A Bola - 20200806

(PepeLegal) #1

A BOLA


Quinta-feira
6 de agosto de 2020


23


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INTERNACIONAL


Por
BRUNO HENRIQUES

LÍBANO


SUÍÇA


João Carlos


Pereira no


Grasshopper


João Carlos Pereira será o treinador do
Grasshopper em 2020/2021. O treinador
português, 55 anos, substituirá o romeno
Zoltan Kadar, que assegurara o comando
da equipa após a saída do suíço Ulrich Forte.
O último projeto de João Carlos Pereira fora
a Académica. Entrou na equipa de Coimbra
no final de novembro de 2019, quando os
estudantes estavam na 15.ª posição só com
nove pontos em 11 jornadas. Quando a
pandemia interrompeu (sem regresso) a
Liga 2, a Académica estava no 7.º lugar com
35 pontos. João Carlos Pereira garantira,
pois, 26 pontos em 14 jornadas, média
pontual que daria para lutar pela subida de
divisão. O agora ex-treinador da Académica
tentará que o Grasshopper regresse à
Super Liga suíça, pois caiu para o segundo
escalão em 2018/2019. Na época passada,
os gafanhotos ficaram em 3.º lugar na
divisão secundária, falhando a subida por
apenas três pontos em 36 jogos. R. A.

jApós ter saído da Académica,
o português vai treinar o clube
suíço no segundo escalão

João Carlos Pereira, técnico de 55 anos

HÉLDER SANTOS

SMS


ARÁBIA SAUDITA. Na estreia ao
leme do Al Shabab (7.º), Pedro
Caixinha venceu 3-0 em casa do Al
Wahda, jogo da 23.ª ronda. O Al Nassr
(2.º), de Rui Vitória, perdeu 1-4 na
receção ao líder Al Hilal.
JOÃO FÉLIX. Presidente do Atl.
Madrid, Enrique Cerezo, defendeu o
avançado em entrevista à rádio
Marca: «É um enorme jogador. Não é
por valer 120 milhões que tem de
ganhar troféus no dia seguinte.»
ARSENAL. Clube vai despedir 55
funcionários devido a problemas
financeiros causados pela pandemia.
GUARÍN. Antigo médio colombiano
do FC Porto está de saída do Vasco
da Gama, depois de não se ter
apresentado no pós-confinamento,
por problemas pessoais. «Vamos
partir para a rescisão», disse
Alexandre Campello, líder do clube.
BALE. Galês não integra lista de 23
eleitos do Real Madrid para jogo de
amanhã com o Man. City. James
também é baixa por opção para
a 2.ª mão dos oitavos da Champions.

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Carlos Lomba na marina de Beirute, adjacente ao porto, que sofreu fortes danos com a explosão de terça-feira D. R.

«É estranho


pensar que eu


podia ter


estado no local


da explosão»


Carlos Lomba conversou com A BOLA sobre a passagem pelo Líbano


dAs visitas a Beirute, agora destruída d«Voltava a ir, sem problema»


C


OM 28 anos, Carlos Lom-
ba decidiu dar um salto no
desconhecido e prosseguir
a carreira de futebolista no
Líbano, país na ordem do
dia após as explosões de anteontem.
Formado no SC Braga, o defesa-cen-
tral aceitou o convite do Akha-Ahly
(quarto classificado do campeona-
to) e iniciou a primeira experiência
no estrangeiro, concluída em de-
zembro de 2019 de forma abrupta.
«Eu sempre tive o objetivo de jo-
gar no estrangeiro, num sítio onde
me valorizasse e essa oportunidade
surgiu no Líbano. Obviamente que
os meus familiares e amigos tive-
ram uma reação estranha quando
disse para onde ia, porque cá só che-
gam as coisas más dos países do Mé-
dio Oriente, as guerras e os confli-
tos religiosos, mas fui à descoberta»,
revelou ontem a A BOLA.
Um Líbano que está agora de-
baixo dos holofotes depois de uma
explosão no porto de Beirute, na
terça-feira, que, segundo os núme-
ros mais recentes do ministério da
Saúde daquele país, vitimou 135
pessoas e deixou feridas mais de
cinco mil.
«Eu vivia em Ahley, uma cidade
a 20 minutos de Beirute, numa zona
montanhosa. Da minha casa, que
ainda era a uns 15 quilómetros, tinha
vista para o sítio exato onde a tragé-
dia aconteceu. Custa muito ver as
imagens. Eu fazia grande parte da
minha vida em Beirute e o que vejo
na televisão são ruas familiares, onde
estive, em que tenho memórias e
momentos. É estranho pensar que eu
podia ter estado no local da explo-
são. Felizmente, nada aconteceu aos
meus colegas, mas com o país mer-
gulhado numa crise, a pandemia de
Covid-19 e agora isto... Parece-me
que foi o xeque-mate, não sei como
se vão levantar», desabafou, fazen-
do um retrato da zona portuária, a
mais afetada pela explosão: «Era
muito desenvolvida, perto da praia,


