não teve

correspondência coletivamente nas
competições internas. No entanto, a
verdade é que o troféu que realmente
falta ao Manchester City é o da Liga dos
Campeões. Esta época deu já meio passo
ao bater o crónico vencedor Real Madrid
na primeira mão dos oitavos de final,
faltando-lhe receber os merengues e
ainda atirar-se ao que falta. De Bruyne
promete continuar a alimentar os
avançados com um futebol mágico e ao
alcance de muitos poucos. Kevin, the
menace, é ameaça constante.

Um ‘Bola de Ouro’ sem ‘caneco’


Manchester City

Figura da semana


(^) j
VFB STUTTGART
Pellegrino Matarazzo teve seis meses para construir um candidato à promoção
JUSTIN TALLIS/AFP
Internacional
De Bruyne
assinou
mais uma
temporada
espantosa, em
que criou 136
oportunidades
de golo


E


M dezembro, pediram
duas coisas ao ítalo-ame-
ricano que substituía Tim
Walter no banco do Estu-
garda. Levar o clube de
volta à Bundesliga e, pelo cami-
nho, apostar na juventude. Ma-
tarazzo cumpriu. O trabalho de
seis meses, com pandemia pelo
meio — obviamente limitativa para
quem necessita trabalhar situa-
ções práticas ao pormenor —, che-
gou para garantir o segundo lugar,
a dez pontos do Arminia Bielefeld
e três acima do Heidenheim. Jo-
vens como Silas, Mangala, Gonzá-
lez e Kobel tornaram-se também
fundamentais. A obra, embora
inacabada, vai mesmo estar em
exposição ao lado dos maiores
conjuntos germânicos.
O Estugarda foi desde dezem-
bro uma equipa em evolução e isso
nota-se nos esquemas usados:
3x4x2x1 no início; depois 4x1x4x1
e 4x3x3, sobretudo diante de equi-
pas mais fortes, que sabiam ex-
plorar o adiantamento dos alas; e
nas últimas partidas de novo o re-


gresso ao 3x4x2x1, já com os mo-
vimentos de contrapressão mais
definidos e fluidos, a existência
de maior confiança na tomada de
decisão no passe de risco e ainda
um posicionamento menos está-
tico entre linhas. É com este sis-
tema que Matarazzo atinge a maior
consistência, não só pelo melhor
posicionamento para a constru-
ção apoiada, mas também para a

reação à perda. Faltar-lhe-á, no
futuro, acrescentar paciência na
construção, inteligência para
aproveitar os espaços criados pela
sobrecarga de uma determinada
parcela de terreno, sobretudo com
bolas diagonais para o espaço va-
zio, e também reconstruir-se a
partir da contrapressão, a fim de
ser capaz de ferir os rivais assim
que recupera a bola.

Em posse, destaca-se a impor-
tância de Endo. O japonês, que
sem bola empresta agressividade e
determinação à disputa dos lances,
associa-se à construção para ser
ele a disparar o passe vertical que
a aproxima do assalto à baliza con-
trária. O Estugarda alterna este pa-
drão com um outro, de longas bo-
las diagonais que têm Silas, bem
colado à linha lateral, como alvo.
Como Kaminski, Badstuber e
Kempf são esquerdinos torna-se
mais fácil servir quem está à direi-
ta, beneficiando o jovem congolês,
muito mais perigoso quando re-
cebe com espaço do que quando é
obrigado a baixar para apoiar a
construção. Somam-se trocas po-
sicionais momentâneas, elabora-
das para confundir os adversários
e surpreendê-los de imediato. Por
exemplo, o médio centro esquer-
do Klement pode baixar, arras-
tando a marcação, para abrir o ca-
minho para o argentino Nicolás
González atacar a profundidade.
O extremo, jogando por vezes mais
recuado como ala, foi o mesmo o
melhor marcador da equipa com 14
golos, fruto da excelente capacida-
de técnica e apetência para pisar
terrenos interiores.
Na Bundesliga, a exigência vai
disparar, e há processos que pre-
cisam de consolidação. É necessá-
rio tempo para que Matarazzo
complete o desenho da obra-pri-
ma, que já não terá o retirado Ma-
rio Gómez, depois de ajudar com
sete golos e uma assistência na pro-
moção do clube em que se formou.
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