Valor - Eu & Fim de Semana - Edição 1028 (2020-08-21)

(Antfer) #1

32 | Valor| Sexta-feira,21deagostode2020


TECNOLOGIA


Audiovisual elabora técnicas na pandemia


“TheMandalorian”, da


Disney, apresenta


possibilidades quetornam


setdefilmagemlocal


seguro para profissionais.


PorElaineGuerini, para


o Valor,de São Paulo


DIVULGAÇÃO

PaineldeLEDusadonaVirtualProduction,noBrasil,permitediminuiro número depessoasdurantea filmagemdeumacena

C

omorodar umacena am-
bientadaem um restaurante
lotadode pessoasdurante a
pandemia?Umatecnologia
empregada em “TheMandalorian”,
série da Disneyque expandeouniver-
sode“StarWars”,apontaumcaminho
pararesolveraquestãodo cenário.É
nissoque algunsprofissionaisde efei-
tos especiaisdo mercadode audiovi-
sual brasileiroapostam,apresentan-
do a inovaçãocomouma saídapara a
produçãoser retomadacom seguran-
çaemtemposdecovid-19.
Já é possível que cenários de compu-
taçãográficasejamgeradosno set en-
quantoacenaérodada. Painéis de LED
de alta definição instaladosno estúdio
projetam as imagens do ambiente em
que os atores estariam inseridos(por
exemplo, no restaurantelotado). A
ideianasceupara que o elenco de “The
Mandalorian” pudesse ver a topografia
de “Star Wars” e se sentir integradoao
cenário digital, chegando auma inter-
pretaçãomaisconvincente.
Antesdasérie, que éuma atração do
Disney +, serviço de “streaming”da Dis-
ney comprevisão de chegarao Brasil
em novembro,atécnicamais popular
era a do “chromakey”. Nesta técnica, o
trabalhodosatoreséregistradoemam-
biente de fundoverde(ou azul),para
queacorsejaanuladanapós-produção
eocenário sejasubstituídopor outra
imagem,estáticaouemmovimento.
Avantagem da novatecnologiaéo
fato de o cenáriocarregadono compu-
tadorse comunicarcom acâmera,ao
incorporar software de videogame.
Quandoacâmerase movimentano
set, todaa visualização responde de
acordo e imediatamente.
Oprincípioéomesmodovideogame,


em que ousuário controla o jogo com o
joystick. Tambéméassimna realidade
virtual,ondeoespectadorusaóculoses-
peciais.Esse mecanismo é possível gra-
ças ao “real time engine”, um motorem
temporeal que permite movimentos
com fluidez no espaçovirtual, seguindo
ouolhandoparaqualquerdireção.
“Essatecnologia, que estamoscha-
mandoaqui de VirtualProduction, po-
de ser muitoútil do pontode vistada
produção, por diminuiro númerode
pessoasna cena”, dizMarceloSiqueira,
produtor e supervisorde efeitos visuais
da Mistika. Atualmente,a empresade-
senvolve ainovação em parceria com a
Weezze, especializadaem realidade vir-
tual, para um projetode filme da pro-
dutoraCoraçãodaSelva.
“O controledo painelde LED podeser
feito de sala separadano estúdioou de
qualqueroutrolocal,poroperaçãoremo-
ta.Issodiminuitambémonúmerodetéc-
nicosno set”, afirma Siqueira.Opainel
usadopeloprodutorno momento, de
140 m^2 ,émenosimpactanteque ode
“TheMandalorian”, instaladoem palco
circular, com 6m de alturae 23m de diâ-
metrodesenvolvidopela IndustrialLight
& Magic.“Maspodemosfazerum painel
maior,dependendodanecessidade.”
O diretor Ricardo Laganaro, um dos

pioneiros em realidade virtual no Bra-
sil, foi convidado para apresentar a tec-
nologia em eventoda AssociaçãoBra-
sileira de Cinematografia(ABC).ASe-
manaABC teve adata transferida de 5
e 9de maiopara 13 e 16 de outubro
em funçãoda pandemia de covid-19.
“Quem é da área já sabia que o futuro
dos efeitos especiaiseda animaçãoera
o‘real time render’.”
Laganaro se refere à“renderização”
(o processamentode todosos dados
que a cena em 3D contém), com cálcu-
lo feito em temporeal, assimque ace-
na começa—como acontece no video-
game.“A tecnologia só não era muito
exploradaantesporqueaqualidade
gráfica não era tão boa. Mas, no último
ano,os motores em temporeal já al-
cançaramum nívelde fotorrealismo
cinematográfico”, afirma.
Mas produzir os cenários virtual-
mentenão encarece aprodução?“Para
ambientestriviais,sim.Aindaémaisba-
rato rodar cena em umacasa comum
em locação do que construi-laem com-
putação gráfica.Aquestão é que esta-
mos enfrentandoumapandemia”, diz
Laganaro.Odiretor lembra quetodos
os protocolos de segurança exigidos
hojeem um set encarecem aprodução
(de 30% a40%) —não só pelas medidas

de higiene, mas também por exigir um
número maiorde diárias de filmagem
dos profissionais, por trabalhar com
equipemenor, fazendo a produçãole-
var maistempo. “Aítalvez saia maisem
contaumcenáriodecomputação.”
Embora a Virtual Production seja
umanovidadeno mercado brasileiro,
Paulo Barcellos, diretor da O2 Pós, con-
ta que um mecanismo parecido já é
empregado. “Usamos painéis de LED
em cena de atoresdentrodocarro,por
exemplo. As imagensdas ruas,por on-
de o veículo estaria passando, são fil-
madasseparadamenteeprojetadas na
horade rodar. Oque o recurso ganha
agora é umasofisticação, por poder-
mos mexera câmerae termos os ajus-
tes automáticos de imagem.”
Vários projetos de filmes e sériesde
TV da O2 Filmes terãoque ser readapta-
dos para eventualprodução durante a
pandemia,segundo Barcellos. Mesmo
comtodaatecnologia disponível, ele
entendeahesitação das equipes.“A his-
tóriapodeperderforçasesuascenasfo-
rem simplificadas pelo distanciamento
social. Quem querarriscar rodar uma
obra mais pobre dramaticamente,mais
cara emais demorada? Sem falarque
aindanãoencontramossaídaparacena
debeijoedeluta”, diz.■
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