onde estavam as melhores moradias
e as lojas mais caras, ao nível de uma
qualquer grande cidade europeia.»
Assumindo o choque cultural que
sentiu no início, Carlos Lomba frisa
que nunca se sentiu inseguro. Isto

apesar de ter assistido ao despertar
de uma revolução durante a passa-
gem pelo Líbano.
«Estive lá quando começou a fa-
mosa revolução do Whatsapp [Os
protestos tiveram início em outubro

de 2019 depois do governo libanês ter
anunciado a intenção de taxar as con-
versações realizadas pela aplicação],
mas nunca me senti inseguro. Os
meus pais e amigos estavam sem-
pre muito preocupados, mas eu
sempre passei uma imagem de se-
gurança, porque a realidade é que
nunca senti que iria ser uma revo-
lução armada. As pessoas simples-
mente estavam descontentes com
a qualidade de vida e resolveram
parar o país», explicou, revelando
ainda que esse foi um dos motivos
que o levaram a deixar o Akha-
-Ahly em dezembro passado: «O
país entrou numa crise severa e o
desporto acabou por parar, o cam-
peonato foi encerrado. Motivos que
me levaram a rescindir o contrato
e regressar.»
Ainda assim, deixou alguns elo-
gios ao futebol libanês e sublinhou
a vontade de começar um projeto no
estrangeiro.
«Tenho pena pela forma como
acabou, porque sinto que estava a
deixar a minha marca e as pessoas
já me começavam a conhecer. O
futebol libanês tem bons jogadores
em termos técnicos e físicos, mas
depois falham no entendimento do
jogo, por isso um jogador português
acaba por se destacar sempre com
a cultura tática que tem. Foi uma
experiência incrível, com pessoas
muito amáveis e voltava a ir, sem
qualquer problema. Agora continuo
a analisar propostas, à espera que
surja a melhor. Gostaria de voltar a
jogar no estrangeiro, mas, com a si-
tuação da pandemia, não descarto
um regresso a Portugal, para um
projeto ambicioso», concluiu.

Num país com uma «cultura dife-
rente», Carlos Lomba assume algumas
situações caricatas, a começar pela ri-
gidez de horários para as orações de al-
guns colegas muçulmanos. «Os treinos
nunca eram marcados para as horas das
orações, mas lembro-me de um jogo
fora em estávamos a voltar no auto-
carro da equipa e tivemos que parar em
plena autoestrada para eles fazerem as
orações, ali no meio», disse, estranhan-
do ainda a falta de cultura de balneário:

As orações no meio da estrada


«Chegam ao estádio equipados, vão
para o relvado, treinam-se e vão embo-
ra. Foi estranho para mim.»
Outra das situações que demorou a
interiorizar foi a questão dos cumpri-
mentos. «É diferente de nós. As mu-
lheres é com um aperto de mão e os ho-
mens é com dois beijinhos. Estranhei
aqui, mas depois lá me habituei e entrei
na cena de encostar a cara aos homens.
No final, já brincavam comigo e diziam
À conversa com o antigo treinador que era libanês», recordou.

AKHA-AHLY/FACEBOOK

AKHA-AHLY/FACEBOOK

Num treino do Akha-Ahly (ao centro), clube que representou até dezembro de 2019
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